Duas moções, a mesma ideia: BE tem de se aliar aos movimentos sociais

Tanto a moção dos dirigentes como a dos opositores internos do Bloco defendem o reforço da articulação do partido com as lutas sociais.

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Manifestação do Movimento Vida Justa para contestar a inflação, os baixos salários e os preços da habitação Ricardo Lopes

Duas moções vão a votos na próxima convenção nacional do Bloco de Esquerda (BE), em Maio: a moção A, subscrita pela maioria dos dirigentes do partido e encabeçada pela deputada Mariana Mortágua, e a moção E, subscrita pela oposição interna e que tem como um dos porta-vozes o ex-parlamentar Pedro Soares. Embora com várias divergências, num ponto os dois convergem: é preciso apostar na luta de rua junto dos movimentos sociais face à maioria absoluta do PS.

A tese já tem sido defendida pela esquerda em geral e o Bloco em particular, que considera que perante a falta de resposta deste Governo face ao aumento do custo de vida, a contestação popular irá aumentar, já se fazendo sentir com, por exemplo, as greves dos professores.

Agora, dirigentes e opositores traduzem a ideia para as moções à liderança do partido e garantem que estarão empenhados tanto em apoiar como em incentivar as lutas sociais. Ganhe quem ganhar — sendo que a moção da direcção deverá sair vencedora —, o futuro dos bloquistas está traçado.

A moção liderada por Mortágua defende, logo na abertura, que a "solução" para "a maioria absoluta do PS" e a "situação mundial" se faz "na proposta da esquerda e na ligação das lutas". "Sob a maioria absoluta, qualquer conquista sairá da intensificação da luta social", declaram os dirigentes, garantindo que a força do Bloco virá "das mobilizações cidadãs por justiça social".

São estas: "As grandes manifestações de imigrantes e os protestos anti-racistas", "a crescente mobilização social" que "defende o direito à habitação", "o movimento internacional por justiça climática", as "lutas em defesa do bem-estar animal", "a luta dos professores" e "pelo SNS", as "marchas LGBTQI+" ou ainda as mobilizações das "novas gerações de feministas".

"O Bloco de Esquerda compromete-se com estes movimentos" e "empenha-se na elevação da luta pelos serviços públicos através de mobilizações populares transversais", garante a actual direcção no documento a que o PÚBLICO teve acesso.

Pedindo uma "nova liderança social no país", os dirigentes asseguram ainda que o "papel do activismo bloquista é o esforço sistemático para que todos estes e outros movimentos se reforcem, desenvolvam estruturas permanentes e solidariedades".

Já sobre os sindicatos, que têm vindo a perder adesão por parte da população, assumem "a responsabilidade de ser" um "promotor do direito da sindicalização".

Convergência quer "sistema de alianças"

Na moção dos críticos, subscrita pelo movimento Convergência, refere-se igualmente que a construção de uma alternativa de esquerda, além de passar pelo "combate à maioria absoluta do PS", dependerá de um "sistema de alianças" e da "mobilização social para múltiplas lutas no espaço público".

A ala crítica considera que são "as lutas laborais, sociais e ambientais em articulação com os vários movimentos" que permitem a "mudança política" e, como tal, defende que se deve "favorecer a multiplicação de redes de activismo e sindicalismo".

"Os movimentos sociais desempenham um papel essencial e estratégico nas mudanças necessárias na sociedade, na economia, no ambiente, no combate aos conservadorismos, à fascização, à extrema-direita, na luta pelos direitos de género, LGBTQI+, anti-racista e anticoloniais", lê-se no documento, em que os militantes defendem a "autonomia" destes movimentos e "o surgimento de novas dinâmicas sociais".

Dando ênfase ao movimento laboral, os críticos advogam ainda que o Bloco deve ter uma relação "solidária e esclarecida" com o mesmo, sugerindo que o partido invista na "aproximação, formação e organização de quantos queiram sindicatos com democracia e de combate".

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