EUA reforçam avisos contra envio de armas chinesas para a Rússia

“Se o Governo de Pequim seguir esse caminho, isso terá custos reais para a China”, disse o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan.

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Soldados ucranianos lançam ataque contra posições russas no Leste da Ucrânia EPA/OLEG PETRASYUK

Os Estados Unidos alertaram a China contra o fornecimento de armas à Rússia em apoio da invasão da Ucrânia, numa altura em que o principal general das tropas de Kiev visitava a cidade de Bakhmut, na linha de frente, onde os ucranianos continuam a resistir a ataques constantes.

Sirenes de ataque aéreo soaram na capital e em outras cidades durante a noite, e um ataque com um míssil russo matou pelo menos uma pessoa em Khmelnitskyi, na parte ocidental do país, disse o presidente da câmara da cidade, Oleksandr Symshyshyn, na aplicação de mensagens Telegram.

Washington e os seus aliados da NATO estão a tentar dissuadir a China de fornecer ajuda militar à invasão de Moscovo, ao comentarem em público a hipótese de Pequim admitir fornecer equipamentos letais, incluindo drones.

Os receios ocidentais de que a China ajude a armar a Rússia surgem enquanto as forças de Moscovo lutam para obter ganhos em torno de objetivos importantes no Leste da Ucrânia, e enquanto Kiev prepara uma contra-ofensiva com armas ocidentais avançadas, incluindo carros de combate.

"Pequim terá de tomar as suas próprias decisões sobre como proceder, incluindo sobre se fornecerá assistência militar; mas, se seguir esse caminho, isso terá custos reais para a China", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, na CNN.

Embora a China não tenha avançado no fornecimento dessa ajuda, também não retirou essa opção da mesa, disse Sullivan numa outra entrevista, ao canal ABC.

No sábado, numa reunião do G20 na Índia, o Governo chinês recusou-se a condenar o ataque de Moscovo à Ucrânia. Um dia antes, as autoridades chinesas tinham publicado uma proposta de cessar-fogo, mas esse documento foi recebido com cepticismo pelos aliados ocidentais da Ucrânia.

"Quando ouço relatos — e não sei se são verdadeiros — de que a China pode estar a planear fornecer drones kamikaze à Rússia e, ao mesmo tempo, propor um plano de paz, sugiro que julguemos a China pelas suas acções e não pelas suas palavras", disse o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, à emissora pública alemã Deutschlandfunk, no domingo.

O director da CIA, William Burns, disse que a agência de espionagem dos EUA "acredita que a liderança chinesa admite o fornecimento de equipamento letal".

"Também não vemos que uma decisão final tenha sido tomada, e não vemos provas de remessas reais de equipamentos letais", disse Burns numa entrevista ao canal CBS, no domingo.

O congressista republicano Michael McCaul, líder da Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes dos EUA, citou relatos de que os drones estavam entre as armas que a China admite enviar para a Rússia.

McCaul disse que o Presidente chinês, Xi Jinping, está a preparar-se para visitar Moscovo na próxima semana, para uma reunião com o Presidente russo, Vladimir Putin.

"Eles têm um objectivo: dissolver a antiga União Soviética e sua parte fundamental — a Federação Russa", disse Putin à televisão estatal Rossiya, numa entrevista gravada na última quarta-feira e transmitida no domingo.

A NATO e o Ocidente descartam essa narrativa, dizendo que o seu objectivo ao fornecer armas a Kiev é ajudar a Ucrânia a defender-se de um ataque não provocado.

Mesmo assim, o enquadramento de Putin da guerra como uma ameaça à existência da Rússia permite ao líder do Kremlin maior liberdade nos tipos de armas que o país pode vir a usar, incluindo armas nucleares.

Dmitry Medvedev, ex-Presidente da Rússia e aliado de Putin, disse que o fornecimento de armas ocidentais a Kiev representa o risco de uma catástrofe nuclear global.

General na linha da frente

O Exército ucraniano disse que derrubou 11 de 14 drones iranianos durante a noite de domingo, incluindo nove na região de Kiev.

Na linha de frente, o comandante das forças terrestres ucranianas, o general Oleksandr Syrskyi, visitou a cidade de Bakhmut, foco dos ataques da Rússia durante meses, enquanto tenta assumir o controlo da região industrial do Donbass.

As forças ucranianas lançaram uma série de contra-ataques e repeliram as forças russas ao redor de Yahidne, no fim-de-semana, depois de o grupo de mercenários Wagner ter anunciado a captura dessa localidade e também de Berkhivka.

O Ministério da Defesa da Rússia disse, no domingo, que suas forças destruíram "grupos de sabotagem e reconhecimento" ucranianos na área de Yahidne, enquanto a agência estatal russa TASS informou que as forças da Ucrânia fizeram explodir uma barragem o norte de Bakhmut. A Reuters não conseguiu verificar os relatórios de forma independente.

Demissão no topo

No domingo, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, demitiu Eduard Moskalyov do cargo de comandante das forças conjuntas nas batalhas no Donbass, sem avançar em público qualquer motivo.

Na vizinha Bielorrússia — um aliado russo e palco para as forças russas que atacam a Ucrânia —, guerrilheiros anti-regime e membros da oposição no exílio disseram que danificaram uma aeronave militar de vigilância russa A-50, num ataque com um drone perto de Minsk, no domingo.

A Reuters não conseguiu verificar os relatórios de forma independente e não houve resposta imediata dos ministérios da Defesa da Rússia e da Bielorrússia a um pedido de comentário.