Balsemão fala de um “Portugal lento e sonolento” e de um mundo “feio e belicoso”
Antigo primeiro-ministro recebeu nesta quarta-feira o título de doutor honoris causa pela Universidade Lusófona.
Francisco Pinto Balsemão, a quem foi atribuído, nesta quarta-feira, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Lusófona, declarou que “o mundo está inquieto, feio, belicoso, desconfiado” e que “Portugal está lento e sonolento, onde tudo demora, principalmente o que depende do Estado”.
Na avaliação que fez do país, Francisco Pinto Balsemão apontou críticas em várias direcções, incluindo o poder judicial. “Não se pode dizer que Portugal esteja mal. Mas tão pouco que Portugal está bem. Portugal está lento e sonolento. Tudo demora no nosso país. Principalmente o que depende do Estado, seja dos ministérios, seja das câmaras, seja das freguesias, seja dos tribunais ou, seja do Ministério Público, sejas das comissões e/ou grupos de trabalho que vão sendo criados e tantas vezes se eclipsam ou desaparecem sem terem chegado a conclusões concretas e exequíveis", apontou.
Centrando o seu discurso em três temas – mundo, Portugal e inteligência artificial (e tudo o que ela é, será ou poderá ser) –, o antigo primeiro-ministro fez um diagnóstico negativo do país, sublinhando que “não se compreende que a coexistência de um Governo maioritário e de um Presidente da República interveniente não consigam dar largos passos na boa direcção”.
Assinala, por outro lado, que “é inaceitável que os tribunais continuem a demorar anos para julgar processos e recursos – e não são apenas os casos de José Sócrates ou Ricardo Salgado, são centenas e centenas e centenas de recursos, de marcações lentas e adiadas de julgamentos ou de acumulação de outros processos que se vão atrasando”.
Acusando o poder judicial de “viver, na prática, em autogestão", Balsemão fez reparos à forma como as autarquias funcionam, frisando “não ser aceitável que demorem anos a pronunciarem-se sobre projectos de interesse local”.
Depois de se insurgir contra um país que está “polvilhado de comissões, institutos e outras instituições cujos pareceres são indispensáveis para que uma simples decisão seja tomada”, o agora doutor honoris causa considerou que “talvez em muitos destes indesculpáveis atrasos um robot, bem treinado e educado, seja mais eficaz”.
Ficou assim aberto o caminho para se deter na inteligência artificial, um tema que cada vez lhe interessa mais. Sob a “superior orientação” do seu padrinho académico Arlindo Oliveira, o ex-professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, revelou perante uma plateia de académicos, que tem procurado entrar no novo mundo da inteligência artificial e compreender como funciona.
“É um tema que me interessa cada vez mais. Não apenas porque as minhas ‘Memórias’ estão a ser ‘introduzidas’ num robot que falará português, o que por si já é estimulante, mas porque estou plenamente convencido de que a nossa educação, o nosso trabalho, a nossa vida, serão alterados por uma quase obrigatória convivência com robots que façam ou que escrevem e nos ajudam e acompanham no dia-a-dia”, declarou.
Já sobre o mundo, aludiu à guerra na Ucrânia, afirmando que o que se está lá a passar, “veio revelar que a Rússia, afinal, tem ambições e não aceita um confinamento que parecia ser durável". Quanto à Nato, e ao Ocidente, declarou que apoiam Zelensky, "mas não querem envolver-se demasiado, parecendo preferirem recorrer a uma guerra por interposto país, cedendo material bélico e confiando no seu glorificado herói". "Nos Estados Unidos (…) corre-se o risco de as próximas eleições presidenciais serem disputadas entre dois octogenários."