Estas pessoas não existem. Fotógrafo confessou usar inteligência artificial para criar retratos
Depois de ser acusado de fraude, Jos Avery veio esclarecer que os retratos intimistas que partilha no Instagram são, na verdade, feitos com inteligência artificial — e não captados com uma câmara.
Retratos intimistas, a preto e branco, que contam histórias de pessoas anónimas: Bruce, o velho que vagueia sozinho pela cidade, Sarah, a jovem de 16 anos que escapa pela janela para ir dançar, Natasha, uma refugiada ucraniana a viver nos Estados Unidos. Foi assim que Jos Avery conquistou mais de 30 mil seguidores no Instagram. Mas as fotos são, afinal, retratos gerados com recurso a inteligência artificial.
Desde Outubro último, o número de seguidores do artista “explodiu”, mas “provavelmente mais de 95%” deles não perceberam que as imagens não retratavam pessoas reais, disse Avery à Ars Technica. Até porque quando lhe perguntavam, Jos Avery era vago sobre como criava as imagens, tendo até dito que usava uma Nikon D810 para captar os retratos. “Gostava de esclarecer as coisas”, disse, finalmente.
À mesma revista confessou, então, que recorria ao Midjourney, um programa de inteligência artificial que gera retratos com base em descrições e depois fazia retoques no Photoshop. O Midjourney sintetiza imagens com recurso a milhões de exemplos de obras de arte de diversos artistas.
“Estou, honestamente, em conflito interno. O meu objectivo principal era enganar as pessoas com inteligência artificial e, posteriormente, escrever um artigo sobre isso. Mas agora tornou-se num trabalho artístico. A minha visão mudou”, disse, citado no mesmo texto.
Avery defendeu-se ainda apontando que quando “as pessoas usam maquilhagem nas fotos” também não o revelam. “Todas as publicações com fotografias de moda têm uma grande dose de Photoshop, incluindo a substituição de corpos nas capas das revistas”, atirou.
Sobre o processo de criação das imagens, Avery explicou que gera milhares de imagens com o Midjourney e depois combina as melhores partes de múltiplas imagens. Quando falou com a Ars Technica tinha 160 publicações no Instagram (actualmente são 180) — e diz ter gerado 13723 imagens. “É um esforço enorme usar elementos gerados com inteligência artificial e criar algo que pareça ter sido captado por um fotógrafo. O processo criativo ainda recai nas mãos do artista ou fotógrafo, não do computador.”
Jos Avery tem, agora, na biografia da conta de Instagram uma referência à inteligência artificial e incluiu o aviso “ficcional” nas descrições das fotografias. Mas alguns seguidores continuam a sentir-se defraudados: “Bom trabalho. Mas percorrer as tuas publicações faz parecer que estás propositadamente a enganar pessoas desde o início. Devias mostrar, pelo menos com hashtags, que estas imagens são geradas com recurso a inteligência artificial”, comentou um seguidor. “Porque usas (ou roubas) trabalho fotográfico de outros sem lhes dares créditos? Pelo menos faz as coisas da forma certa”, escreveu outro.