Morreu Hans Modrow, último líder comunista da República Democrática Alemã
Modrow liderou o Governo interino da RDA depois da queda do Muro de Berlim e durante a transição democrática, que culminou na reunificação da Alemanha.
O último líder comunista da República Democrática Alemã (RDA) morreu aos 95 anos, anunciou este sábado o grupo parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda).
Hans Modrow assumiu a liderança do Governo interino da RDA pouco depois da queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989, e o seu mandato, embora curto e turbulento, terminou com as primeiras eleições livres da história da Alemanha Oriental.
“O nosso partido perde uma importante personalidade”, lamentou, através do Twitter, o Die Linke, o partido de esquerda radical herdeiro do partido comunista da RDA e do Partido do Socialismo Democrático (PDS), que lhe sucedeu.
“Toda a evolução pacífica de estabelecimento da unidade alemã foi, precisamente, uma conquista especial dele”, acrescenta o partido. “É o seu legado político.”
Modrow nasceu a 27 de Janeiro de 1928 em Jasenitz, na então Prússia Oriental, agora parte da Polónia.
Ao longo da sua carreira política construiu uma reputação de figura anti-sistema, tendo rejeitado, por exemplo, as vantagens que lhe eram garantidas pelo partido e insistido em morar num apartamento normal.
No final da II Guerra Mundial, foi feito prisioneiro pelas forças da União Soviética e entrou num "campo de reeducação" para soldados alemães.
Já na RDA, iniciou a carreira política nas organizações juvenis do Partido Socialista Unificado (SED). Líder do SED em Dresden desde 1973, exerceu o mandato de deputado no Volkskammer (Parlamento) durante 32 anos e integrou ao longo de 20 anos o Comité Central do partido.
No entanto, a subida ao Politburo — órgão máximo do SED — só ocorreu em 1989, após a renúncia de Erich Honecker, secretário-geral do SED, que liderou a RDA entre 1971 e 1989.
A chegada de Modrow à liderança do Governo da RDA dá-se também na sequência da demissão de Honecker, pressionado pelos protestos massivos em todo o território, que pediam reformas democráticas e mais liberdade, e que culminaram com a abertura do muro de separação entre a RDA e a República Federal da Alemanha (RFA) na actual capital alemã, um episódio decisivo para o fim da Guerra Fria.
Hans Modrow foi responsável por organizar parte do processo de transição para a democracia. Inicialmente defendeu a independência da RDA, mas depois foi a favor da reunificação com a RFA.
Foi, ainda assim, acusado pelos seus opositores de querer adiar ao máximo a reunificação e de ter tentado reformar a polícia política da RDA, em vez de a abolir. Também foi considerado culpado por fraude eleitoral, já depois da reunificação.
Nas primeiras e últimas eleições livres na RDA, a 18 de Março de 1990, a União Democrata Cristã (CDU) prevaleceu sobre o Partido Social-Democrata (SPD) e sobre o PDS.
Em Abril desse ano, Modrow entregou o cargo de líder do executivo ao democrata-cristão Lothar de Maiziere que, à frente de um Governo de coligação com o SPD, ficou encarregado de negociar a reunificação alemã.
Após a reunificação, Modrow foi deputado no Parlamento alemão (1990-1994), eurodeputado (1999-2004) e dirigente do Die Linke.