Pepe: o central inesgotável celebra 40 anos
Só mais dois jogadores de campo competiram na I Liga, no presente século, com idade superior à do defesa do FC Porto, que neste domingo celebrará novo aniversário no relvado.
Képler Laveran de Lima Ferreira já há muito que deixou a impressão digital na Liga portuguesa. E no FC Porto. E na selecção de Portugal. Pepe, alcunha que tem acompanhado o percurso de um dos futebolistas mais marcantes deste século no futebol nacional, chegou à Madeira em 2001 e, 22 anos depois, continua a dar cartas. Neste domingo, celebra 40 anos e, ao que tudo indica, vai voltar a ser titular logo à noite.
Já muito se escreveu sobre Pepe, a carreira do central que nasceu em Maceió e assentou arraiais em Portugal já foi passada a pente fino, mas o jogador continua a impressionar pela longevidade ao mais alto nível. A este respeito, os seus números, em rigor, quase só se equiparam aos dos guarda-redes – posição que, pela especificidade, “convida” a percursos mais longos.
Recapitulando rapidamente: começou no Marítimo B, no início do século, depressa marcou posição na primeira equipa e, em 2004, foi contratado pelo FC Porto. Numa época de auge europeu, logo a seguir à conquista da Champions, começou por ser suplente da dupla Jorge Costa/Pedro Emanuel mas voltou a afirmar-se com naturalidade e, em três temporadas, convenceu o Real Madrid.
Em 2007, mudou-se para o Santiago Bernabéu a troco de 30 milhões de euros e manteve-se ao mais alto nível, num dos maiores clubes do mundo, durante nada menos do que uma década. Uma década em que coleccionou títulos tão relevantes como a Liga dos Campeões (três vezes), a Supertaça da UEFA (duas) ou o Mundial de clubes (duas), mas que também ficou marcada por um episódio de violência em campo – agrediu a pontapé um jogador do Getafe, em 2009, e foi suspenso por 10 jogos.
Encarado como um central duro, forte no jogo aéreo e muito competente no posicionamento, aos 40 anos Pepe continua a ser fundamental no FC Porto, ao qual regressou em 2019, depois de uma passagem de um ano pelo Besiktas (52 jogos, seis golos). Nesta temporada, teve de contornar uma lesão delicada, que chegou a pôr em risco a participação no Mundial do Qatar pela selecção portuguesa, mas voltou em grande nível e já soma 22 partidas, distribuídas pelas cinco competições do calendário dos “dragões”.
“Se há jogador que encarna os tais pilares que temos aqui no FC Porto e são inegociáveis, é ele”, assumiu, no sábado, Sérgio Conceição, treinador que tem entregado a Pepe a missão de comandar a defesa (e a equipa a partir de trás). O técnico, que geralmente não gosta de particularizar na abordagem aos jogadores, desta vez foi mais expansivo.
“Ele mostra o rigor que nós pedimos e a competência depois de ter jogado muitos anos ao mais alto nível e com os melhores do mundo, mas também a ambição diária de ganhar alguma coisa em cada minuto, em aprender alguma coisa. Depois, tudo isso só se consegue com uma paixão enorme. Paixão pelo futebol, paixão pela vida”.
Invulgar é o mínimo que pode dizer-se da forma como Pepe tem conseguido manter-se em competição ao mais nível e a fazer a diferença. Não é fácil encontrar casos parecidos dentro de portas - ou melhor, a maioria dos que existem remetem para guarda-redes como Quim ou Bento, que foram utilizados na Liga já para lá da barreira dos 41 anos. Jogadores de campo, esses sim, são mais raros.
Se fizermos uma análise desde o início do século até aos dias de hoje, só encontramos mais dois com actividade no principal campeonato: o avançado senegalês Fary, que alinhou pelo Boavista, em 2014-15, com 40 anos, quatro meses e 24 dias; e o defesa central Rebelo, que em 2000-01 entrou em campo pelo Estrela da Amadora com com 40 anos, três meses e 15 dias.
Embora em clubes com aspirações distintas, ambos levam vantagem sobre Pepe nesta altura. A avaliar pela regularidade das exibições do internacional português e pela confiança plena que Sérgio Conceição continua a depositar no jogador, é bem provável, porém, que seja só uma questão de tempo até o capitão do FC Porto superar estas duas marcas. Logo à noite, diante do Gil Vicente (se não houver um imprevisto), começa essa contagem decrescente.