Esta semana, “vamos voltar a sentir frio”
A queda dos termómetros deverá ser mais acentuada na quinta-feira — e o frio deverá manter-se pelo menos até ao fim-de-semana.
O calor que se tem feito sentir está para sair de cena. A partir de amanhã, terça-feira, as temperaturas vão começar a cair em Portugal continental. A descida começará por ser “gradual” — até chegarmos a quinta-feira, dia em que, de acordo com as previsões, se tornará “acentuada”. Di-lo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), afirmando ainda que esta situação de tempo frio deverá ficar pelo menos até ao fim-de-semana.
“Vamos voltar a ter temperaturas negativas no interior”, refere ao PÚBLICO Cristina Simões, meteorologista do IPMA. A especialista frisa que as temperaturas deverão descer de forma significativa e que “vamos voltar a sentir frio”. “Este calor vai terminar.”
Cristina Simões sugere, no entanto, que este não deverá ser um fenómeno invulgar. Por um lado, diz, “estamos a entrar numa época em que estas variações são normais”. Estando nós já perto do final de Fevereiro, estamos perto também “daquela altura em que transitamos do Inverno para a Primavera”. É comum os termómetros oscilarem um bocado nesta época, diz a meteorologista.
Por outro lado, acrescenta, temos estado com temperaturas que são “elevadas para a altura do ano em que estamos”. Vamos agora, em princípio, regressar a um cenário mais típico de Inverno, analisa.
Descidas de vários graus
A meteorologista diz que este arrefecimento será causado por uma massa de ar frio vinda do Norte da Europa. Refere também que Bragança e a Guarda são os dois distritos onde, neste momento, é mais provável que, a partir de quinta-feira, as mínimas caiam para valores abaixo dos zero graus Celsius.
Em Lisboa, a previsão do IPMA neste momento aponta para oito graus de mínima na quinta e cinco graus de mínima na sexta. Hoje, segunda-feira, o distrito teve uma mínima de 11 graus. Tratar-se-á, portanto, de uma descida relevante.
Quanto ao Porto, as mínimas deverão, entre quinta e sábado, rondar os três a cinco graus. Hoje, estiveram nos dez graus Celsius.
“O arrefecimento nocturno vai voltar”, avisa Cristina Simões, que salienta igualmente que, em algumas regiões do país, deverá haver precipitação e eventualmente queda de neve.
Braga, Bragança, Coimbra, Porto, Vila Real e Viseu são alguns exemplos de distritos onde a chuva deverá marcar presença esta semana. A intensidade da precipitação deverá variar consoante os dias e as regiões.
Quanto à queda de neve, ela poderá ocorrer não só nas terras altas, como também “em zonas onde não é habitual”, isto é, zonas mais baixas em termos de altitude, afirma Cristina Simões.
A especialista insiste entender, porém, que este episódio meteorológico deverá ser normal. “As máximas neste momento estão perto dos 19, 20 graus. Deverão passar para os 13, 14 [graus]. Vamos voltar a sentir frio, mas isto não será nada que não se possa suportar.”
Poderá o aquecimento da estratosfera ter influência?
Na semana passada, iniciou-se um evento de aquecimento súbito da estratosfera, camada da atmosfera que não é aquela em que nos encontramos (a nossa é a troposfera). Consequentemente, o respectivo vórtice polar, uma zona vasta de ar muito frio, fragmentou-se e saiu da sua posição normal, explica Pedro Sousa, meteorologista do IPMA.
Por vezes, a perturbação desse vórtice pode desencadear um processo capaz de se propagar até aos níveis baixos da atmosfera e comprometer também o “nosso” vórtice polar (troposférico), diz o especialista.
Quando este vórtice sofre uma perturbação, continua, a circulação normal do ar altera-se, passando a apresentar um padrão mais ondulatório. Isto significa, por exemplo, que “podemos ter mais incursões de massas de ar polar” (isto é, ar bastante frio, que por norma fica mais restrito às latitudes altas) até latitudes mais baixas.
Isto para dizer: por vezes, os eventos de aquecimento súbito da estratosfera (que acontecem em média “uma vez a cada dois ou três anos”, segundo Pedro Sousa) podem provocar episódios de tempo frio (e porventura também chuvoso) nas latitudes baixas, em diferentes regiões.
Dito isto, Pedro Sousa salienta que ainda é cedo para se afirmar que esta semana de tempo mais frio resulta directamente deste evento. Por norma, assinala este especialista, são precisos “dez a 20 dias” para a perturbação na estratosfera afectar também a troposfera — e a camada da atmosfera onde nos encontramos nem sempre sente os efeitos daquela que é a fragmentação do vórtice polar estratosférico.
As previsões para a próxima semana já sugerem que poderemos vir a ter uma mudança de padrão mais significativa naquilo que respeita à circulação atmosférica — o anticiclone dos Açores deverá deslocar-se para latitudes mais elevadas, num padrão conhecido como “bloqueio atmosférico” —, mas não é para já possível associar de forma inequívoca o frio que nos espera ao evento de aquecimento súbito da estratosfera, insiste Pedro Sousa.
O especialista não deixa porém de lembrar que já tivemos num passado recente uma estação condicionada por um evento idêntico. Em 2018, diz, a nossa Primavera foi anomalamente chuvosa. A alteração do padrão de circulação do ar, decorrente de um evento de aquecimento da estratosfera, “permitiu suavizar de forma significativa a severa seca que afectava o território já desde 2017”, sublinha o meteorologista.
Poeiras enfraquecem qualidade do ar
A Direcção-Geral da Saúde (DGS) avisa que, até esta terça, deveremos estar com “uma situação de fraca qualidade do ar no continente”. A culpa é de poeiras provenientes do Norte de África — que, frisa a DGS, devem levar a que os mais vulneráveis se protejam.
A DGS recomendou esta segunda-feira que, devido à concentração destas poeiras no ar, crianças, idosos, pessoas com problemas respiratórios crónicos e doentes cardiovasculares permaneçam em casa, preferivelmente com as janelas fechadas, sempre que possível.