Inspecção-Geral da Saúde vai realizar inspecção a todos os serviços do SNS que façam abortos

O anúncio da IGAS surge depois de notícias no sábado dando conta de que “os hospitais públicos violam lei do aborto” com exemplos de vários casos em que a lei não foi cumprida.

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A inspecção será feita a "todos os estabelecimentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e Administrações Regionais de Saúde" Rui Gaudêncio

A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) anunciou nesta segunda-feira que vai realizar "uma acção de inspecção transversal" a todos os serviços do Serviço Nacional de Saúde onde possa ser realizada a interrupção voluntária da gravidez (IVG).

A inspecção será feita a "todos os estabelecimentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e Administrações Regionais de Saúde", adianta numa nota a IGAS na qual diz ainda que vai realizar acções de fiscalização a todos os hospitais públicos e privados durante este ano.

Segundo a IGAS, o objectivo desta acção é verificar o cumprimento das normas relativas à objecção de consciência, ao cumprimento de dever de nomeação de um responsável para os assuntos respeitantes à interrupção da gravidez, ao encaminhamento das mulheres grávidas que solicitem a interrupção da gravidez para os serviços competentes, dentro dos prazos legais.

A Inspecção-Geral vai ainda verificar a realização da consulta prévia, a garantia do direito à escolha livre do estabelecimento de saúde oficial onde deseja interromper a gravidez, dentro dos condicionamentos da rede de referenciação.

O anúncio da IGAS surge depois de o Diário de Notícias (DN) ter noticiado no sábado que "os hospitais públicos violam lei do aborto", na sequência de uma investigação em que relata vários casos em que a lei não foi cumprida.

Várias inspecções desde 2007

Na nota, a IGAS refere que tem realizado acções inspectivas desde 2007, designadamente sob a forma de inspecções e fiscalizações a estabelecimentos de saúde do SNS e do sector privado sobre o tema da interrupção voluntária da gravidez.

"Neste ano, que coincide com o início de um novo ciclo estratégico (2023-2025), vamos realizar, ao longo do ano, acções de fiscalização a estabelecimentos de saúde, públicos e privados, onde possa ser realizada a interrupção da gravidez", salienta a IGAS.

O objectivo, acrescenta, é verificar se o estabelecimento cumpre as normas relativas aos procedimentos administrativos, condições técnicas e logísticas de realização da IVG, bem como "a informação relevante a prestar à grávida para a formação da sua decisão livre, consciente e responsável".

A agência Lusa questionou a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre se recebeu queixas por incumprimento da lei, que explicou não ter "um indicador específico", que permita identificar as reclamações recebidas apenas sobre esta situação.

Adianta contudo que existem vários indicadores "mais amplos que podem, eventualmente, abranger casos relacionados com a restrição de acesso a IVG, não sendo, no entanto, possível quantificar um total de reclamações recebidas, especificamente, sobre esse assunto", refere numa resposta escrita.

Em concreto, e por referência às valências de Ginecologia-Obstetrícia e Obstetrícia nos serviços de saúde públicos, o Sistema de Gestão de Reclamações da ERS permite a pesquisa de informação por indicadores e temas mais latos, nomeadamente "Discriminação/rejeição em razão de estado de saúde e características pessoais" e "Resposta em tempo útil/razoável".

Considerando estas classificações, as quais podem ou não envolver casos de IVG, a ERS recebeu 90 reclamações relativamente a factos ocorridos em 2021 e 100 queixas relativas a 2022, tendo abertos dois processos de inquérito no ano passado e um este ano.

"Acresce que na sequência dos factos relatados por alguns órgãos de comunicação social, a ERS procedeu à abertura de um processo administrativo para investigação dos factos relativos ao Hospital Garcia de Orta e Hospital de Santarém, bem como continuará a acompanhar, e a actuar sempre que aplicável, perante o eventual incumprimento da Lei pelos restantes estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde do SNS", adianta a ERS.

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