“Estamos preparados para um conflito prolongado”, disse Macron

Na Conferência de Munique, o Presidente francês afirmou que “hoje, muito claramente, a hora não é de diálogo”. Scholz secundou-o: “É sensato que nos preparemos para uma guerra longa”.

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Aleksandar Vucic, Olaf Scholz e Emmanuel Macron na Conferência de Segurança de Munique Reuters/POOL

A paz não está à vista na Ucrânia, apesar dos vários contratempos sofridos pela Rússia desde o começo da invasão, a 24 de Fevereiro do ano passado. “Muito claramente, a hora não é de diálogo”, disse o Presidente francês, Emmanuel Macron, na Conferência de Segurança de Munique, onde aproveitou por fazer o seu mea culpa por ter acreditado há um ano na palavra de Vladimir Putin.

“Há um ano falei com Putin e ele assegurou-me que o grupo Wagner não tinha nada a ver com ele – que era apenas um projecto empresarial. Acreditei nisso. Hoje vemos que o grupo Wagner está envolvido na guerra russa contra a Ucrânia. Tornou-se numa nova ferramenta mafiosa para criar crimes e injustiça”, contou Macron.

Para o chefe de Estado francês, o futuro da guerra é incerto, o fim não está à vista e, garantiu, os aliados da Ucrânia “estão prontos para um conflito prolongado”. E, por isso, aproveitou para pedir aos países europeus para “investir massivamente” na sua defesa, ao mesmo tempo que se propunha organizar uma “conferência sobre a defesa aérea da Europa”.

“Penso que é sensato que nos preparemos para uma guerra longa”, disse por seu lado o chanceler alemão. Olaf Scholz aproveitou ainda para contrariar a posição russa de que, ao armar a Ucrânia, o Ocidente está a contribuir para prolongar a guerra. “Não são as armas que estamos a fornecer que prolongam a guerra, é exactamente o oposto.”

Quanto mais cedo o Presidente russo perceber “que não conseguirá atingir o seu objectivo imperialista, maiores são as probabilidades desta guerra acabar em breve e de a tropa conquistadora russa bater em retirada”, acrescentou o chanceler alemão.

Ao mesmo tempo, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltando às videoconferências, instigava os seus aliados a “acelerar” a chegada da ajuda a Kiev porque a grande ofensiva russa da Primavera já começou. “Não há alternativa à rapidez. Porque é ela que salva vidas”, afirmou. Rapidez imediata no envio das armas e das munições que os aliados já prometeram e rapidez considerável na integração da Ucrânia na família europeia e transatlântica.

“Não há alternativa” se não a entrada da Ucrânia na União Europeia e na NATO. E, como antes tinha feito em Bruxelas, em relação à UE, agora na Conferência de Munique, a “Davos da Defesa”, como lhe chamam, pediu o mesmo no que diz respeito à entrada na Aliança Atlântica: adesão acelerada.

O fórum alemão, que foi criado para ser um palco onde mesmo as mais desavindas nações do mundo poderiam tentar um diálogo, está transformado num clube onde a Rússia e Putin só entram como alvo directo das invectivas gerais. É o pária geral.

Macron, segundo o Guardian, até enumerou a sucessão de derrotas que o Presidente russo vem acumulando desde que, poucos dias depois da Conferência de Munique de 2022, lançou as suas forças contra a Ucrânia. Uma guerra que queria rápida, tornou-se prolongada; não conseguindo legitimação, tornou-se neocolonial; a antecipação estratégica pretendida acabou a empurrar a Suécia e a Finlândia para a NATO; e, finalmente, o prestígio que poderia granjear transformou-se numa desconfiança que afectará as relações de Moscovo com o mundo nos anos vindouros.

A ponto de um dos mais intensos aliados de Moscovo nos últimos anos, o Presidente sérvio, Aleksandar Vucic, ter sido recebido com sorrisos pelos líderes ocidentais em Munique depois de, nos últimos tempos, vir a distanciar-se de forma clara da Rússia. “Dissemos desde o princípio que não podemos apoiar a invasão russa da Ucrânia”, explicou recentemente numa declaração citada pela Foreign Policy. “Para nós, a Crimeia é Ucrânia, o Donbass é Ucrânia – e assim continuará.”

Declarações que podem visar outros interesses num futuro próximo. A Munique, Vucic terá levado a ideia de que Belgrado podia servir de mediador no conflito da Ucrânia. O facto de não ter imposto sanções aos russos – aliás, assinou mesmo em Maio do ano passado um contrato de três anos para a compra de gás à Rússia –, dava-lhe a neutralidade necessária para desempenhar o papel, como o Presidente cessante da República Checa, Milos Zeman, defendeu no final de Janeiro, numa visita a Belgrado. Acrescentando a China e a Turquia como alternativas.

Putin escreveu ao seu homólogo na quarta-feira, por ocasião do dia nacional sérvio, elogiando a "Sérvia como um parceiro importante e confiável da Rússia", cita a Reuters. Na carta, cujo conteúdo, foi divulgado pela presidência sérvia, o Presidente russo elogia "o rumo de política externa equilibrada que Belgrado está a implementar num ambiente internacional complicado" e mostra-se "convencido" que o aprofundamento da "parceria estratégica russo-sérvia é o que melhor expressa os interesses das nossas nações irmãs".

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