Israel: pedida investigação a ministro das Finanças e dois deputados por “instigarem a crimes de guerra”

Numa carta escrita à procuradora-geral, 22 especialistas em direito internacional afirmam que devia ser aberta uma investigação aos três políticos da coligação de governo.

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Dezenas de casas e ainda mais carros foram incendiados no domingo em Hawara por colonos, que atacaram também residentes, matando um a tiro AMMAR AWAD/Reuters

Declarações de três políticos israelitas, o ministro das Finanças e dois deputados de um partido na coligação no Governo, são motivo para abrir, de imediato, uma investigação por “instigarem a crimes de guerra”, segundo uma carta de 22 peritos em direito internacional de Israel citada pelo diário liberal Haaretz.

Na carta, os académicos referem-se a declarações feitas após acontecimentos de domingo. Dois irmãos de um colonato judaico na Cisjordânia, de 19 e 21 anos, foram mortos por um atacante palestiniano, que fugiu (continuam a decorrer buscas levadas a cabo pelo Exército para o encontrar).

Mais tarde, cerca de 400 colonos entraram na localidade palestiniana de Hawara, na zona de Nablus, perto do colonato das vítimas do ataque palestiniano e, durante cerca de cinco horas, incendiaram dezenas de casas, e ainda mais carros, e agrediram habitantes, matando mesmo um palestiniano a tiro.

Uma das acções do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que tem também uma pasta no ministério da Defesa com a responsabilidade da administração civil da Cisjordânia, foi “gostar” de um tweet de um responsável do conselho dos colonos da Samaria, Davidi Ben Zion, dizendo que “Hawara deve ser destruída hoje”. Ben Zion apagou a mensagem na rede social depois da entrada de colonos em Hawara.

Já a deputada Limor Son Har-Melech foi mesmo a Hawara, no domingo à noite, para “apoiar as exigências justas” dos colonos que “pedem segurança”.

E finalmente, na segunda-feira, Zvi Fogel disse que queria ver “Hawara fechada e queimada” e justificou “queimar aldeias onde as IDF [Forças de Defesa de Israel] não ajam.”

“Todos estes comentários implicam apoio antecipado [nos casos de Ben Zion e Smotrich], apoio em tempo real [Son Har-Melech] ou justificação após o facto [Fogel], e equivalem a encorajamento para que sejam cometidos ataques semelhantes no futuro”, disseram os especialistas na carta.

Os comentários dos políticos, todos de dois partidos nacionalistas, xenófobos e extremistas que concorreram às últimas eleições na aliança Sionismo Religioso, poderão mesmo “elevar-se ao nível de responsabilidade por crimes de guerra se forem traduzidos em acções, e de qualquer modo, já levaram a um aumento de violações da lei israelita, como incitamento a violência e racismo”.

A carta dos especialistas (que o diário, na sua edição em inglês, não nomeia) apela à procuradora-geral, Gali Baharav-Miara, que abra de imediato uma investigação, e pede ainda que os responsáveis pelos actos em Hawara sejam “detidos e acusados de imediato e que o caso seja tratado com a mesma severidade que os actos terroristas por palestinianos, todos sujeitos à lei humanitária internacional e de acordo com o direito internacional”.

Dos colonos que tinham entretanto sido detidos por ligação à violência em Hawara, cinco estão em liberdade, e três foram postos em prisão domiciliária, segundo o diário Times of Israel.

EUA esperam acção

De fora de Israel vieram condenações e apelos a que os autores sejam responsabilizados.

Um porta-voz do Departamento de Estado diz que os Estados Unidos “esperam” que os envolvidos nos ataques em Hawara sejam encontrados e acusados. Por outro lado, o porta-voz agradeceu ao Presidente, Isaac Herzog, e ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, pelo apelo feito aos civis para não tentarem “fazer justiça pelas próprias mãos”, diz também o Times of Israel.

Da comunidade judaica norte-americana surgem críticas à acção e até ao uso da expressão “justiça pelas próprias mãos”: “Um ataque a uma aldeia não merece ser classificado como ‘justiça pelas próprias mãos’. Isto não é justiça, isto é fúria indisciplinada e aleatória”, comentou o rabino Moshe Hauer, vice-presidente executivo da União Ortodoxa.

“Como é que pode acontecer uma coisa destas? Como é possível chegar-se a este ponto, que jovens judeus queimem e destruam casas e carros?”, escreveu Hauer numa publicação na página da organização.

“Podemos compreender a profunda angústia perante o assassínio terrível de jovens e queridos amigos. Podemos perceber a frustração com os ataques que estão a decorrer contra judeus e a falta de uma resposta decisiva e eficaz do exército”, escreveu o rabino. “Mas não podemos compreender ou aceitar isto.”

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