Neonazi Mário Machado acusado de incitamento à violência sexual

Troca de mensagens no Twitter sobre “prostituição forçada de gajas do Bloco, do MRPP e do MAS” valem a militante neonazi novos problemas com a justiça.

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Mário Machado foi acusado de novo pelo Ministério Público ENRIC VIVES-RUBIO

O militante neonazi Mário Machado foi acusado pelo Ministério Público de discriminação e incitamento ao ódio e à violência no caso dos insultos sexuais mulheres ligadas a partidos de esquerda, em particular à porta-voz do Movimento Alternativa Socialista, Renata Cambra.

O caso remonta há um ano, altura em que Mário Machado defendeu, numa troca de mensagens com o amigo Ricardo Pais no Twitter, a “prostituição forçada das gajas do Bloco”.

“Concordo”, retorquiu-lhe o interlocutor. “Incluam as do MRPP, MAS e PS”.

“Tipo arrastão”, continua Mário Machado. “A Renata Cambra terá tratamento VIP”, promete Ricardo Pais, acrescentando que isto serviria para “motivar as tropas na reconquista”.

Diz a acusação do Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa que os arguidos usaram as redes sociais para “apodar de prostitutas todas as mulheres” dos partidos em causa, em especial Renata Cambra, ofendendo-as não só na qualidade de militantes mas também por pertencerem ao sexo feminino. Na sequência deste episódio, a conta de Mário Machado no Twitter chegou a estar suspensa.

Recordando o historial criminal do neonazi, que já foi condenado várias vezes pela justiça e cumpriu sete anos de cadeia por roubo, sequestro, ameaça, coacção e posse ilegal de arma. Extorsão e discriminação racial também fazem parte do elenco dos crimes que já cometeu ao longo da vida.

Em Fevereiro de 2010, o então líder dos Hammerskins Portugal foi condenado a oito meses de prisão por difamação da procuradora Cândida Vilar, e em Abril do mesmo ano o Tribunal de Estarreja julgou-o à revelia e aplicou-lhe uma pena de 48 fins-de-semana na cadeia por desacatos numa estação de abastecimento de combustíveis.

Em Julho de 2011, foi multado em 440 euros de multa por posse de arma proibida e, cerca de um mês depois, condenado a sete anos e dois meses de prisão, pena reduzida em quatro meses no recurso do Tribunal da Relação. Em Novembro de 2021, a Polícia Judiciária encontrou na sua residência uma arma de fogo, munições e bastões de basebol. Quanto à sua primeira condenação, por envolvimento nos distúrbios que levaram à morte de Alcindo Monteiro junto ao Bairro Alto no Verão de 1995, Mário Machado foi sentenciado a dois anos e meio de cadeia por ter agredido nessa noite com um bastão de baseball, juntamente com outros skinheads, várias pessoas negras, não tendo no entanto participado no ataque à vítima mortal. Tudo se passou a 10 de Junho, dia de Portugal, considerado pela extrema-direita o dia da raça.

É por causa do cadastro que acumulou nos últimos anos que o Ministério Público quer, no processo da "prostituição forçada", que seja punido como reincidente – ou seja, de forma mais severa. Segundo o Código Penal, quem difamar ou injuriar outrem por causa da sua raça, cor, origem étnica ou nacional, ascendência, religião, sexo, orientação sexual, identidade de género ou deficiência física ou psíquica sujeita-se a uma pena de prisão que vai de seis meses a cinco anos. Em caso de reincidência, o limite mínimo da pena aplicável pode ser aumentado em um terço.

Não é a primeira vez que as mensagens de Mário Machado nas redes sociais lhe dão problemas: em 2019 o Ministério Público abriu um inquérito depois de ter apelado aos seus seguidores para que localizassem os autores do baleamento mortal do empregado de uma discoteca em Vilamoura nos seguintes termos: "Procura-se assassino! Não o entreguem às autoridades, se souberem do seu paradeiro enviem-nos mensagem privada".

A mais recente acusação do DIAP surgiu na sequência de uma queixa-crime apresentada por Renata Cambra, que é representada pelo advogado Garcia Pereira. Contactado pelo PÚBLICO, o advogado de Mário Machado, José Manuel Castro, disse que não tenciona requerer a abertura de instrução do processo, uma fase equivalente a uma espécie de pré-julgamento, razão pela qual o caso deverá seguir directamente para julgamento.

"Estas publicações transformaram-me num alvo para a extrema-direita, num troféu", resume a porta-voz do MAS, explicando que na altura teve de modificar as suas rotinas quotidianas. "Todas as mulheres visadas pelos tweets tiveram uma sensação de profunda insegurança, por eles configurarem uma ameaça de violação".

Professora do ensino básico e secundário, Renata Cambra ganhou algum protagonismo na sequência da campanha para as últimas legislativas. A sua militância antifascista e feminista podem ter aguçado o interesse de grupos como o de Mário Machado, equaciona a queixosa.

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