Lagos, Nigéria. Idris Jimoh pega numa garrafa de cerveja Guinness vazia para ilustrar o que correu mal no país.
A subida dos preços significa que a cerveja custa cinco vezes mais do que há pouco tempo. Além disso, afirma, há desemprego, violência policial e, mais recentemente, falta de dinheiro. Segundo este rapaz de 18 anos, durante muito tempo, os jovens nigerianos cometeram o erro de ficar em silêncio enquanto as condições de vida se degradavam. "Não é suposto [a vida] ser assim tão difícil", aponta, agitando a garrafa para dar força às suas palavras.
Os jovens nigerianos levaram um terceiro candidato presidencial, Peter Obi, ao topo de muitas sondagens antes das eleições marcadas para sábado, 25 de Fevereiro. Apesar de enfrentar grandes dificuldades como um político de fora [do sistema], com pouco dinheiro e pouca base eleitoral no Norte populoso do país, os especialistas dizem que a ascensão de Obi demonstra o poder dos jovens — e a profundidade da frustração que têm.
Jimoh, que trabalha como electricista e numa churrasqueira para se sustentar, admite que vai votar em Obi, um ex-governador de 61 anos, porque "entre os velhos políticos, ninguém é melhor". "Mas para ser honesto, não acredito que nenhum deles tenha a mesma mentalidade que nós", acrescenta, encolhendo os ombros.
A Nigéria é o país mais populoso de África e tendo em conta a dimensão os resultados das eleições poderão sofrer oscilações em toda a região e além dela, influenciando particularmente as futuras ondas de migração global. Tal como em muitos países da África Subsariana, a população jovem da Nigéria é vasta, sendo que 70% tem menos de 30 anos. Além disto, as pessoas com idades entre os 18 e os 35 anos representam 40% dos eleitores registados e, segundo dados oficiais, 8,5 milhões de jovens registaram-se para votar pela primeira vez nestas eleições.
"O país já se está a esforçar por oferecer serviços e oportunidades aos jovens", afirma Joseph Siegle, director de investigação do Centro Africano de Estudos Estratégicos em Washington, nos Estados Unidos. De acordo com um relatório de 2021 do Banco Mundial, 43% dos jovens nigerianos estão desempregados ou subempregados e 52% disse querer emigrar.
Da mesma forma, durante as entrevistas em Lagos, a cidade mais populosa da Nigéria e um destino para os jovens de todo o país que procuram oportunidades, os mais novos alegam que encaram as eleições como um ponto de mudança.
"Está tudo dependente desta eleição", diz Alexandra Maduagwu, de 27 anos, que também planeia votar em Obi. "Neste momento, as pessoas estão no limite. A única salvação é saberem, quando a eleição chegar, que as coisas vão mudar. Só não sabemos se é para melhor ou para pior", acrescenta.
Reunidos num skate park junto à praia, Alexandra e os amigos chegaram a um consenso: vão votar em Obi ou não votam.
Os candidatos que representam os dois principais partidos da Nigéria são septuagenários que estão envolvidos na política há décadas.
O antigo governador de Lagos, Bola Ahmed Tinubu, do Sudoeste, concorre com o lema "É a minha vez", depois de décadas como lobista na política nigeriana. Tinuby tem o apoio do Presidente Muhammadu Buhari, figura muito pouco popular e que deixa o cargo oito anos depois. O antigo vice-presidente Atiku Abubakar, do Norte, está na sexta e provável última candidatura à presidência. Obi, do Sudeste, está a fazer campanha como reformista, prometendo uma ruptura limpa com a corrupção que tem assolado a Nigéria durante décadas.
Segundo os analistas, a corrida está tão renhida que a Nigéria pode assistir à primeira mudança desde que a democracia regressou ao país em 1999.
Enquanto música electrónica toca no skate park de Lagos, a DJ de 23 anos Derin Ogala, afirma que vai apoiar Obi, em parte porque Tinubu e Abubakar já estavam na política quando o pai era criança. "Estes políticos estão a brincar com as nossas vidas. Nos próximos 30 anos, vamos estar aqui a lidar com as consequências dos actos deles", assinala, ao mesmo tempo que abana a cabeça.
