Santarém quer liderar aposta económica nos insectos e já pensa em cluster

Agenda Mobilizadora prevê investimentos de 23 milhões. Câmara apoia e quer canalizar mais 40 hectares para indústria inovadora ligada aos insectos.

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Os insectos podem ser usados para produzir rações para animais Daniel Rocha

A Câmara de Santarém quer reforçar a dinamização da Zona Industrial de Pernes (norte do concelho) através da aposta em projectos inovadores baseados no desenvolvimento da fileira industrial ligada aos insectos. Já esta semana foi apresentada, no Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA) de Santarém, a designada “Agenda Mobilizadora InsectERA - #Construir o Futuro”, através da qual a autarquia e investidores vocacionados para esta área pretendem criar condições para investimentos na casa dos 23 milhões de euros, capazes de gerar mais de 150 postos de trabalho até 2025.

O presidente da Câmara de Santarém, o social-democrata Ricardo Gonçalves, revelou que a autarquia está a “desenvolver esforços” para adquirir 30 a 40 hectares de terrenos junto à actual Zona de Desenvolvimento Económico (ZDE) de Pernes, com o objectivo de multiplicar os actuais dez hectares disponíveis para projectos na área da indústria baseada no aproveitamento do potencial económico dos insectos. O projecto da EntoGreen é o mais avançado e possui já uma unidade de investigação e desenvolvimento inaugurada, em Maio, na ZDE de Pernes. No médio prazo, este projecto deverá gerar investimentos da ordem dos 13,7 milhões de euros e criar 60 postos de trabalho, numa unidade vocacionada para a produção de rações animais e de fertilizantes a partir da criação da chamada “mosca soldado-negro”.

A Agenda Mobilizadora InsectERA é liderada pela Entogreen e tem cerca de 40 empresas parceiras. Prevê a instalação na ZDE de Pernes de três novas fábricas de produção de produtos derivados de insectos, a criação de uma fábrica de produção de quitosano e a instalação de um centro logístico, num total de 150 postos de trabalho.

Com este programa de investimento está projectada a industrialização de “pelo menos” 100 novos produtos, entre eles a utilização de insectos como fonte nutricional alternativa para 15 novas linhas de produtos para alimentação humana “saudável e sustentável”. Oito novas linhas de produtos para alimentação animal e a utilização de produtos derivados dos insectos para fabricar matéria-prima e nove produtos finais “inovadores” para a cosmética e os bioplásticos são outras das áreas que a Agenda Mobilizadora InsectERA pretende desenvolver.

Os insectos poderão ainda ser utilizados como “ferramenta de biorremediação” e contribuir para solucionar “desafios ambientais”, como a eliminação de efluentes pecuários e resíduos orgânicos urbanos. A Agenda Mobilizadora contempla ainda investimentos com obras de construção ou adaptação, aquisição de equipamentos produtivos, de processamento e de biodigestão, equipamentos de laboratório de controlo de qualidade, embalamento e instalação de painéis solares.

“Na Agenda Mobilizadora estamos a antecipar o futuro. É um investimento importante para Santarém. Estamos aqui hoje para tomarmos decisões para sermos diferenciadores, não só a nível europeu, como a nível mundial. Para nós é uma honra que este evento decorra em Santarém”, sublinhou Ricardo Gonçalves, frisando que, para além dos dez hectares da Zona de Desenvolvimento Económico (ZDE) de Pernes já disponibilizados para estes projectos, o município “está a envidar esforços para adquirir mais 30 ou 40 hectares, para atrair mais parceiros para a Agenda Mobilizadora InsectERA. Todos saímos daqui hoje com a responsabilidade de transformar o cluster do insecto como um investimento nacional. A ZDE de Pernes será dedicada completamente à economia circular e esperamos que seja uma ideia replicada”, referiu o autarca, que se mostrou confiante de que, apesar da burocracia, será possível canalizar verbas do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para estes projectos.

“A Agenda InsectERA traz soluções alimentares/nutricionais alternativas que vão dar resposta às novas necessidades do sector, como o aumento da população mundial, as alterações climáticas e o desperdício alimentar. Assim, contribui para a transacção verde em direcção à sustentabilidade ambiental, baseada numa economia circular”, observou, por seu turno, Daniel Murta, presidente da comissão executiva da EntoGreen, salientando que a InsectERA visa “possibilitar a industrialização e comercialização de produtos inovadores com base em insectos, tanto na área alimentar (alimentação animal e humana), como na de outras indústrias (cosmética ou bioplásticos) ou no inovador sector da biorremediação”.

A Agenda Mobilizadora InsectERA contempla ainda a possibilidade de desenvolvimento de fertilizantes produzidos a partir de dejectos de insectos, o desenvolvimento e industrialização de quatro novas matérias-primas (quitosano, óleo de insecto, ácido láurico e extractos naturais de insectos) e a instalação de um centro de investigação em biorremediação na Estação Zootécnica Nacional, em Santarém.