Ajuda humanitária para a Síria começa a passar em mais duas fronteiras
Noroeste do país, controlado por grupos da oposição a Bashar al-Assad, tem recebido apoio a conta-gotas e ouvem-se muitas críticas à actuação das Nações Unidas.
Pela primeira vez desde 2020, a fronteira de Bab al-Salam foi usada esta terça-feira para transportar ajuda humanitária da Turquia para as zonas do Noroeste da Síria que estão sob controlo de grupos rebeldes e que são das mais afectadas pelos sismos da semana passada. Um porta-voz da ONU confirmou a passagem de 11 camiões naquele local e de outros 26 na fronteira de Bab al-Hawa, até agora a única que a organização podia usar para fazer chegar ajuda às áreas sírias que o Governo de Bashar al-Assad não controla.
Foi só depois de o Presidente sírio ter dado a sua autorização que a ONU começou a mobilizar-se para chegar finalmente a uma zona do país em que mais de quatro milhões de pessoas já dependiam de assistência para viver, mesmo antes dos terramotos. “As pessoas que sobreviveram a esta catástrofe perderam tudo”, descreveu à Al Jazeera um habitante de Idlib, Abdulkafi Alhamdo, que acusou as Nações Unidas de terem reagido “muito tarde”.
Enquanto em Damasco aterravam aviões com bens provenientes de vários países, o Noroeste do país só na quinta-feira passada começou a receber alimentos, tendas, medicamentos e cobertores – mas não o equipamento pedido pelos Capacetes Brancos para os ajudar na busca de sobreviventes entre os escombros.
Os responsáveis da ONU na região justificaram a demora com o mau estado em que ficaram as estradas depois dos sismos. Na segunda-feira, por fim, o Conselho de Segurança aprovou, com votos favoráveis de Rússia e China, a abertura das duas passagens fronteiriças que Assad manteve fechadas nos últimos anos para que toda a ajuda passasse por Damasco.
“É do nosso conhecimento que outras organizações assistenciais não relacionadas com a ONU têm usado essas fronteiras. Nós temos de operar dentro de certos limites, é a natureza das Nações Unidas”, disse à rádio BBC 4 o porta-voz do secretário-geral da ONU, Stéphane Dujarric.
O líder dos Capacetes Brancos, Raed al-Saleh, escreveu um artigo de opinião para a CNN em que acusa a ONU de ter tido uma conduta “vergonhosa” na resposta aos sismos. “As Nações Unidas precisam de fazer melhor. Algo está claramente mal se o próprio sistema que foi montado para proteger e salvar vidas humanas durante uma emergência deixa que crianças morram debaixo dos escombros enquanto os minutos e horas preciosas decorrem”, escreveu.
O balanço mais recente de vítimas aponta para mais de 40 mil mortos nos dois países.