Ionesco, rinocerontes e nós
O trabalho de Ricardo Aibéo sobre a linguagem cénica, essencial nesta encenação, torna a representação um espectáculo maduro, apesar da sua aparente fragilidade.
Ainda há minutos um rinoceronte atravessou a toda a brida a rua, mas a discussão que ocupa aquelas testemunhas é saber se o bicho tinha um ou dois cornos, se era africano ou asiático, se teria fugido de um jardim zoológico ou de um circo ou surgido ali de geração espontânea por obra e graça do Espírito Santo… Como se ninguém entre os clientes e proprietários daquele bar manhoso, depois da surpresa, agora em animada, por vezes exaltada cavaqueira, se lembrasse já que, um instantinho atrás, um rinoceronte atravessara a toda a brida a rua daquela cidade mais do que pacata – o que, por si só, é acontecimento insólito que baste.
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