O VAR no futebol português em oito perguntas e respostas
A actuação do VAR em jogos do Benfica e do FC Porto voltou a estar na berlinda e Pinto da Costa pediu o fim do VAR. Faz sentido? É viável? Por que motivo se critica o VAR? E o que pode ser melhorado?
Depois das arbitragens no Vizela-Benfica e no FC Porto-Gil Vicente, Pinto da Costa, presidente do FC Porto, apelou neste domingo ao fim do videoárbitro (VAR), considerando que o clube portista tem sido prejudicado face aos rivais. “Acabem com o VAR”, disparou, numa tese distinta daquela defendida pelo especialista do PÚBLICO, Pedro Henriques.
Com a ferramenta introduzida em 2017 no futebol português, o VAR, a ver o jogo com recurso a dezenas de câmaras, pode chamar o árbitro de campo para corrigir decisões erradas. E quando não chama? E quando chama erradamente? E quando o árbitro recusa o “conselho” do VAR? Nesses casos, dão-se problemas.
Confira o panorama actual do VAR em Portugal, que problemas tem tido, que desafios enfrenta e que evoluções estão a ser “cozinhadas”.
O VAR elimina os erros?
Não. A premissa do VAR não é corrigir erros, mas sim corrigir "erros claros e óbvios". Decisões que as imagens comprovem, inequivocamente, serem erradas devem justificar acção do VAR, recomendando o árbitro de campo a corrigir a decisão ou, se assim entender, ir ver as imagens por si próprio, num monitor junto ao relvado, e decidir se mantém ou corrige a decisão inicial.
Ainda assim, a função de VAR é e continuará a ser desempenhada por uma pessoa – que está, portanto, sujeita a erros, mesmo tendo as imagens.
O VAR pode actuar em lances duvidosos?
Não. Sendo certo que o conceito de “erro claro e óbvio” não é objectivo – o “claro e óbvio” para uma pessoa pode não ser “claro e óbvio” para outra –, a ideia é que apenas decisões absolutamente erradas pressuponham a actuação do VAR.
É e continuará a ser esse o principal foco de polémicas: não é que o VAR não identifique erros, mas, muitas vezes, considera que não é um erro claro o suficiente para que possa corrigir o árbitro de campo. E todos vão para casa a saber que falharam uma decisão, mas impotentes para contornarem o protocolo do VAR.
O VAR pode reverter qualquer decisão errada?
Não. Além da premissa de “erro claro e óbvio”, o VAR só pode actuar em quatro áreas: pontapés de penálti (por exemplo infracções mal assinaladas ou por assinalar), cartões vermelhos directos (mal exibidos ou por exibir), situações de golo (por exemplo haver uma infracção antes de um golo) e erro de identificação de jogadores (o árbitro exibir um cartão ao jogador errado, por exemplo).
Quem pode ser VAR?
Neste momento, em Portugal, a função de VAR é desempenhada por quem teve uma formação específica para tal: estamos a falar dos árbitros das provas profissionais, árbitras internacionais e alguns ex-árbitros que quiseram abraçar essa carreira.
Já tem sido falada a possibilidade de a carreira de VAR ser aberta a outros árbitros, de forma a serem escolhidos os melhores. Neste momento, um árbitro de campo competente pode não ser necessariamente um VAR capaz – e vice-versa. Para já, vai continuar a ser assim.
Árbitro pode recusar indicação do VAR?
Sim. Em casos de lances factuais (como foras-de-jogo), o árbitro aceita, geralmente, a indicação do VAR. Em lances de interpretação, o árbitro é desafiado a ver o lance num monitor e pode, depois, corrigir a sua decisão inicial. Ou mantê-la.
Pode ser o árbitro de campo a pedir para ver imagens?
Sim. O protocolo do VAR prevê que possa ser o árbitro de campo a iniciar a comunicação, pedindo para ir ver imagens de um lance que lhe suscitou dúvidas. Ainda assim, a larga maioria das revisões é feita no sentido VAR-árbitro e não árbitro-VAR.
Podemos ouvir as comunicações entre o VAR e o árbitro?
Não. Neste momento, a comunicação entre o árbitro e o VAR não é pública. Ainda assim, já existe abertura da FIFA e do International Board (comissão que elabora as Leis do Jogo) para que o público possa ouvir a comunicação – como aconteceu, como um teste, no Mundial de Clubes.
Este plano não eliminaria os erros, mas permitiria, consideram os apoiantes da medida, haver maior transparência – jogadores, treinadores, dirigentes, adeptos e imprensa poderiam saber por que motivo o VAR e o árbitro decidiram da maneira X ou Y. Em Portugal, os clubes não estão interessados nisso.
Estão a ser pensadas outras melhorias?
Sim. Uma das medidas mais evidentes é a possibilidade de um segundo amarelo, e consequente cartão vermelho, poder ser alvo da acção do VAR, algo que neste momento não é permitido.
Outra das medidas, talvez menos provável, é que seja alargada a área de actuação do VAR, para que não se limite a “erros claros e óbvios”. A ideia seria ser dada abertura ao VAR para chamar o árbitro de campo em lances de dúvida. O árbitro poderia rever as imagens e chamaria a si a responsabilidade de decidir. Os erros diminuiriam, por certo, mas o tempo perdido em revisões aumentaria exponencialmente, porque haveria mais revisões por jogo. Entre o balanço de prós e contras sairá a decisão de quem manda nas regras do futebol.