Guerra na Ucrânia ajudou UE a poupar 12 mil milhões de euros, graças às renováveis
Energias solar e eólica produziram 23% da electricidade da União Europeia desde o início da guerra, o que é um recorde e representa um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2021-2022.
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O crescimento das energias renováveis, solar e eólica, durante o último ano, desde o início da guerra na Ucrânia, evitou a despesa de 12 mil milhões em custos com a importação de gás, diz um novo relatório do think tank dedicado à energia Ember.
Ajudadas por um novo impulso para o investimento nas energias renováveis, e condições meteorológicas favoráveis, a energia solar e a eólica cresceram 50 TWh (TeraWatts-hora) desde 24 de Fevereiro de 2022, o dia do início da Ucrânia pela Rússia.
Em combinação, estas renováveis tiveram uma produção de energia recorde: produziram 23% da electricidade da União Europeia desde o início da guerra (546 TWh), o que representou um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2021-2022, diz o relatório da Ember. Pela primeira vez ultrapassaram a parcela de electricidade produzida pelo gás (19%).
O aumento anual da produção de energia solar e eólica reduziu a quantidade de gás necessária para a geração de electricidade em 90 TWh e evitou custos de 12 mil milhões de euros. Este cálculo é feito com base nos preços do índice de referência TTF desde o início da guerra.
Se não tivessem existido os 546 TWh de electricidade renovável, a UE precisaria de mais 993 TWh de gás natural para satisfazer a procura da produção de energia, o que equivaleria a custos de 135 mil milhões de euros.
Quando a Rússia cortou o abastecimento de gás natural à Europa, os preços tiveram uma subida sem precedentes, 313 euros por MWh (MegaWatt-hora). “Isto fez com que os custos de produzir electricidade a partir de gás chegassem a mais de 650 euros por MWh”, adianta ainda o relatório.
A energia solar foi a estrela do ano
“Com os preços do carvão também a aumentar, o custo dos combustíveis fósseis fez aumentar o preço da electricidade e desencadeou a subida da inflação e uma crise do custo de vida na Europa.” Em Outubro foram atingidos os valores mais altos de inflação na Europa, 11,5%, pois os preços altos dos combustíveis fósseis reflectem-se em alimentos e fertilizantes mais caros, recorda a Reuters.
A volatilidade dos mercados incentivou a procura de saídas da dependência energética da União Europeia da Rússia. A invasão da Ucrânia pela Rússia foi um choque que fez a Europa entrar em acção. De repente, as enormes vulnerabilidades que se deviam à dependência energética tornaram-se uma realidade clara. No último ano houve uma corrida para lidar com estes riscos através de uma transição acelerada para um sistema energético mais limpo e mais seguro”, disse a analista da Ember Sarah Brown, citada num comunicado de imprensa sobre o novo relatório.
O total da importação de gás natural pelos países da UE apenas diminuiu 5% neste período, mas as importações provenientes da Rússia tiveram um tombo de 62%. Antes da invasão da Ucrânia, a UE dependia da Rússia para cerca de 40% das suas importações de gás. Esse valor desceu para 16%.
Isto aconteceu num ano em a geração de hidroelectricidade ou a partir do nuclear teve importantes reduções, devido à seca e a problemas no parque de centrais nucleares francês: estas duas formas de produção de electricidade tiveram uma queda de 185 TWh em relação a 2021. “Para dar algum contexto de escala, 185 TWh é igual a 7% do total de geração de electricidade em toda a UE em 2022”, explicava o Relatório sobre a Electricidade Europeia 2023, divulgado pela Ember a 31 de Janeiro.
“Cinco sextos da lacuna foram preenchidos pelo aumento da geração de energia solar e eólica, e um quinto pela queda na procura de electricidade [verificada sobretudo na parte final do ano]. Só um sexto se deveu ao aumento da geração de electricidade por carvão. A geração a gás manteve-se praticamente inalterada (mais 0,8%”, lê-se nesse relatório de Janeiro.
A energia solar foi de facto a estrela do ano: 20 países da UE alcançaram em 2022 a maior parcela de produção de electricidade fotovoltaica. A Holanda ficou à frente: 14% da sua energia é de origem solar, ultrapassando o carvão pela primeira vez no ano passado.
É fundamental manter esta trajectória, diz Sarah Brown, da Ember: “Continua a ser crítico que a UE expanda rapidamente a energia solar e eólica para conquistar a sua independência energética de forma permanente”, diz, citada no comunicado de imprensa do relatório sobre a poupança que as energias renováveis permitiram aos países europeus neste ano de guerra.