China acusa Estados Unidos de “histeria” no caso dos balões
Chefe da diplomacia chinesa falou na Conferência de Segurança de Munique, onde se punha a hipótese de um encontro com o seu homólogo norte-americano, Antony Blinken.
O responsável pelos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, acusou os Estados Unidos de lidarem de modo “histérico” com um incidente envolvendo um balão, que Washington diz ser um balão de vigilância chinês, usando ainda expressões como “inimaginável”, uma acção “absurda” que violou normas internacionais, segundo a agência Reuters.
“Há tantos balões por todo o mundo, os Estados Unidos vão abatê-los a todos?”, perguntou Wang, director do Gabinete da Comissão de Negócios Estrangeiros do Partido Comunista da China, na conferência de segurança de Munique – onde estava também presente o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chegando a ter sido posto em cima da mesa um encontro entre os dois à margem da conferência.
O episódio dos balões, com pelo menos quatro abatidos, levou Blinken a adiar uma visita a Pequim. Seria a primeira ida de um responsável de topo dos EUA à China em quase cinco anos.
Na quinta-feira, no entanto, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que nada sugeria que três dos objectos voadores não identificados abatidos nos últimos dias fossem aparelhos de vigilância chineses, mas mais provavelmente aparelhos de empresas privadas ou instituições de pesquisa científica.
Biden reiterou que o primeiro de todos, um balão que voou durante uma semana sobre o Canadá e os Estados Unidos e que foi abatido na Costa do Atlântico a 4 de Fevereiro, era um engenho chinês. Pequim nega, no entanto, que se tratasse de um balão espião.
O caso deste primeiro balão representou "uma violação da nossa soberania" e era por isso "inaceitável", sublinhou o Presidente num discurso na Casa Branca sobre os balões.
Na China, o caso poderá ter aberto uma divisão na liderança chinesa, entre a civil e a militar, segundo o diário norte-americano The New York Times. O jornal citava um alto responsável do Pentágono, Colin H. Kahl, dizendo que os EUA suspeitam que o líder do país, Xi Jinping, provavelmente não teria conhecimento do balão.
Xi deveria ter estar a par do programa, mas não do balão específico abatido nos EUA, disse Kahl, subsecretário de Estado da Defesa para questões políticas, ao diário, o mais alto responsável da administração a declarar esta hipótese, já antes avançada por especialistas. A divisão seria digna de nota porque há vários analistas especializados em questões chinesas a achar que Xi é mais próximo dos líderes militares do que qualquer chefe do PCC desde Deng Xiaoping e Mao Tsetung, diz o NYT.
Nos Estados Unidos, o Presidente Biden tinha sido criticado por ter demorado a abater o aparelho que se suspeitava ser chinês e o ter deixado sobrevoar o território dos EUA vários dias. Se se verificar a sua admissão de que os outros aparelhos eram de facto privados, deverá ser agora alvo de críticas por ter tido uma reacção exagerada, talvez devido à anterior pressão política e à admissão do Pentágono de que outros objectos chineses não teriam sido detectados, três durante a Administração Trump, mas também um já na sua Administração.
O segundo do grupo dos balões abatidos a seguir ao chinês poderá ter sido, entretanto, identificado por um grupo de amadores que lançam balões por hobby, a Northern Illinois Bottlecap Balloon Brigade, segundo o diário britânico The Guardian.
O grupo não faz ligação entre o desaparecimento de um dos seus balões sobre o Alasca, mas o Guardian diz que o fim abrupto da trajectória do balão aconteceu a 11 de Fevereiro, no 124.º dia da sua viagem. No mesmo dia, um caça F-22 abateu um objecto voador não identificado perto do Território do Yukon, no Canadá, vizinho do Alasca.
Se for confirmado, tratar-se-á de uma enorme desproporção, nota o jornal – um míssil de 439 mil dólares (412 mil euros) a abater um balão que custa apenas 12 dólares (11,26 euros), comenta o jornal.