Além das paralisações previstas na operação da CP entre esta segunda-feira e a próxima quinta-feira, a empresa diz que já recebeu um novo pré-aviso de greve por parte do sindicato dos maquinistas (SMAQ) “para o período compreendido entre os dias 10 e 17 de Março”. De acordo com fonte oficial da CP, prevê-se que, caso a greve avance, haja “fortes impactos no dia 10 [uma sexta-feira] e ligeiras perturbações nos restantes dias”.

Os maquinistas, por via do SMAQ, já estiveram em greve este mês, embora com diferentes termos, desde a paragem total até ao tempo de trabalho superior a 7h30. Este sindicato, tal como outros, está contra a proposta de aumento salarial apresentada pela gestão da empresa para o corrente ano.

No final de Janeiro, num comunicado do SMAQ, é referido que o melhor que a CP propunha era “um aumento global de 4% ou um aumento de 51 euros comum a todos os índices, o que representaria, neste caso, um aumento médio na carreira de 3,89%”.

“São claramente valores inaceitáveis face à inflação média registada em 2022, que foi de 7,8%”, referiu este sindicato, defendendo que a CP “e as tutelas ministeriais estão a propor na prática uma redução salarial”, e tal não pode ser aceite pelo SMAQ, que defende também melhores condições de trabalho.

Sem comboios além dos serviços mínimos

O tribunal arbitral definiu 25% de serviços mínimos para os quatro dias de greve que decorrem nesta semana, divididos em duas vertentes: a paralisação desta segunda-feira e de quarta-feira foi marcada por um conjunto de sindicatos ligados à CP, e a de terça e de quinta-feira foi marcada pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário​ (SNTSF), mas também por sindicatos da IP, o que fez incluir a Fertagus nas empresas afectadas (os comboios a realizar-se podem ser vistos no site da CP e na informação comunicada pela Fertagus).

Nesta segunda-feira, até às 18 horas, a greve marcada por um conjunto alargado de sindicatos, onde não se inclui o SMAQ, provocou a supressão de 751 dos 990 comboios previstos, o que equivale a 75,9% do total. De acordo com os dados da CP, realizaram-se apenas os 239 comboios previstos nos serviços mínimos, dos quais 114 nas linhas urbanas de Lisboa.

Durante a manhã, dezenas de trabalhadores da CP concentraram-se junto à estação de S. Bento, no Porto, para, conforme noticiou a Lusa, reivindicar “uma valorização real” dos seus salários.

Em declarações à Lusa, Rúben Silva, do Sindicato dos Trabalhadores do Metro e Ferroviário (STMEFE), uma das estruturas ligadas à greve, explicou que “houve uma actualização salarial de 3,4%, o que fica muito abaixo do anunciado pelo Governo, que eram os 5,1% para o sector empresarial do Estado”. Mesmo esses 5,1%, disse, são considerados “um valor muito baixo, tendo em conta a inflação”.

Em declarações ao PÚBLICO, fonte oficial da CP já afirmou que a empresa está “aberta ao diálogo e sensível às reivindicações” dos representantes dos trabalhadores.

“No que diz respeito à distribuição dos acréscimos retributivos disponibilizados pelo Governo, ainda que não tenha sido consensual, a CP foi até ao limite daquilo que foi possível”, defendeu fonte oficial da operadora ferroviária, referindo que teve em conta “as propostas de distribuição e a necessidade de fazer face ao aumento do salário mínimo nacional, aprovando e implementando já no processo de vencimentos de Fevereiro, com retroactividade a Janeiro de 2023, um aumento efectivo do valor do subsídio de refeição e o aumento escalonado por índices de retribuição-base”.

Entre as consequências destas greves está o recurso ao automóvel, ou, quando possível, ao teletrabalho. O PÚBLICO enviou questões às três plataformas que estão ligadas ao sector de TVDE em Portugal, Uber, Free Now e Bolt, sobre a evolução do negócio em determinados dias de greve. A Bolt respondeu, por via do seu responsável, Nuno Inácio, que a empresa registou um aumento geral na procura “nos passados dias 8 e 9", inferindo que esta foi "consequência da suspensão de actividades ferroviárias, resultado da greve dos trabalhadores da CP”.

“No entanto, não verificámos a mesma ocorrência no passado dia 14, e ainda não temos dados suficientes que permitam tirar conclusões relativas ao dia de hoje [segunda-feira]. No que toca à tarifa dinâmica, podemos afirmar que em nenhum dos dias registámos alterações significativas”, esclareceu o gestor.

Maior pressão a partir de Dezembro

A actual vaga de greves na CP começou em Maio do ano passado (antes disso realizou-se uma em Agosto de 2021) e intensificou-se a partir do final do ano, segundo as informações do Conselho Económico e Social (CES).

De acordo com os dados disponibilizados pela Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), em 2022 foram entregues 179 pré-avisos de greve ligados ao Sector Empresarial do Estado (SEE), mais quatro do que no ano anterior.

Numa análise a dez anos, verifica-se que o maior número de pré-avisos do SEE (alguns poderão ter sido alvo de acordo, inviabilizando a greve) ocorreu em 2012, o primeiro ano da intervenção da troika, com 421. Já o número mais baixo foi em 2020, com 120, ano em que ocorreu a pandemia de covid-19.