A União das Freguesias de Marrazes e Barosa (UFMB), em Leiria, lançou um repto à população para sugerir nomes de mulheres que mereçam constar nas ruas daquelas freguesias, de forma a esbater a desigualdade de género.
Inspirada por estudos realizados no Porto e em Lisboa, que revelaram a sub-representação feminina na atribuição de nomes a ruas (4% no Porto, 9% em Lisboa), a UFMB replicou a ideia e chegou a conclusão semelhante.
Em 2021, João Bernardo Narciso e Cláudio Lemos começaram a trabalhar num projecto visual que abordava esta questão, inspirados numa peça de Sara Barros Leitão. O Ruas do Género, apresentado em Dezembro de 2022, revela uma análise feita pelos dois jovens sobre a desigualdade de género presente na toponímia do Porto. Já na capital, o analista de dados Manuel Banza investigou a mesma questão, de forma a trazer para cima da mesa questões relacionadas com a desigualdade de género.
"Não somos assim tão diferentes, infelizmente, dessas localidades. De 669 topónimos que estão com nomenclatura na UFMB, apenas 29 têm nomes de mulheres. Isto corresponde a 4%", explicou à agência Lusa Catarina Dias, membro do executivo e coordenadora do "Caminhos da igualdade: toponímia em feminino na UFMB".
Alinhado com outras iniciativas da autarquia para prevenção da violência doméstica contra as mulheres e promoção da igualdade de género, o projecto pretende dar a conhecer quem são essas 29 mulheres.
A par disso, quer-se descobrir outras mulheres que, pelos seus percursos e história de vida, mereçam "ser reconhecidas e celebradas", inscrevendo a sua memória "numa rua, numa estrada, num beco, em qualquer lugar da união das freguesias". "À primeira vista parece uma insignificância, mas é "apenas" mais uma manifestação da desigualdade de género que existe, em muitas dimensões. A toponímia é uma delas", sublinhou Catarina Dias.
Propostas até 22 de Fevereiro
De forma a "envolver a comunidade nesta mudança de paradigma", até 22 de Fevereiro a UFMB recebe propostas (pelo email catarina.dias@ufmb.pt) para a eventual atribuição do nome de outras mulheres a ruas de Marrazes e Barosa.
"É nossa intenção dar prioridade às mulheres em nomes a atribuir futuramente. Mas são assuntos delicados. Além de acreditarmos que pode e deve haver acções de discriminação positiva, também devemos ter algum bom senso nas decisões que se tomam", alertou a coordenadora do projecto.
As propostas são apresentadas a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, numa tertúlia na qual se falará das 29 mulheres que constam já na toponímia e reflectir sobre o tema. Mas, para Catarina Dias este é, apenas, "o ponto de partida". "A partir daí, muito existirá certamente para pensar, para falar e para concretizar. Reflectir sem uma perspectiva de acção transformadora é uma falácia".
Por isso, a iniciativa da autarquia pretende também ser "uma provocação interna, de autocrítica e auto-avaliação" que se estenda "aos colegas das outras freguesias e ao próprio município".