Single Cell Hub: o estudo da singularidade num ecossistema único

O estudo de célula única está disponível no Instituto Gulbenkian de Ciência, que criou um ecossistema destinado a apoiar projectos de single cell, desde uma fase embrionária até à sua conclusão.

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“Tornar o invisível visível, na saúde e na doença”, é o lema do Single Cell Hub, um núcleo em funcionamento no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras, criado com o objectivo de reforçar a investigação, o desenvolvimento tecnológico e a inovação em célula única (single cell), uma área emergente e crítica da biomedicina em Portugal. Integradas no ecossistema estão diversas unidades de apoio à ciência do IGC, como as unidades de Genómica, Histopatologia, Citometria de Fluxo, Bioinformática e Microscopia, com todas a cooperarem para o estudo do mesmo conceito.

De acordo com Ricardo Leite, responsável pelo Single Cell Hub, a inovação permitida por esta tecnologia passa por “conseguir individualizar células, em vez de pedaços de tecidos ou órgãos, compreendendo qual é a resposta desta célula a diferentes situações, além de que também permite perceber qual é o contexto dessa unidade no interior de um tecido ou de um organismo”. Para o conseguir, está ali disponível um conjunto de técnicas, todas elas “disruptoras e que estão, neste momento, a alavancar a ciência”, explica o também coordenador da Unidade de Genómica do IGC, segundo o qual, este “é um serviço aberto não só à academia, mas também à clínica e indústria”.

Portas abertas a grandes avanços

Uma das unidades de investigação integradas no Single Cell Hub é a de Histopatologia, que colabora sobretudo na área de transcriptómica espacial. Explicando em que consiste, Pedro Faísca, coordenador daquela Unidade, refere que “enquanto na Genómica conseguimos saber que genes estão presentes num tecido, na transcriptómica espacial ficamos a saber quais estão activos e em que localização”.

O facto de esta tecnologia poder ser usada em blocos de parafina – que é hoje a forma habitual de se conservarem amostras biológicas, como biopsias e peças cirúrgicas – veio permitir uma evolução enorme e, nas palavras de Pedro Faísca, “abre-nos portas a grandes descobertas”. Desde logo, porque torna possível a realização de “todo o tipo de estudos retrospectivos”, baseados em amostras conservadas e em relação às quais já se conhecem os resultados. Uma das áreas de aplicação desta tecnologia é a Oncologia, pois, como salienta o patologista experimental, “num tecido conseguimos ver logo o que está a ser expresso na zona do tumor, no microambiente à volta”.

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Elisa Jentho, do laboratório de Miguel Soares, recorre ao Single Cell Hub para realizar a sua investigação.
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Outra unidade de investigação também envolvida no Single Cell Hub é a de Microfabricação, coordenada por Jorge Carvalho, e que no âmbito da célula única contribui, por exemplo, para design e produção de novos dispositivos de microfluídica geradores de micro-gotas. Com esta tecnologia é possível “individualizar em micro-gotas uma célula ou elementos que a compõem, para depois as manipular e analisar individualmente. Desta forma, conseguimos obter uma precisão muito superior à que teríamos se estivéssemos a analisar o tecido como um todo”, esclarece o responsável. ​

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Equipa que está a trabalhar actualmente no Single Cell Hub, da esquerda para a direita, Pedro Faísca, Ricardo Leite e Jorge Carvalho.

As pessoas certas no mesmo sítio

Se é verdade que o Single Cell Hub se destaca pela tecnologia inovadora que disponibiliza, não é menos verdade que as pessoas que o integram são outra importante mais-valia. Ricardo Leite sublinha isto mesmo, ao considerar que ali estão “as pessoas certas para fazer todos os passos desta tecnologia”. O responsável acredita que, com este conceito, o IGC será o único local do país a trabalhar conjuntamente o ecossistema de técnicas, ou seja, oferecendo no mesmo sítio todas as valências necessárias, bem como os recursos humanos com o conhecimento adequado. <_o3a_p>

A importância do treino dos elementos da equipa é também realçada por Joana Rodrigues e Andreia Mindouro, facility manager e técnica na Unidade de Histopatologia, segundo as quais “é mesmo necessário ter alguém que saiba o que está a fazer e que seja muito experiente”, porque, entre outros factores, “em muitos casos as amostras são únicas e irrepetíveis”.

A chamar também a atenção para a relevância de se recorrerem a equipas experientes está uma das primeiras pessoas a trabalhar com single cell em Portugal, desde 2018. João Sobral, facility manager na Unidade de Genómica, reforça que, no ecossistema criado no IGC, há pessoas capazes de trabalhar com diversos tipos de amostras e células e que tudo farão para assegurar a viabilidade das mesmas. “As técnicas são dispendiosas, mas se chegarmos ao objectivo final vale a pena”, afirma, lembrando que “alguns utilizadores tentam ter financiamento para usar o Single Cell Hub, porque os dados gerados são tantos, em comparação com o que é obtido com outras tecnologias, que chegam à conclusão que vale a pena apostar”. De salientar que o projecto Lisboa & Vale do Tejo “Single Cell Hub: Tornar o invisível, visível, na saúde e na doença” foi financiado no âmbito do Portugal 2020.

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