Ogala ri-se enquanto tenta resumir tudo o que aconteceu de errado no país. Há tanta coisa. Mesmo assim, aponta a recente decisão do Governo de retirar as antigas notas bancárias de circulação e emitir novas, medida que levou a uma grave escassez de dinheiro. Segundo a jovem, o desespero é tão generalizado que podemos "entrar em qualquer lugar e suspirar, que a pessoa ao lado dirá: 'Eu percebo-te."
Adewunmi Emoruwa, responsável pela empresa de consultoria Gatefield, sediada em Abuja, na Nigéria, acredita que o apoio de Obi resulta, em parte, dos protestos de 2020 quando os jovens de todo o país se uniram contra a violência policial, demonstrando o poder da mobilização em massa. As manifestações terminaram depois de a polícia ter disparado e matado pelo menos 15 pessoas.
Segundo o consultor, apesar de o apoio a Obi ser transversal às linhas geográficas e étnicas, o candidato normalmente é mais forte entre os nigerianos das zonas urbanas e com um maior nível de educação — muitos dos quais carecem de oportunidades, apesar de terem qualificações.
No entanto, há outras áreas em Lagos onde o apoio ao antigo governador Tinubu ultrapassa o apoio de Obi. Nos campos de futebol improvisados entre as auto-estradas da cidade, muitos jogadores admitem apoiá-lo. Rahman Bello, de 27 anos, descreveu o candidato como a melhor esperança para corrigir a situação económica que o deixou com menos de três euros na conta bancária.
Obi vai precisar de uma participação em massa dos jovens para vencer. Para Jim Kaketch, cientista político da Partnership for African Social Governance Research, em Nairobi, no Quénia, o reformista conseguiu apresentar informação durante a campanha de uma forma que apela aos jovens, que fizeram dele um fenómeno nas redes sociais. Ainda assim, admite que não é claro até que ponto é que este apoio online se traduz em votos.
Dear #Obidients, the work we have done in the past 9 months have brought us to this very proud moment and I thank you immensely for it. As we wrap up our campaign, allow me to make one final request of you - come out on Saturday and vote for LP. Let's finish strong! - PO pic.twitter.com/FlcoBQ0zFg
— Peter Obi (@PeterObi) February 23, 2023
De volta ao skate park, Kaima Abraham, 29 anos, sente que Obi é o "único salvador possível do país neste momento", mas revela que estava tão assustada com a violência, incluindo com a intimidação dos eleitores e as mortes depois das eleições de 2019 que decidiu que não vai votar.
"É tão cansativo estar aqui", diz Abraham, que está entre a maioria dos jovens que procuram "japa" — uma palavra iorubá para "fuga", que se tornou calão para as pessoas que migram.
De acordo com os analistas, se Obi perder, será importante perceber se o Partido Trabalhista do qual faz parte continua a ser uma força num sistema político tradicionalmente dominado pelos partidos dos opositores e se a sua popularidade vai obrigar Tinubu e Abubakar a serem mais receptivos aos jovens.
Questionada sobre o que aconteceria se Obi perder, Crystal Agbor, 30 anos, solta um suspiro antes de fazer uma pausa para pensar. A jovem sente que o país está "à beira do colapso" e que Obi é a única esperança de o pôr de novo a funcionar. "O futuro para a juventude tornou-se sombrio. Vamos ficar muito assustados."
Ainda assim, acrescenta que como cristã também tenta pensar que poderá ser o plano de Deus e diz a si mesma que, mesmo que Obi não vença, os jovens fizeram a diferença para o elegerem.
No skate park, Abraham tenta pensar a longo prazo. Por vezes, "japa" é pensado como uma fuga só de ida. Embora planeie passar algum tempo no estrangeiro — Paris e Nova Iorque são os seus sonhos — admite que quer regressar ao país que ama. "Penso assim: 'Vamos e sejamos melhores para podermos voltar e lutar plenamente'. Não é fugir. É uma preparação."
Ombuor escreveu a partir da cidade de Nairobi
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post