Bactéria Xylella fastidiosa já obrigou ao abate de milhares de plantas no Porto

Câmara do Porto diz que a Xylella fastidiosa é um problema que preocupa a cidade e “deve preocupar o Governo”. Cerca de dez mil plantas foram abatidas, sobretudo em viveiros, desde 2020.

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As oliveiras contituem uma das espécies vegetais afectadas pela bactéria Nuno Ferreira Santos

A bactéria Xylella fastidiosa obrigou, desde 2020, ao abate de cerca de 10.000 espécies vegetais no Porto, especialmente no viveiro municipal. "Temos toda a cidade assente no risco premente de ver destruído um vastíssimo conjunto de espécies que constituem um património vegetal único", adiantou esta quarta-feira a Câmara do Porto.

Classificada como "bactéria de quarentena" pela Organização Europeia para a Protecção das Plantas (EPPO), em Portugal, a Xylella fastidiosa foi detectada, em Janeiro de 2019, em plantas de lavanda num jardim zoológico em Vila Nova de Gaia, no Porto.

A sua detecção levou à definição da primeira zona demarcada do país - a Área Metropolitana do Porto (AMP) - e, desde então, a região Norte conta já com sete zonas demarcadas: AMP, Alijó, Baião, Bougado, Mirandela e Mirandela II, e Sabrosa.

Desde 2020, foram destruídos cerca de dez mil exemplares de diferentes espécies no Porto, especialmente no viveiro municipal. "Com a sua destruição perde-se a sua genética, adaptabilidade, enquadramento, história, provocando danos cujas consequências para os diferentes ecossistemas são irreparáveis e irreversíveis", destaca a autarquia.

Numa resposta enviada à agência Lusa, o vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, destaca que a Xylella fastidiosa é "um problema que preocupa o município do Porto e deve preocupar o Governo".

"É fundamental haver investimento neste combate, mas igualmente importante é a preservação do património histórico da cidade, dos seus jardins e parques", defende o vice-presidente, responsável pelo pelouro do Ambiente.

É urgente tomar medidas

Filipe Araújo diz ainda ser "urgente" adoptar medidas de erradicação da bactéria, bem como uma "acção mais assertiva" da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e "recursos que ajudem a encontrar solução para o problema".

"Neste momento, a única solução apresentada aos municípios é o cumprimento das medidas adoptadas para a zona infectada, o que representa a erradicação total das espécies apresentadas na lista de géneros e espécies vegetais detectados infectados", relembra.

Destacando que o património arbóreo do Porto "pode estar em causa", Filipe Araújo assegura que o município está disponível para "aumentar a frequência e quantidade de testagem", por forma a abater "apenas os exemplares que se encontrarem positivos à presença da bactéria".

"É fundamental encontrar soluções específicas para preservar espaços verdes de centros urbanos, pois estamos a falar da destruição de um património histórico muito relevante", refere, acrescentando que a erradicação indiscriminada não pode ser feita de "ânimo leve".

Cientificamente classificada como uma bactéria grã-negativa que tem uma relação endofítica com a planta, a Xylella fastidiosa "vive dentro da planta", mais concretamente, nos vasos xilémicos que transportam água e nutrientes das raízes para os caules e folhas.

A sua transmissão pode decorrer da actividade humana, através do transporte de plantas contaminadas, mas também de uma planta infectada para uma planta sã, através de insectos como a cigarrinha das espumas, que perfura o xilema da planta para extrair água e nutrientes.

Árvores, arbustos e plantas herbáceas - vulgares em espaços urbanos e rurais ou de "elevado valor económico" - podem ser hospedeiras desta bactéria, tais como a oliveira, videira, amendoeira, citrinos, sobreiro, acácia, nogueira, plátano, rosmaninho ou alecrim.

Associações preocupadas com impacto a Norte

Associações de produtores e agricultores da região Norte afirmam-se "preocupadas" com o impacto da Xylella fastidiosa nas culturas e viveiros, e com a evolução da bactéria na região Norte, que conta com sete Zonas Demarcadas.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro (APPITAD), Francisco Pavão, afirmou esta quarta-feira que a evolução da bactéria na região Norte "é uma grande preocupação".

Francisco Pavão, que é também director da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), sublinhou a importância de se criar um grupo de trabalho que reúna as associações de produtores, investigadores e o Ministério da Agricultura, para "tentar encontrar mecanismos de mitigação e localização" desta bactéria.

Destacando que os produtores "estão bastante preocupados", Francisco Pavão alertou para a necessidade de estes serem indemnizados quando têm de abater e destruir as suas culturas ou viveiros devido à Xylella fastidiosa. "É importante que os produtores sejam indemnizados", salientou.

Defendendo um "maior controlo fito-sanitário" das espécies vegetais, Francisco Pavão destacou também a necessidade de se abordar esta problemática "sem alarmismos".

"Todo o sector está unido no esforço de mitigar os efeitos desta bactéria que é um problema não só da região Norte, mas de todo o país", acrescentou.

Maior divulgação junto dos agricultores

O presidente da Associação de Agricultores do Nordeste Transmontano (AANT), Vitor Teixeira, defendeu a necessidade de uma "maior divulgação" pelo Ministério da Agricultura junto dos agricultores sobre a bactéria Xylella fastidiosa.

"Há pouca informação junto dos agricultores sobre esta bactéria. Vai-se ouvindo falar esporadicamente sobre o assunto, mas está muito pouco divulgado", observou Vitor Teixeira, destacando a importância de saber os sintomas, meios de prevenção e como agir em casos suspeitos de infecção pela bactéria.

Vitor Teixeira, que teve conhecimento da bactéria através de um viveirista, destacou que os impactos da Xylella fastidiosa podem vir a ser "graves" na região Norte, que concentra culturas susceptíveis a esta bactéria, como a vinha, oliveira e amendoeira.

"Neste momento é fundamental alertar os agricultores para este problema para que estejam atentos às suas culturas e aos sintomas provocados pela bactéria", acrescentou, notando que na freguesia de Pegarinhos, no concelho de Alijó (distrito de Vila Real), "não houve qualquer informação" sobre a detecção do um foco e, consequentemente, implementação da Zona Demarcada a 19 de Dezembro de 2022.