Morreu Hans Modrow, último líder comunista da República Democrática Alemã
Modrow liderou o Governo interino da RDA depois da queda do Muro de Berlim e durante a transição democrática, que culminou na reunificação da Alemanha.
O último líder comunista da República Democrática Alemã (RDA) morreu aos 95 anos, anunciou este sábado o grupo parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda).
Hans Modrow assumiu a liderança do Governo interino da RDA pouco depois da queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989, e o seu mandato, embora curto e turbulento, terminou com as primeiras eleições livres da história da Alemanha Oriental.
“O nosso partido perde uma importante personalidade”, lamentou, através do Twitter, o Die Linke, o partido de esquerda radical herdeiro do partido comunista da RDA e do Partido do Socialismo Democrático (PDS), que lhe sucedeu.
Wir trauern um Hans Modrow, der im Alter von 95 Jahren verstorben ist. Unsere Partei verliert eine bedeutende Persönlichkeit. Ohne Hans wäre der friedliche Verlauf 1989 nicht möglich gewesen. Das bleibt sein politisches Vermächtnis. Unsere Anteilnahme gilt seinen Angehörigen. pic.twitter.com/TsG8UPJhfb
— DIE LINKE (@dieLinke) February 11, 2023
“Toda a evolução pacífica de estabelecimento da unidade alemã foi, precisamente, uma conquista especial dele”, acrescenta o partido. “É o seu legado político.”
Modrow nasceu a 27 de Janeiro de 1928 em Jasenitz, na então Prússia Oriental, agora parte da Polónia.
Ao longo da sua carreira política construiu uma reputação de figura anti-sistema, tendo rejeitado, por exemplo, as vantagens que lhe eram garantidas pelo partido e insistido em morar num apartamento normal.
No final da II Guerra Mundial, foi feito prisioneiro pelas forças da União Soviética e entrou num "campo de reeducação" para soldados alemães.
Já na RDA, iniciou a carreira política nas organizações juvenis do Partido Socialista Unificado (SED). Líder do SED em Dresden desde 1973, exerceu o mandato de deputado no Volkskammer (Parlamento) durante 32 anos e integrou ao longo de 20 anos o Comité Central do partido.
No entanto, a subida ao Politburo — órgão máximo do SED — só ocorreu em 1989, após a renúncia de Erich Honecker, secretário-geral do SED, que liderou a RDA entre 1971 e 1989.
A chegada de Modrow à liderança do Governo da RDA dá-se também na sequência da demissão de Honecker, pressionado pelos protestos massivos em todo o território, que pediam reformas democráticas e mais liberdade, e que culminaram com a abertura do muro de separação entre a RDA e a República Federal da Alemanha (RFA) na actual capital alemã, um episódio decisivo para o fim da Guerra Fria.
Hans Modrow foi responsável por organizar parte do processo de transição para a democracia. Inicialmente defendeu a independência da RDA, mas depois foi a favor da reunificação com a RFA.
Foi, ainda assim, acusado pelos seus opositores de querer adiar ao máximo a reunificação e de ter tentado reformar a polícia política da RDA, em vez de a abolir. Também foi considerado culpado por fraude eleitoral, já depois da reunificação.
Nas primeiras e últimas eleições livres na RDA, a 18 de Março de 1990, a União Democrata Cristã (CDU) prevaleceu sobre o Partido Social-Democrata (SPD) e sobre o PDS.
Em Abril desse ano, Modrow entregou o cargo de líder do executivo ao democrata-cristão Lothar de Maiziere que, à frente de um Governo de coligação com o SPD, ficou encarregado de negociar a reunificação alemã.
Após a reunificação, Modrow foi deputado no Parlamento alemão (1990-1994), eurodeputado (1999-2004) e dirigente do Die Linke.