Um excerto de Confiança, o novo romance de Hernán Díaz

O novo romance do autor de Ao Longe chega esta quinta-feira às livrarias portuguesas pela Livros do Brasil. Vencedor do Prémio Kirkus, foi uma das leituras favoritas de Barack Obama em 2022.

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Hernán Díaz, o escritor argentino que vive nos Estados Unidos Leonardo Cendamo/Getty Images

Como tinha usufruído de todas as vantagens desde que nasceu, um dos poucos privilégios negados a Benjamin Rask era o de ter uma ascensão heroica: não tinha uma história de resiliência e perseverança nem a narrativa de uma vontade inquebrantável que forjasse por si só um destino áureo com base em quase nada. Segundo se lia na contracapa da Bíblia da família Rask, em 1662, os seus antepassados do lado paterno tinham migrado de Copenhaga para Glasgow, onde começaram por negociar em tabaco das colónias. Ao longo do século que se seguiu, o negócio prosperou e expandiu-se de tal forma, que uma parte da família se mudou para a América com vista a melhor supervisionar os seus fornecedores e controlar todos os aspetos da produção. Três gerações depois, o pai de Benjamin, Solomon, comprou as participações de todos os seus familiares e investidores externos. Sob o seu comando exclusivo, o negócio continuou a prosperar, e ele não demorou muito tempo a transformar-se num dos mais destacados comerciantes de tabaco da Costa Leste. Talvez fosse verdade que a sua mercadoria provinha dos melhores fornecedores do continente, mas, mais do que na qualidade do seu produto, a chave do sucesso de Solomon residiu na sua capacidade de explorar um facto óbvio: o tabaco tinha, evidentemente, uma faceta epicuriana, mas, na sua maioria, os homens fumavam-no para poderem conversar com outros homens. Solomon Rask era, portanto, um fornecedor não só dos melhores charutos, cigarros e misturas para cachimbo mas também (e sobretudo) de excelente conversa e contactos políticos. Guindou-se ao pináculo do seu ramo de negócio e nele garantiu um lugar graças à sua sociabilidade e às amizades cultivadas na sala de fumo, onde frequentemente era visto a partilhar um dos seus Figurados com alguns dos seus clientes mais distintos, entre os quais contava Grover Cleveland, William Zachary Irving e John Pierpont Morgan.

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