Ser o pinguim-africano mais velho do mundo tem os seus privilégios. Em Janeiro, quando ET, que vive no Metro Richmond Zoo, no estado norte-americano da Virgínia, fez 43 anos, deu um mergulho na sua piscina privada e comeu uma fatia de bolo gelado de aniversário (na verdade, acabou com o bolo inteiro) de capelim.
"Queríamos que fosse o aniversário mais feliz de sempre", explica Jessica Gring, uma das tratadoras de ET. "Ela é um pinguim muito especial, com alguns genes incríveis e uma grande qualidade de vida", acrescenta.
No entanto, viver uma vida tão longa também tem os seus inconvenientes. Os pinguins-africanos são monógamos e tipicamente têm apenas um parceiro para toda a vida, mas ET, que viveu mais do que os dois anteriores companheiros, Melvin e Seldona, está no terceiro.
Contudo, não ficou solteira durante muito tempo. Em 2012, conheceu Einstein, um pinguim 30 anos mais novo. No ano passado, os tratadores repararam que os animais mais jovens não estavam a ser simpáticos com ET, por isso mudaram-na, tal como a Einstein, que tem agora 13 anos, para o seu próprio recinto privado.
"À medida que a ET foi envelhecendo, alguns dos pinguins mais novos estavam a implicar um pouco com ela, por isso fizemos uma casa de repouso para ela poder usufruir com Einstein", destaca Jim Andelin, o director do zoo. "Ela ainda consegue ver a colónia de pinguins através da vedação, mas dá-se muito melhor do outro lado da rede de arame”, assegura.
Segundo os funcionários do jardim zoológico, são as fêmeas de pinguim-africano que escolhem os companheiros, e os romances entre Maio e Dezembro não são novidade. "Ela e o Einstein dão-se muito bem, apesar de ser mais velha do que ele", destaca Jessica. "A ET desenvolveu uma profunda ligação com o Einstein", completa o director do zoo.
De acordo com a tratadora, o afecto é recíproco, uma vez que ET e "Einstein estão muito ligados um ao outro e gostam de passar muito tempo de qualidade juntos".
Passa mais tempo a nadar que Einstein
ET chegou ao jardim zoológico da Virgínia em 1995, com 15 anos. Nasceu no zoo de Detroit a 28 de Janeiro de 1980 e passou depois pelo de Colombo. O nome data de 1982, o mesmo ano em que se estreou o filme E.T: O Extraterrestre.
"Trouxemos dez pinguins [incluindo a ET] do jardim zoológico Colombo quando abrimos em 1995, e desde então já nasceram aqui 299 destes animais", recorda Jim, sinalizando que a maioria das crias foi para outros zoos. "Nenhum deles teve o tempo de vida da ET. Ela agora está um pouco mais lenta, mas ainda está a desfrutar de uma vida feliz", acrescenta o director.
De acordo com as bases de dados mundiais dos jardins zoológicos, ET é o pinguim-africano mais velho em cativeiro na América do Norte desde 2018, ano em que o anterior detentor do título, um pinguim chamado Opal, morreu aos 41 anos num zoo de Omaha, no Nebraska. "Os nossos registos mostram que ela é a mais velha", afirma Jim.
Segundo o responsável pelo zoo, os pinguins-africanos que estão na natureza vivem entre 15 a 20 anos, no entanto os dos jardins zoológicos podem durar muito mais tempo. ET tem uma vida tranquila e confortável com Einstein no Metro Richmond Zoo, assegura. Está de boa saúde, apesar de ter perdido alguma da visão e de tomar medicação para a artrite.
Jessica conta também que chocou cerca de uma dúzia de ovos desde que chegou ao zoo, mas a última vez que pôs um foi em 2016. Uma das filhas de ET viveu até aos 37 anos. "Todos os nossos pinguins têm as suas próprias personalidades e a ET não é excepção. Ela adora brincar com bolhas e espelhos e mantém-se bastante activa. Passa mais tempo a nadar do que o Einstein", revela. Os tratadores instalaram um degrau dentro da piscina para que seja mais fácil para o animal entrar na água e divertir-se um pouco.
"Ela ainda fica um pouco agitada quando a vamos buscar para fazer exames veterinários. A ET tem muita luta dentro dela, o que é uma coisa boa de se ver num pinguim desta idade", aponta a tratadora.
Jessica e Jim acreditam que há muito para admirar sobre o pinguim-africano mais velho do mundo, especialmente numa altura em que muitas destas espécies que vivem na natureza estão sob ameaça devido às alterações climáticas, destruição do habitat, derrames de petróleo e pesca comercial.
Os pinguins-africanos têm sido apontados como animais ameaçados desde 2010 e, segundo o director, diminuíram a população em 95% ao longo dos últimos 100 anos.
"Estamos reduzidos a apenas cerca de 40 mil na natureza", disse, para acrescentar que existem cerca de 900 pinguins-africanos a viver nos jardins zoológicos dos Estados Unidos. "Felizmente, com o nosso programa de criação aqui, tivemos alguma sorte com eles."
Os anos dourados de ET são passados a nadar, dormir a sesta e comer, mas, explica a tratadora, de vez em quando também olha para a vedação para assistir ao último drama que está a acontecer com o resto da colónia, que tem agora 42 pinguins.
"Alimentamo-la tanto quanto ela quiser comer — em média, entre quatro a dez arenques, trutas e capelins. E quando quer algum tempo de silêncio, pode ir para o ninho que está na zona dela", adianta.
Neste momento, estão em curso planos para construir um recinto maior para os pinguins no jardim zoológico e todos esperam que ET esteja por perto para usufruir dele. "Estamos a divertir-nos com ela enquanto a temos. Não queremos pensar em quando se for embora, por isso, já começámos a planear a festa do 44.º aniversário", conclui Jessica.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post