A indústria dos combustíveis fósseis está a falhar no combate às emissões de metano, apesar das suas promessas de descobrir e reparar infra-estruturas com fugas, de acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia divulgado esta terça-feira.
Em 2022, a indústria energética mundial libertou para a atmosfera cerca de 135 milhões de toneladas de metano - um potente gás com efeito de estufa responsável por cerca de um terço do aumento das temperaturas globais desde a revolução industrial.
No ano passado, as emissões foram apenas ligeiramente inferiores à quantidade recorde libertada em 2019, apesar de um cenário de preços elevados da energia e de uma procura crescente de gás natural que proporcionou incentivos extra para a captura de metano, disse o relatório.
O metano é o principal componente do gás natural, pelo que as emissões capturadas podem ser vendidas como combustível.
Embora tenham sido feitos alguns progressos, "as emissões ainda são demasiado elevadas e não estão a diminuir suficientemente depressa - especialmente porque os cortes de metano estão entre as opções mais baratas para limitar o aquecimento global a curto prazo", disse o director executivo da AIE, Fatih Birol, numa declaração. "Não há desculpa."
Basta investir 3% do lucro
O sector energético é responsável por cerca de 40% de todas as emissões de metano provenientes da actividade humana, a seguir à agricultura.
A AIE afirmou que as emissões de metano provenientes apenas do petróleo e gás poderiam ser reduzidas em três quartos com as tecnologias existentes e um investimento modesto de menos de 3% das receitas obtidas pelas empresas petrolíferas e de gás em todo o mundo no ano passado.
"As companhias petrolíferas e de gás deveriam gastar alguns dos lucros recorde do ano passado", defende Rob Jackson, um cientista da Universidade de Stanford. "Precisamos de fixar o preço da poluição por metano da mesma forma que alguns países fixam o preço da poluição por dióxido de carbono."
China e Rússia não cumprem acordo
Mais de 150 países comprometeram-se a reduzir as emissões globais de metano em pelo menos 30% em relação aos níveis de 2020 até ao final desta década - embora os principais emissores, incluindo a China e a Rússia, não o tenham feito. Dezenas de companhias petrolíferas comprometeram-se também voluntariamente a reduzir as emissões através da Parceria de Petróleo e Gás Metano, e da Iniciativa Climática de Petróleo e Gás.
"Há muitas promessas à volta, mas o que é preciso é um mecanismo que force esta mudança", disse Georges Tijbosch, CEO da MiQ, uma organização independente que avalia as emissões de metano.
500 eventos "super-emissores"
A cientista da agência norte-americana para a atmosfera e o oceano (NOAA, na sigla em inglês) Lori Bruhwiler nota, no entanto, que os cortes rápidos nas emissões de metano são importantes, mas devem ser acompanhados de reduções profundas das emissões de dióxido de carbono se o mundo quiser evitar um aquecimento global superior a 1,5 graus Celsius e desencadear impactos mais severos.
"Será que isto tornará mais difícil para nós cumprir a meta de 1,5 graus Celsius? Absolutamente", refere, comentando as possíveis consequências se os países e empresas não conseguirem conter o metano.
O relatório da AIE afirma ainda que houve mais de 500 "eventos super-emissores" de operações petrolíferas e de gás detectados por satélites em 2022. Outras 100 foram detectadas em minas de carvão.