Serralves quer cortar 30% das emissões de CO2 nos próximos três a cinco anos

Fundação de Serralves apresentou a sua estratégia para a neutralidade carbónica. Instituição admite mudanças que vão desde a redução de plástico a novas formas de montar as exposições.

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Nelson Garrido

Por um lado, o plano de Serralves contempla reduzir o uso de papel e plástico de utilização única, melhorar a eficiência dos seus sistemas de iluminação, instalar painéis solares, cortar com viagens de negócios desnecessárias e trocar o seu plano de energia por um plano mais sustentável, por exemplo. Por outro, Serralves quer, “com algum equilíbrio”, mudar a própria forma como concebe a programação artística e monta as suas exposições. Tudo isto para, nos próximos três a cinco anos, conseguir reduzir as suas emissões em cerca de 30%.

Em 2019, o valor da pegada carbónica da Fundação de Serralves rondou as 2400 toneladas de dióxido de carbono equivalente. A instituição portuense quer baixar este número. Para esse efeito, apresentou esta sexta-feira a sua estratégia para a neutralidade carbónica.

Sobre mudar a forma como concebe a programação, há coisas que a fundação já estará a fazer, segundo sugeriu a sua presidente, Ana Pinho, na conferência em que esta estratégia para a neutralidade carbónica foi apresentada, no auditório da instituição. “Antes, as nossas exposições duravam em média três meses.

Hoje, duram seis”, disse, sugerindo que isto permite à fundação reduzir a sua pegada carbónica: programando porventura menos exposições, encomenda menos obras, o que leva a menos impactos relacionados com o transporte e a montagem das mesmas. Ana Pinho apontou que é “bastante difícil” aumentar este período médio para mais do que seis meses.

Ainda sobre as dinâmicas relacionadas com a programação, a estratégia da fundação para a neutralidade carbónica contempla a vontade que Serralves tem de tentar ter mais exposições “que venham na totalidade do mesmo local”. Ana Pinho deu o exemplo de Deslaçar um Tormento, exposição que esteve patente no Museu de Serralves entre Dezembro de 2020 e Fevereiro de 2022.

As suas obras, referiu, vieram todas do mesmo sítio: o museu privado de arte contemporânea Glenstone, que a partir dos Estados Unidos guarda uma colecção “gigante” da escultora franco-americana. Isto permitiu “poupanças enormes” ao nível do transporte para Portugal.​

Serralves também tem procurado “intensificar” o uso da sua colecção, programando exposições com obras que já cá estão, acrescentou Ana Pinho — que não deixou de frisar que a fundação não pretende prescindir da sua “relevância internacional”. Quaisquer mudanças no que toca à forma como a programação é pensada têm de ser feitas “com algum equilíbrio”, disse. Mas é também preciso ter essa relevância “de forma mais sustentável”.

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Duarte Cordeiro (ao centro), acompanhado por Ana Pinho, presidente da Fundação de Serralves (à sua direita), e por Sobrinho Simões, investigador e administrador não executivo de Serralves, e Helena Freitas, directora do Parque de Serralves (à esquerda) Manuel Roberto

Metas a curto e médio/longo prazo

Esta estratégia da fundação para a neutralidade carbónica é o resultado de um trabalho de consultoria que a instituição encomendou à PwC Portugal. Serralves pediu a esta empresa para calcular a sua pegada carbónica, tendo em conta aquela que foi a sua actividade em 2019 (pré-pandemia).

Cláudia Coelho, da PwC Portugal, explicou esta sexta-feira, na conferência no auditório de Serralves (que contou também com a presença de Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Acção Climática), que a análise procurou ser o mais abrangente possível, olhando tanto para os impactos “internos” — isto é, a pegada carbónica das exposições, da biblioteca e também das acções de conservação do Parque de Serralves, por exemplo — como para os “externos”. “As exposições itinerantes também foram contabilizadas”, ilustrou Cláudia Coelho, que na PwC Portugal é responsável pelas áreas da sustentabilidade e das alterações climáticas.

A empresa também estimou o CO2 emitido pelos visitantes e até as emissões de metano dos animais do parque​. Os cálculos indicaram que, em 2019, a Fundação de Serralves produziu à volta de 2400 toneladas de dióxido de carbono equivalente. Foram formuladas recomendações que, agora, a instituição incorpora na sua estratégia para a neutralidade carbónica.

O plano inclui objectivos a curto e médio/longo prazo. No imediato, a fundação quer adoptar um “plano de energia verde”, melhorar a eficiência dos seus sistemas de iluminação, reduzir a compra de papel e plástico (a PwC recomenda que Serralves reduza em 30%), evitar viagens de avião e apostar na mobilidade sustentável — o que é especialmente desafiante, comentou Ana Pinho. “Temos muita vontade de ter o metrobus a passar aqui perto, para que os nossos colaboradores e as pessoas que nos vêm visitar consigam aceder mais facilmente à fundação. Infelizmente, hoje em dia não é fácil vir da Baixa do Porto para Serralves.”

A médio/longo prazo, Serralves quer acabar com o consumo de gás para aquecimento no edifício do museu, instalar painéis solares e também tentar dar primazia a fornecedores de materiais de construção que estejam alinhados com práticas sustentáveis.

Ana Pinho salientou que a fundação faz “muitas construções” nas suas exposições. As salas do museu transformam-se para acolher as diferentes obras que por elas passam. Importa, portanto, que a “escolha dos materiais” de construção que são usados seja feita de forma “consciente”.

Relativamente ao contacto estabelecido pela instituição com os artistas que programa, a presidente da fundação afirmou que é inteligente “incentivá-los a virem cá só quando é estritamente necessário”.

Ana Pinho acrescentou que a fundação quer saber qual é o consumo hídrico do Parque de Serralves, para saber como pode poupar mais água. Está ainda a ser calculada, no âmbito de um estudo pormenorizado, a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que as árvores do parque conseguem armazenar anualmente.

Serralves quer reduzir as suas emissões de CO2 em cerca de 30% nos próximos três a cinco anos. “Julgo que conseguiremos chegar lá num horizonte [temporal] até mesmo mais curto”, disse, optimista, a presidente da fundação, que aproveitou ainda para acrescentar que, a partir de 2024, a instituição cultural portuense quer começar a fazer relatórios anuais de sustentabilidade, para conseguir monitorizar o progresso.