Conquista total de Donetsk e de Lugansk pode demorar dois anos, admite líder do grupo Wagner

Dirigente do grupo paramilitar russo diz que o controlo das regiões separatistas do Leste da Ucrânia é fundamental para o plano de guerra de Moscovo.

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Tanque ucraniano numa das linhas da frente da guerra, em Donetsk Reuters/STRINGER

Ievgueni Prigojin, líder do grupo paramilitar russo Wagner, que combate na Ucrânia em nome da Rússia, admitiu que a conquista das províncias de Donetsk e de Lugansk, no Leste do território ucraniano, pode demorar entre um ano e meio e dois anos. Uma confissão que reforça a ideia de que o conflito iniciado com a invasão das tropas russas à Ucrânia, a 24 de Fevereiro do ano passado, está longe de uma resolução a curto ou médio prazo.

“E se quisermos ir até ao Dniepre, demorará cerca de três anos”, acrescentou Prigojin, citado pela Reuters, em conversa com o blogger de assuntos militares e propagandista russo Semion Pegov, num vídeo publicado na sexta-feira, referindo-se ao rio que atravessa a Ucrânia de Norte a Sul e que banha cidades importantes como Dnipro, Zaporijjia ou Kherson.

Apesar de não falar em nome do Exército russo, Prigojin e os seus mercenários estão envolvidos em algumas das frentes de batalha mais duras e importantes do conflito na região do Donbass, nomeadamente em redor de Bakhmut.

As previsões apresentadas pelo líder do grupo Wagner são relevantes, particularmente num contexto em que os objectivos estratégicos das chefias militares russas parecem estar a ser constantemente redefinidos, tendo em conta o curso da guerra iniciada há praticamente um ano.

Para além disso, são também pertinentes tendo em conta as suspeitas, cada vez maiores, junto do Governo e das Forças Armadas da Ucrânia, de que as tropas russas estão a preparar uma nova ofensiva em larga escala – só não se sabe onde.

Prigojin afirma, ainda assim, que um dos objectivos fundamentais do Kremlin passa por controlar totalmente, e o mais rapidamente possível, as regiões de Donetsk e Lugansk.

Palcos de confrontos entre separatistas pró-russos e Kiev desde 2014, os dois territórios fazem parte do grupo das quatro “administrações militares-civis” ucranianas anexadas pela Federação Russa em Setembro do ano passado, na sequência de pretensos referendos – não reconhecidos pelo Ocidente, nem pela grande maioria da comunidade internacional.

“Se bem entendi, precisamos de terminar as operações nas repúblicas de Donetsk e de Lugansk e isso, em princípio, e por agora, irá agradar a toda a gente”, explicou Prigojin.

Concretamente sobre Bakhmut, um dos actuais pontos de maior choque entre as duas forças militares, e onde o grupo Wagner tem assumido um papel de destaque, o cenário de bloqueio da cidade está em andamento e perto de ser alcançado.

“Ainda é muito cedo para dizer que estamos próximos [de concluir o bloqueio]. Há muitas estradas para sair [na cidade] e menos estradas para entrar. As tropas ucranianas estão bem treinadas”, admitiu. “E, como qualquer grande cidade, é impossível conquistá-la atacando de frente. Mas estamos a lidar bem com a situação.”

Segundo as informações recolhidas pelos Estados Unidos, o grupo paramilitar tem cerca de 50 mil membros a combater na Ucrânia. Desses, dez mil serão mercenários contratados e 40 mil serão pessoas recrutadas nas prisões russas – a quem lhes é oferecida amnistia total se cumprirem seis meses de serviço e uma indemnização às famílias em caso de morte.

Na quinta-feira, porém, Ievgueni Prigojin revelou que “o recrutamento de prisioneiros” para combaterem na Ucrânia tinha “parado completamente”.

Este sábado, no seu relatório diário sobre o conflito, o Ministério da Defesa do Reino Unido sugeriu que esta decisão surgiu no âmbito “cada vez maior rivalidade directa entre o Ministério da Defesa russo e o [grupo] Wagner”.

As preocupações do Kremlin sobre a cada vez maior importância das operações do grupo paramilitar no terreno já foram noticiadas e o think tank norte-americano Institute for the Study of War diz mesmo que as mudanças recentes no comando russo da guerra, nomeadamente com as promoções dos generais Valeri Guerasimov e Aleksandr Lapin, podem ter sido uma resposta à influência do grupo Wagner.

Certo é que, apesar de garantir ter “zero ambições políticas”, Prigojin realçou a Pegov a importância de os comandantes da guerra irem à linha da frente “falar com os soldados” e para perceberem o que se passa efectivamente no terreno.

“Se um general vai às trincheiras falar com os soldados, estes vão ficar francamente maravilhados e muitíssimo satisfeitos”, disse. “Só isso será suficiente para perceberem que não estão sozinhos com os seus problemas.”

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