Em Inglaterra foi a tarde de Solomon, um português de Israel

Solomon, um dos jogadores que teve de fugir da guerra na Ucrânia, é um descendente de sefarditas que já tem nacionalidade portuguesa. Numa vida bem recheada de peripécias, destaca-se agora no Fulham.

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Solomon celebra pelo Fulham Reuters/MATTHEW CHILDS

A lei que tem permitido a muitos descendentes de judeus sefarditas terem a nacionalidade portuguesa tem adensado a ideia de que Portugal está a fazer por estas pessoas mais do que elas pelo país. É uma discussão aberta. Porém, neste sábado, houve um descendente sefardita que fez algo por Portugal – em rigor, por um português. Manor Solomon foi lançado por Marco Silva no Brighton-Fulham, com o resultado em 0-0. Num jogo totalmente dominado pelo Brighton (foi o guarda-redes Leno quem foi salvando o Fulham), Solomon entrou aos 82’ e precisou de pouco mais de cinco minutos para entregar um surpreendente triunfo à equipa londrina, que está em sexto lugar, a apenas um ponto dos lugares de acesso às competições europeias.

Solomon, internacional israelita de 23 anos, foi um dos cidadãos descendentes de judeus sefarditas que conseguiram obter facilmente a nacionalidade portuguesa – assunto que tem sido acompanhado pelo PÚBLICO.

Não é crível que consiga comunicar com Marco Silva em português, apesar de já ter dito que andava a tentar aprender a língua sozinho, mas o certo é que as indicações do técnico saíram perfeitas ao ponto de ser este israelita a garantir ao Fulham mais um triunfo na Liga inglesa.

E marcou pelo segundo jogo consecutivo, depois de na semana passada ter garantido o 2-0, frente ao Nottingham Forest, já aí saído do banco.

Benfica quis tê-lo

Além da curiosidade de ter nacionalidade portuguesa, há outro detalhe interessante sobre Solomon, que é ter sido obrigado, como a generalidade dos jovens israelitas, a cumprir serviço militar já durante a carreira profissional de futebolista.

“É um dos maiores problemas para atletas de Israel e futebolistas em particular. Não é fácil quando fazes 18 anos, acabas o secundário e tens de ir para o serviço militar no exército. Tens de servir dois anos e oito meses. Não é fácil”, explicou o jogador ao Guardian, em 2020.

Se alguns jogadores sofrem com essa paragem na carreira, Solomon não teve especiais problemas a esse nível. Escreveu-se que até chegou a ser cobiçado pelo Benfica, em 2018, e também pelo Manchester City, já depois desse período no exército. Segundo o próprio chegou a explicar, recusou os ingleses e justificou a decisão com a vontade de jogar com regularidade, algo que não conseguiria facilmente no City.

Mas conseguiria no Shakhtar, que o contratou ao Maccabi Petah Tikva. Solomon tornou-se um dos criativos da equipa ucraniana no meio de vários "artistas" brasileiros. E o israelita não destoa assim tanto desse futebol.

É um ala criativo, rápido e fã de um contra um, mas talvez com maior verticalidade e “gosto” pelo ataque à baliza do que a maioria dos alas “canarinhos”. Apesar de ter começado a jogar como ala-direito, é pela esquerda, em movimentos interiores para o pé direito, que consegue fazer a diferença.

Fugiu da guerra

Solomon foi campeão duas vezes no Shakhtar, mas a guerra na Ucrânia precipitou a saída do clube. Acordou um dia com bombardeamentos em Kiev, fugiu para a fronteira com a Polónia e, depois de dez horas, conseguiu ser levado para Israel.

“Para mim, não foi uma situação assim tão difícil. Mas sinto-me mal por outras pessoas que sofreram mais. Muitos amigos meus, ucranianos e israelitas, perderam as suas casas”, disse, citado pelo The Athletic.

O Fulham já tinha decidido contratar Solomon e chegou a ser acordado um negócio na ordem dos oito milhões de euros, mas a FIFA acabou por decidir que os jogadores estrangeiros na Ucrânia poderiam suspender os seus contratos e assinarem por outro clube. E a medida veio mesmo a tempo para que o Fulham poupasse oito milhões de euros.

Recebeu o jogador “à borla” e vai tê-lo pelo menos até Junho. Depois, Solomon poderá regressar ao Shakhtar, para os últimos seis meses do seu contrato, ou poderá existir um acordo entre ingleses e ucranianos para que o jogador não chegue a sair de Londres.

Se Solomon continuar a marcar como nas últimas duas semanas, depois de um início de temporada enevoado por uma lesão grave, não há motivos para que o Fulham não faça questão de ficar com o israelita. E será mais um português com futuro na Liga inglesa.

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