Disparar enormes quantidades de poeiras lunares para o espaço para criar uma barreira que diminua a quantidade de luz do Sol que chega à Terra, para combater o aquecimento global. Terra. Essa é a proposta avançada num artigo científico publicado esta semana na revista PLOS Climate.
Diga-se, logo à partida, que a ideia não só é polémica como implicaria elevados custos e o desenvolvimento de nova tecnologia avançada. Há maneiras mais práticas e mais fáceis de lutar contra as alterações climáticas, como reduzir as emissões de gases com efeito de estufa dos combustíveis fósseis, por exemplo.
“Não podemos permitir que a humanidade abandone o objectivo mais importante que é reduzir as emissões de gases de estufa aqui no nosso planeta. Isso tem de ser prioritário”, disse ao jornal Washington Post Ben Bromley, astrofísico da Universidade do Utah e autor principal do artigo. “A nossa ideia é uma forma – e uma forma muito, muito intensa – de contribuir para a mitigação climática, se precisarmos de tempo aqui na Terra”, explicou.
A equipa chegou a esta ideia inspirando-se no que acontece quando se formam planetas em torno de estrelas. Há muitas colisões de materiais rochosos, que produzem enormes quantidades de poeiras, que podem tornar-se uma barreira para a difusão da luz da estrela.
Mineração na Lua
Os cientistas fizeram várias simulações em computador para testar vários cenários em que enormes quantidades de poeiras no espaço criariam uma espécie de um escudo que reduzisse a quantidade de luz do Sol que chega ao nosso planeta em 1% a 2% - o equivalente a seis dias nublados num ano. Mas para isto acontecer, precisariam de quantidades verdadeiramente gigantescas de poeiras: mais de dez mil milhões de quilos, o que é 100 vezes mais massa do que tudo o que seres humanos enviaram para o espaço até ao presente.
Os modelos testaram a possibilidade de usar sal ou partículas de carvão para criar essa barreira, mas acabaram por concluir que o melhor seria usar poeiras lunares. “Uma parte excitante do nosso estudo foi perceber que os grãos de poeira naturais da Lua têm o tamanho e composição certos para dispersar a luz do Sol que chega à Terra”, disse Ben Bromley ao jornal britânico The Guardian.
A forma mais barata de fazer isto seria minerar as poeiras lunares e dispará-las a partir da superfície do satélite natural da Terra com um canhão. Provavelmente seria um canhão electromagnético (que usa a força electromagnética para lançar projécteis a alta velocidade). “Criar-se-ia como que um interruptor que regula a intensidade da luminosidade que chega à Terra, mas deixaria o nosso planeta intacto”, assegura Bromley, em declarações ao Guardian.
A logística e as despesas de levar o equipamento necessário para a Lua e pô-lo a funcionar” seriam os principais obstáculos”, disse ao Washington Post Scott Kenyon, do Observatório Astrofísico Smithsonian, nos EUA, outro dos autores do artigo. A partir da Terra, não se notaria diferença nenhuma, garantem os cientistas.
Poderia ser necessário construir uma estação espacial num ponto Lagrange, que é um ponto do espaço em que há equilíbrio entre a gravidade da Terra e da Lua, para disparar as poeiras a partir daí.
Geoengenharia é polémica
Além disso, as poeiras lunares teriam de ser lançadas constantemente para o espaço para conseguir o efeito de diminuir o aquecimento global. Se parasse esse efeito de arrefecimento temporário, corríamos o risco de o planeta aquecer mais rapidamente, explicou ao Guardian Ben Bromley.
Este é um projecto de geoegenharia, ou seja, o uso de tecnologia num projecto de larga escala para afectar os sistemas naturais da Terra de forma a contrariar os efeitos das alterações climáticas.
Por exemplo, logo em 1999, James Early do Laboratório Nacional Lawrence Livermore (EUA), propôs pôr em órbita entre o Sol e a Terra um escudo fino de vidro com cerca de 2000 km de diâmetro.
O cientista atmosférico Emmi Yonekura, da Rand Corporation, que propôs que se usassem espelhos no espaço para reflectir a luz solar que chega à Terra, não é contrário a estas abordagens. “Ainda não resolvemos o problema das alterações climáticas, por isso estas novas ideias são boas para gerar reacções e novas deias”, disse ao Washington Post.
Mas estes conceitos de geoengenharia são polémicos na comunidade científica. “A ideia que fazer mineração na Lua em asteróides próximos da Terra para bloquear artificialmente parte da luz do Sol não é uma solução para a crise climática, que se está a intensificar. O que precisamos é de cortes maciços nas emissões de gases com efeito de estufa, que exigem rápidos avanços tecnológicos e transições socioeconómicas”, disse ao Guardian Frank Biermann, professor de sustentabilidade global na Universidade de Utrecht, nos Países Baixos.