A mortalidade dos golfinhos nas praias atlânticas de França está a atingir recordes. Os dados avançados pelo Observatório de Mamíferos e Aves Marinhas PELAGIS relatam que, entre 1 de Dezembro e 25 de Janeiro, 370 golfinhos mortos deram à costa no Golfo da Biscaia, entre a costa norte de Espanha e costa sudoeste de França. Os activistas apontam os ferimentos provocados por materiais de pesca como a grande causa destas mortes.
Segundo o The Guardian, o Observatório PELAGIS concluiu que a principal causa de morte nos golfinhos está relacionada com ferimentos causados pelas redes de pesca, cenário que se observa “desde a década de 90”.
A Ligue pour la Protection des Oiseaux (LPO), uma organização dedicada à protecção do ambiente, expôs 400 cartazes que representam os cadáveres dos cetáceos encontrados na costa atlântica francesa. As imagens foram divulgadas na place des Invalides, em Paris, no dia 22 de Fevereiro. A ONG quer pôr fim às técnicas de pesca nocivas para a vida selvagem.
Por causa do excesso de mortalidade destes animais, vários deputados franceses pediram ao governo para proibir durante um mês as pescas de arrasto em certas áreas. O relator público do conselho de estado francês indicou estar de acordo com esta imposição.
Sobre esta possibilidade, o presidente francês, Emmanuel Macron, diz que “é uma decisão do tribunal e que tem que ser respeitada”. Mas pede que se tenham também em conta os prejuízos que a pausa nas pescas pode trazer aos pescadores.
Imagens de um cetáceo mutilado com a frase “Sea Shepherd PD” (PD, abreviatura de Pédé, tem origem etimológica na palavra pederastia e é um termo homofóbico usado em França), publicadas no Twitter pelo grupo de conservação marinha Sea Shepherd France, trouxeram atenção pública para este fenómeno. Na legenda da publicação – de 26 de Fevereiro, na página do Twitter da organização – pode ler-se: “‘Sea Shepherd PD’ esculpido num golfinho com uma faca. E não é a primeira vez. É isto a pesca em França? A profissão precisa de corrigir o seu comportamento e o Estado precisa de levantar o clima de impunidade que reina no mar.”
No sábado, questionado pelo meio de comunicação online Vakita sobre estes episódios, Emmanuel Macron descreve o número de golfinhos mortos como “chocante”, mas reitera a necessidade de apoiar os pescadores que possam vir a ser afectados pelas suspensões.
Estima-se que as mortes de golfinhos possam chegar a 11 mil
Há um ano, entre meio de Dezembro de 2021 a início de Abril de 2022, foram encontrados 669 golfinhos na costa francesa. Lamya Essemlali, presidente do grupo de conservação Sea Shepherd France, acredita que estes números “são apenas a ponta do iceberg”, porque a grande maioria dos cetáceos apanhados pelas redes dos pescadores e libertados novamente “afoga-se no mar e os seus corpos afundam”.
As estimativas do Sea Sheperd sobre a verdadeira taxa de mortalidade destes animais na costa oeste de França indicam que as mortes podem chegar a 11 mil golfinhos, de uma população de entre 180 e 200 mil.
Para evitar o escalar destes números, o grupo de monitorização lança a operação Dolphin Bycatch , pelo sexto ano consecutivo, durante o auge das capturas, que vai desde o final de Janeiro até ao final do Inverno. Durante este período, os activistas vão passar “as noites no mar, ao lado dos golfinhos”, para evitar que estes morram, e para colocar “sob os holofotes” o drama “que se desenrola longe dos olhos”, segundo o site da organização.
Lamya Essemlali ressalva que não quer “acabar com toda a pesca”, afirmando que o objectivo é a proibição "apenas em certas zonas e por períodos específicos", compensando financeiramente os pescadores por não pescarem em zonas fechadas.
Liderados por Nicolas Thierry, membro da Assembleia Nacional Constituinte da França pelo partido Europa Ecologia – Os Verdes, 15 deputados exigiram a interrupção no Inverno dos métodos de pesca de arrastamento em zonas sensíveis.
Numa coluna publicada no Le Journal du dimanche, os deputados afirmam ainda que a escolha do governo, de “adoptar medidas para documentar o fenómeno e afastar os golfinhos com repelentes acústicos nas áreas de pesca”, não é suficiente. “O massacre continua, devemos ir mais longe.”