Os copos de papel podem ser reciclados? Nem todos
Os copos de papel não são feitos apenas deste material, contendo películas ou substâncias que os tornam impermeáveis – o que pode inviabilizar a reciclagem. Conheça o destino correcto destes resíduos.
Em Portugal, aprendemos que o papel deve ser depositado no ecoponto azul. Mas a verdade é que nem todas as embalagens compostas por este material podem ser recicladas. É o caso de muitos tipos de copos que, por serem revestidos ou impermeabilizados, acabam por não ter o destino que imaginamos. O segredo, explica a Sociedade Ponto Verde, está em identificar se o recipiente é destinado a bebidas frias ou quentes.
“Actualmente, os copos de papel para bebidas quentes, como cafés, chás, cappuccinos e lattes já podem ser reciclados e devem ser colocados no ecoponto azul. Os copos para bebidas quentes são revestidos no seu interior por um material impermeabilizante e são classificados como embalagens de papel/cartão”, esclarece a Sociedade Ponto Verde, numa nota enviada ao PÚBLICO.
Em Janeiro de 2023, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) divulgou novas especificações técnicas que introduzem algumas mudanças. A possibilidade de depositar copos para bebidas quentes no ecoponto azul é uma delas.
Este ano passa então a ser possível “recuperar parte da fibra do exterior dos copos de papel para bebidas quentes, permitindo a sua reciclagem”. Os produtores deste tipo de copos devem agora adoptar a iconografia do ecoponto azul nas embalagens.
Já os copos de papel para bebidas frias – sumos ou refrigerantes, por exemplo – devem continuar a ser colocados no lixo indiferenciado. Isto porque apresentam um revestimento impermeabilizante tanto por dentro como por fora, o que impede a reciclagem à luz da tecnologia de reciclagem disponível.
“Importa, portanto, frisar esta distinção: os copos de papel para bebidas quentes vão para o ecoponto azul e os concebidos para bebidas frias mantêm-se no lixo comum”, resume a Sociedade Ponto Verde.
O problema da mistura de materiais
Ao contrário das garrafas de vidro – que, do gargalo à base, apresentam um único material, o que torna a reciclagem mais simples e eficiente –, os copos de papel constituem um desafio porque apresentam com frequência outros materiais. E, como vimos, os copos para bebidas frias nem sequer podem ser reciclados.
O problema da mistura de materiais, à luz do processo de reciclagem, é que as películas plásticas e outras substâncias impermeabilizantes podem constituir uma fonte de contaminação da carga. Com as novas regras da APA, os copos para bebidas quentes passam a ser aceites – mas, ainda assim, só até um certo ponto.
Os recipientes feitos substancialmente de papel, mas que, na parte interior, apresentem algum tipo de cobertura, não devem idealmente ultrapassar cinco por cento do total da carga de um contentor.
“De acordo com esta orientações, são aceites [numa carga] até 5% de resíduos de embalagens com teor de papel-cartão ≥ 85% e < 100%, em peso, onde estão incluídos alguns dos referidos copos. Com esta nova orientação, os copos que tenham apenas revestimentos internos podem ser colocados no ecoponto azul”, afirma a Lipor, a associação intermunicipal que gere e trata os resíduos do Grande Porto, numa resposta enviada, por e-mail, ao PÚBLICO.
Apostar em copos reutilizáveis
É precisamente devido a este carácter ambíguo dos copos em papel, que frequentemente apresentam mais de um material, que associações ambientalistas como a Zero encorajam a reutilização de recipientes. Reutilizar será quase sempre a solução mais sustentável.
Sempre que possível “devemos pressionar cadeias de restauração e lojas de bairro” a disponibilizar copos que possam ser lavados e usados novamente, sugere Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista Zero.
Em alternativa, os clientes deveriam também poder adquirir recipientes reutilizáveis para serem utilizados de forma reiterada no estabelecimento. “Ou até levar o próprio copo de casa”, sugere a ambientalista.
“Não podemos esquecer que os copos de papel podem conter PFAS [perfluoroalquiladas], que são substâncias perigosas. Já os copos com revestimento interior de películas plásticas são considerados recipientes de plástico e, por isso, já têm o seu uso muito limitado”, alerta Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista Zero.
PFAS, as "substâncias perigosas"
As PFAS são substâncias químicas persistentes, e potencialmente nocivas para a saúde humana, que estão presentes numa longa lista de produtos que usamos no quotidiano. Estes produtos químicos conseguem dotar materiais porosos – como o papel e os têxteis – de propriedades impermeabilizantes.
“O papel, por si só, não conseguiria conter líquidos, especialmente os quentes, se não contasse com um tratamento impermeabilizante. O grande risco é a presença de substâncias perigosas em embalagens que estão em contacto com alimentos. Há uma interacção entre estes materiais, que não são inertes como o vidro, e os alimentos que vamos ingerir”, sublinha Susana Fonseca.
A União Europeia prepara-se para proibir a utilização de PFAS a partir de 2025, ou no ano seguinte. A ideia é, numa lógica de precaução, banir esta classe de substâncias químicas que têm sido associadas a riscos ambientais e de saúde humana.
Informalmente designados “produtos químicos eternos”, as PFAS persistem nos ecossistemas durante muito tempo, acumulando-se nos solos, reservatórios naturais de água e nos próprios organismos vivos. Estudos associam a ingestão ou inalação destas substâncias a problemas de saúde como o cancro.