Starmer quer impedir Corbyn de ser candidato a deputado pelos trabalhistas britânicos
O ex-líder do partido diz que a decisão é um “ataque flagrante aos direitos democráticos” dos militantes trabalhistas. Em causa estão as acusações de anti-semitismo.
O ex-líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, não voltará a ser candidato a deputado, garantiu esta quarta-feira o seu sucessor, Keir Starmer.
Em apenas três anos, Corbyn passou de líder do Partido Trabalhista para nem sequer ser candidato a deputado, o que pode ditar o fim de uma carreira política de quatro décadas.
Em 2020, Corbyn foi suspenso do partido na sequência de um inquérito interno acerca da expansão do discurso anti-semita no seio do Labour durante o seu mandato como líder. Desde então, o seu mandato como deputado era exercido como independente.
No entanto, Starmer veio afirmar de forma categórica que Corbyn não será o candidato dos trabalhistas ao círculo de Islington North nas próximas eleições, pelo qual é eleito há quatro décadas. “O que eu disse sobre a mudança no partido foi a sério e não vamos voltar atrás, e é por isso que Jeremy Corbyn não irá figurar como candidato do Labour nas próximas eleições gerais”, disse o líder trabalhista.
Starmer explicou que as medidas adoptadas pelo partido a partir do retrato traçado pela investigação interna “não são o fim do caminho” e prometeu “tolerância zero contra o anti-semitismo, racismo ou qualquer tipo de discriminação”. “O anti-semitismo é um mal e qualquer partido político que o promova não merece ter poder”, afirmou.
O líder trabalhista falou esta quarta-feira durante a apresentação de um balanço feito pela Equality and Human Rights Commission, entidade que supervisiona a defesa dos princípios de igualdade e defesa de direitos humanos em organizações britânicas, sobre as mudanças feitas pelo Partido Trabalhista face às acusações de anti-semitismo. Segundo a comissão, as mudanças levadas a cabo pela nova liderança foram suficientes para lidar com os abusos dentro do partido.
Grande parte do mandato de Corbyn na liderança dos trabalhistas foi assombrad pelas críticas à alegada promoção de ideias anti-semitas no partido. Na altura, Corbyn disse que o problema estava a ser “dramaticamente exagerado” e defendeu que as críticas ao Estado israelita, sobretudo no que respeita à relação com a Palestina, não devem ser confundidas com posições anti-semitas.
Corbyn criticou a decisão do seu sucessor, considerando-a um “ataque flagrante aos direitos democráticos” dos militantes do partido a quem, na sua opinião, deve caber a escolha dos candidatos a deputado. “Qualquer tentativa de bloquear a minha candidatura é uma negação do processo devido e deve receber a oposição de qualquer um que acredite no valor da democracia”, afirmou o ex-líder através de um comunicado.
Corbyn descreveu ainda a opção da direcção do Labour como uma “distracção divisiva” daquele que deve ser o objectivo primordial do partido de derrotar o Partido Conservador. No entanto, Corbyn não esclareceu se pretende apresentar-se como candidato independente, um cenário que tem sido especulado na imprensa britânica.
Desde que assumiu a liderança do partido, Starmer tem tentado distanciar-se ao máximo do seu antecessor, responsável por duas derrotas eleitorais, incluindo a pior em quase um século, em 2019.