Quadro de Klimt roubado pelos nazis em exposição
Serpentes de Água II, a obra mais valiosa do pintor austríaco, é a estrela de uma exposição no Museu Belvedere, em Viena.
Cotada em mais de 100 milhões de dólares (mais de 94 milhões de euros), Serpentes de Água II foi roubada pelos nazis à empresária têxtil judia Jenny Steiner, mecenas de Gustav Klimt, durante a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, a história deste quadro ganha contornos novelescos: quando estava prestes a ser leiloado, em 1940, o Governador do Reich em Viena, Baldur von Schirach, tirou-o do lote e entregou-o numa bandeja ao cineasta nazi Gustav Ucicky, filho ilegítimo de Klimt, que pendurou a obra na sua sala de jantar. Em 2013, os herdeiros de Jenny Steiner e Gustav Ucicky assinaram um acordo de restituição e os 112 milhões de dólares da venda do quadro foram divididos em partes iguais. Seguiu-se mais uma venda, desta feita a um oligarca russo, por 180 milhões.
Esta obra, pintada entre 1904 e 1907 por Gustav Klimt, figura proeminente da art-nouveau e mestre do modernismo de Viena, é a protagonista da exposição Klimt. Inspirado por Van Gogh, Rodin, Matisse... no Museu Belvedere, em Viena, até 29 de Maio. É uma ocasião rara, tal como noticia esta sexta-feira o diário espanhol El País: exposta poucas vezes ao público, na Áustria foi vista pela última vez em 1964.
Há vários anos que o Belvedere, em conjunto com o Museu Van Gogh, em Amesterdão, queriam fazer uma exposição que mostrasse um outro olhar sobre o pintor austríaco, em diálogo com outros artistas. Conseguiram o empréstimo de obras de nomes como Rodin e Cézanne, mas faltava Serpentes de Água II, considerado o quadro mais valioso de Klimt. Segundo relata o El País, "o custo milionário do seguro excedeu em muito o limite de responsabilidade do Estado de 120 milhões de euros fixados por lei. À última hora, chegou-se a um acordo: o proprietário (anónimo) assumiu o valor do seguro e, em troca, o Belvedere restaurou o quadro".
Serpentes de Água II foi parar, em Janeiro, à oficina de restauro do Belvedere, situada nos antigos estábulos deste palácio-museu, pelas mãos do actual proprietário da obra. Coadjuvada por uma equipa de oito especialistas, a responsável pelo departamento de restauro, Stefanie Jahn, realizou um exame aos danos e, em duas semanas, resolveu rapidamente algumas fissuras. "A tela encontra-se num estado invejável", disse Jahn ao El País.
Durante o processo de restauro, a digitalização revelou os esboços de Klimt na tela: as experiências no desenho de ninfas, cobras de água e fios dourados de plantas trepadeiras, "que alguns historiadores da arte interpretam como uma representação do erotismo lésbico". O pintor austríaco trabalhava recorrentemente com metais preciosos, folhas de ouro, prata e platina. De acordo com Stefanie Jahn, Klimt "explorou técnicas e materiais empregados por outros pintores da sua época" - daí surgiu o mote para a exposição, que reúne 90 obras de 30 artistas, entre eles Claude Monet, Auguste Rodin, Vincent Van Gogh, Henri Matisse, Margaret Macdonald Mackintosh e Jan Toorop.