China denuncia envio de balões pelos EUA para o seu espaço aéreo

Pequim diz ter detectado mais de dez incursões não autorizadas desde o início do ano passado. A Casa Branca negou as alegações.

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O primeiro balão abatido pela Força Aérea dos EUA caiu no mar na Califórnia Reuters/RANDALL HILL

O Governo chinês diz que detectou mais de dez balões de elevada altitude dos EUA a sobrevoar o seu espaço aéreo sem autorização desde o início de 2022. A Casa Branca negou as acusações de Pequim.

A declaração de um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês esta segunda-feira surge no contexto de um diferendo diplomático entre os dois países com origem na detecção por parte dos EUA de vários balões a sobrevoar o seu território na última semana. Washington acredita que se trata de aparelhos de espionagem ao serviço do Estado chinês com o objectivo de recolher informação acerca de bases e infra-estruturas militares norte-americanas – Pequim rejeita as alegações.

Numa conferência de imprensa esta segunda-feira, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, disse não ser “incomum” a invasão pelos EUA do espaço aéreo de outros países, dando o exemplo se sobrevoos sobre o território chinês.

“Desde o ano passado, balões de elevada altitude dos EUA fizeram mais de dez voos ilegais dentro do espaço aéreo chinês sem que tenha recebido a autorização dos departamentos relevantes da China”, afirmou Wang. O responsável não especificou se os aparelhos em causa foram identificados como de natureza militar ou civil, simplesmente dizendo que a reacção de Pequim foi “responsável e profissional”, criticando o recurso a “força excessiva” pelos EUA na destruição dos aparelhos.

A Casa Branca negou de imediato as alegações da China, através da porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson. “Qualquer alegação de que o Governo dos EUA tenha enviado balões de vigilância sobre a RPC [República Popular da China] é falsa. É a China que possui um programa de balões de vigilância a elevada altitude, ligado ao Exército de Libertação do Povo, que foi utilizado para violar a soberania dos EUA e de outros 40 países nos cinco continentes”, afirmou Watson através de um comunicado.

A troca de acusações é o mais recente episódio de um desentendimento entre os dois países por causa dos aparelhos que têm sido identificados no espaço aéreo norte-americano. Desde a semana passada, as autoridades dos EUA abateram quatro objectos voadores que sobrevoavam o seu território, com a suspeita de que podem tratar-se de balões operados pelo regime chinês para obter informação militar. Apesar das suspeitas, Washington não descarta outras explicações e está a tentar investigar a origem dos aparelhos.

Os incidentes têm contribuído para desgastar ainda mais a relação entre os EUA e a China, que já estavam envolvidos em disputas noutras áreas, como o estatuto e a segurança de Taiwan. As divergências em torno dos balões foram suficientes para que o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, adiasse uma viagem a Pequim, que seria a primeira visita de um alto dirigente dos EUA ao país desde 2018.

Entretanto, o Reino Unido anunciou que pretende rever os protocolos de segurança aérea à luz das incursões destes objectos no espaço aéreo dos EUA. “O Reino Unido e os seus aliados vão estudar o que é que estas intrusões no espaço aéreo representam para a nossa segurança”, disse ao jornal Telegraph o ministro da Defesa, Ben Wallace. “Este desenvolvimento é mais um sinal de como o panorama das ameaças globais está a mudar para pior”, acrescentou.

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