China fala em iniciativa de paz na Ucrânia e ataca EUA por “histeria” no caso dos balões

EUA, mas também Alemanha, mostram cautela em relação a iniciativa de paz de Pequim para a Ucrânia, dizendo que há condições que considerariam inaceitáveis.

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O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, na Conferência de Segurança de Munique ANNA SZILAGYI/EPA

Dominada pelo tema da guerra da Ucrânia, a Conferência de Segurança de Munique, onde se juntam, todos os anos, altos responsáveis mundiais, foi este sábado palco do desentendimento entre a China e os Estados Unidos em duas questões: os balões abatidos pelos EUA e uma iniciativa chinesa para negociar a paz na Ucrânia.

A conferência era apontada como o local para um possível encontro entre o responsável da diplomacia chinesa, Wang Yi, e o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken – um encontro que não tinha ainda ocorrido à hora de fecho desta edição, e que aconteceria depois de Blinken ter cancelado uma ida a Pequim, depois da notícia de um balão chinês de espionagem, segundo Washington, científico (desviado do seu curso por ventos fortes), de acordo com Pequim, ter sobrevoado os EUA e acabado por ser abatido ao largo da costa da Carolina do Sul.

Na conferência, Wang Yi acusou os Estados Unidos de “histeria” em relação aos balões. “Há tantos balões por todo o mundo, os Estados Unidos vão abatê-los a todos?”

Se o Presidente norte-americano, Joe Biden, mantém que o primeiro balão era espião e foi “uma violação da soberania” dos EUA, os outros balões abatidos a seguir não seriam chineses nem espiões, admitiu Biden na sexta-feira – poderiam ser de investigação científica ou mesmo lançados por amadores. O diário britânico The Guardian trazia ontem a possibilidade de os EUA terem abatido um balão que custou 12 dólares (pouco mais de 11 euros) com um míssil que custa 439 mil dólares (412 mil euros). Uma coincidência entre o dia e o local em que um dos objectos foi atingido e um balão de um grupo de amadores levanta essa hipótese.

Dividir EUA e Europa?

Mas além dos balões, a Conferência de Munique ficou marcada pelo anúncio da China de que estaria a planear uma iniciativa de paz para a Ucrânia.

“Sugiro que toda a gente comece a pensar com calma, especialmente os amigos na Europa, sobre que tipo de esforços podemos fazer para parar esta guerra”, disse Wang, afirmando em seguida que “há algumas forças que aparentemente não querem que as negociações tenham sucesso, ou que a guerra acabe depressa”, acrescentou, sem nomear a quem se referia.

As duas frases foram vistas como uma tentativa de afastar a Europa da posição dos EUA em relação à Ucrânia, na perspectiva do editor de diplomacia do Guardian, Patrick Wintour, que está em Munique a acompanhar a conferência.

As declarações de Wang juntam-se à notícia de que Xi planeia um "discurso de paz" sobre a Ucrânia para a altura do primeiro aniversário da invasão, informação avançada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Antonio Tajani, que se encontrou com o chefe da diplomacia chinesa na quinta-feira.

A China tem sido criticada pelos EUA por apoiar a Rússia, acordando uma parceria especial com Moscovo já depois da invasão. Também na conferência, a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, afirmou que os Estados Unidos consideram “preocupante que a China tenha aprofundado a relação com a Rússia desde o início da guerra”, cita a Reuters.

EUA vêem "armadilhas"

As primeiras reacções a uma iniciativa de paz chinesa foram marcadas pelo cepticismo, diz o diário britânico Financial Times. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse que veria com cautela uma iniciativa chinesa que apelasse a um cessar-fogo imediato. “Quem é que não quer que as armas parem de disparar?”, questionou.

“O problema é que temos de ter muito cuidado com o tipo de armadilhas que podem ser postas” – já que, para Blinken, o Presidente russo, Vladimir Putin, pode “achar que as coisas estão a correr mal” para si e que “o melhor é pedir um cessar-fogo imediato”, mantendo o conflito no ponto em que está actualmente, cita o Financial Times. “Não vai devolver o território que tomou e, entretanto, vai usar o tempo para descansar, para se reabastecer, rearmar e voltar a atacar.”

A ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, congratulou-se com o facto de a China, “como membro do Conselho de Segurança, ver que é sua responsabilidade defender a paz mundial”, também citada pelo FT. Mas alertou que a Alemanha não aceitará a proposta se esta envolver uma suspensão da entrega de armas ocidentais à Ucrânia.

E explicou: “Se a Rússia parar de combater, esta guerra acabou. Mas se a Ucrânia parar de se defender, então a Ucrânia acabou. E não podemos aceitar que isso aconteça.”

Do lado ucraniano, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, disse que gostaria de ver uma iniciativa diplomática chinesa, mas recusou qualquer plano que envolva a perda de território ucraniano, segundo a agência de notícias alemã DPA.

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