Polícia detém três suspeitos de tráfico humano pelo naufrágio ao largo de Itália

Autoridades italianas contabilizam 80 sobreviventes e 64 vítimas mortais, 14 das quais crianças, na sequência do naufrágio de domingo.

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Equipas de resgate prosseguem buscas na praia de Steccato di Cutro Reuters/REMO CASILLI

As autoridades italianas detiveram esta terça-feira três pessoas suspeitas de traficar até 200 migrantes no barco de madeira que naufragou no domingo, ao largo da praia de Steccato di Cutro, perto de Crotone, região de Calábria. Até ao momento foram contabilizados 64 mortos, 14 dos quais crianças, e as equipas de resgate continuam as buscas por mais vítimas.

Os caixões foram transportados para o pavilhão da cidade de Crotone, onde as famílias enlutadas identificam as vítimas. Em declarações à Reuters, as equipas de resgate revelaram que a maioria dos migrantes é proveniente do Afeganistão, Paquistão, Irão, Somália e Síria.

A psicóloga Mara Eliana Tunno, dos Médicos Sem Fronteiras, salienta que entre os sobreviventes "todos perderam alguém". Um rapaz de 12 anos perdeu toda a família; outro, de 16 anos, afegão, perdeu a irmã, e "não teve coragem para contar aos pais".

Os suspeitos, de nacionalidade paquistanesa e turca, foram identificados pelos sobreviventes como "os principais responsáveis" pela viagem entre a Turquia e Itália, que aconteceu debaixo de "terríveis condições meteorológicas", relatou o tenente-coronel Alberto Lippolis. As investigações iniciais permitem concluir que cada migrante foi obrigado a pagar "cerca de oito mil euros pela viagem mortal", referiu.

Contactada pela Reuters, fonte judicial revelou que um dos detidos é menor. As autoridades procuram ainda por um quarto suspeito, de nacionalidade turca.

Trauma e debate político

A tragédia na região de Calábria reforçou o debate em Itália e na Europa sobre a imigração.

As novas leis contra as organizações envolvidas no resgate de migrantes aprovadas pelo governo de direita de Giorgia Meloni provocaram críticas das Nações Unidas e outras entidades. A primeira-ministra italiana referiu, na segunda-feira, em entrevista à televisão pública RAI, que havia escrito às instituições da União Europeia, a fim de apelar à interrupção das viagens de migrantes e, assim, prevenir mais mortes.

Alguns elementos do partido Verde organizaram, esta terça-feira, uma acção de protesto em frente ao gabinete de Giorgia Meloni com o objectivo de questionar as falhas do resgate, uma vez que o barco havia sido identificado durante a noite de sábado. A polícia esclareceu que foram enviados barcos para interceptar os migrantes, mas que as más condições meteorológicas obrigaram-nos a regressar ao porto.