Portugal está a envelhecer a um ritmo mais acelerado do que restantes países europeus
Enquanto na média da União Europeia a população envelheceu 2,5 anos, em Portugal o aumento foi de 4,7 anos. E o envelhecimento vai continuar a agravar-se até “entre 2040 e 2050”, avisa demógrafo.
A população portuguesa é a que está a envelhecer a um ritmo mais acelerado no conjunto dos 27 Estados-membros da União Europeia (UE), segundo o Eurostat. Em 2022, metade da população portuguesa tinha mais do que 46,8 anos de idade, a segunda idade mediana mais elevada no conjunto dos países analisados.
Itália surge como o país que apresenta uma idade mediana mais elevada (48 anos), mas Portugal destaca-se pelo ritmo acelerado de envelhecimento: 4,7 anos, em dez anos. Em 2012, a idade mediana dos portugueses era de 42,1 anos, tendo aumentado para os referidos 46,8 anos. Em Espanha, que surge logo a seguir a Portugal, a idade mediana da população (isto é, o ponto em que a população se reparte em duas metades) aumentou 4,3 anos, enquanto na Grécia e na Eslováquia o aumento foi de 4,1 anos.
“Os outros países vão tendo um índice sintético de fecundidade ligeiramente superior ao nosso – às vezes, não tão ligeiramente assim – e isso, não impedindo que envelheçam, faz com que envelheçam a uma velocidade menor”, interpreta o presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Paulo Machado.
Por outro lado, “a longevidade portuguesa está em alta, embora tenha sido afectada pela crise pandémica, o que faz com que aumente o peso dos centenários e octogenários no conjunto da população portuguesa”, acrescenta o demógrafo, que qualifica como impressionante o crescimento do grupo das pessoas com mais de 75 anos de idade.
No triénio 2020-2022, o valor provisório da esperança de vida aos 65 anos foi estimado pelo Instituto Nacional de Estatística em 19,3 anos. E os Censos mostraram que os residentes com 65 e mais anos de idade representam 23,4% do total da população – 10.343,066 pessoas, menos 2,1% face a 2011 –, enquanto os jovens até aos 14 anos de idade viram o seu peso diminuir para os 12,9%.
Nada disto surpreende, se atendermos às consecutivas quebras na natalidade. Em 2022, nasceram apenas 83.915 bebés e, feitas as contas entre nascimentos e mortes, o saldo natural voltou, sem surpresas, a ser negativo: - 40.703. No ano anterior, tinha havido mais 45.220 mortes do que nascimentos e mesmo antes da pandemia, em 2019, o saldo natural mostrava-se negativo (-25.264), como, de resto, nos anos anteriores.
Em 2022, a idade mediana dos residentes da UE fixou-se nos 44,4 anos, tendo aumentado 2,5 anos face a 2012, quando era de 41,9 anos.
A Suécia surge no conjunto dos países analisados como o único onde a idade mediana da população apresentou um ligeiro recuo, de 40,8 para 40,7 anos. Malta, por seu turno, não registou nos últimos dez anos alterações na idade média da sua população, que se fixa nos 40,4 anos.
O gabinete estatístico da UE conta ainda cinco países onde a idade média aumentou em mais de quatro anos (além de Portugal, a Espanha, Grécia, Eslováquia e Itália), mas nenhum ao ritmo registado em Portugal.
Imigração rejuvenesce, mas pouco
Neste cenário de envelhecimento, a imigração pode funcionar como desacelerador (recorde-se a este propósito que quase 14% dos bebés nascidos em Portugal em 2021 eram de mães estrangeiras), mas Portugal dificilmente triunfará na competição internacional pela captação de mão-de-obra estrangeira.
“O fluxo imigratório em Portugal é bastante elevado, mas está muito longe dos valores médios da Europa Ocidental. Portanto, o efeito que a imigração tem nas estruturas demográficas também ocorre em Portugal, mas não com a mesma intensidade”, enfatiza Paulo Machado.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Demografia, APD, Portugal vai continuar a envelhecer nos próximos anos, numa progressão que só deverá começar a recuar “algures entre 2040 e 2050”. “Continuaremos aí com mais envelhecimento do que temos hoje, mas o processo poderá começar aí a inflectir-se. A questão é se voltaremos a ter uma estrutura demográfica equilibrada, na relação entre mais velhos e mais novos, e não acredito que tal possa acontecer antes de 2070 ou 2080”, conclui.
Portugal apresenta o terceiro rácio mais alto de dependência de idosos (37,2%), superado apenas pela Itália (37,5%) e pela Finlândia (37,4%). No reverso deste indicador, que compara as pessoas com 65 e mais anos de idade com as que estão ainda em idade activa, com idades entre os 15 e aos 64 anos, o Luxemburgo surge com um rácio de apenas 21,3%, abaixo do da Irlanda (23,1%) e do Chipre (24,5%).