Sismo não travou as bombas de Assad e de Erdogan

Políticos britânicos denunciam “ataque hediondo” em cidade síria atingida pelo terramoto. Turquia “retaliou” contra curdos, acusando-os de “se aproveitarem” do sismo.

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Abrigo temporário para vítimas do terramoto em Idlib, uma das zonas da Síria que escapa ao controlo de Assad Reuters/STRINGER

O regime de Bashar al-Assad bombardeou a cidade de Marea, no Nordeste da Síria, menos de duas horas depois do devastador terramoto de segunda-feira. “As pessoas da Síria mal sobreviveram a 12 anos de bombas-barril, ataques químicos e bombardeamentos do regime de Assad e da Rússia”, lembrou a deputada britânica Alicia Kearns. “Os ataques contra infra-estruturas e hospitais, durante anos, fazem [do sismo] uma catástrofe humana. E como é que Assad responde? Volta a bombardear”, denunciou, no Twitter.

Kearns, membro do Partido Conservador que preside à Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento britânico, descreveu este ataque como “verdadeiramente cruel e hediondo.”

Marea está localizada 25 quilómetros a norte de Alepo, a cidade descrita pela ONU como “herança cultural imaterial”, tantas vezes arrasada desde a revolta síria de 2011. Prédios de habitação voltaram a cair, como folhas de papel, enterrando os seus habitantes em escombros, desta vez pela força do abalo. A Cidadela, Património Mundial da UNESCO, que sobrevivera a bombas, combates e ao incêndio que devastou o souq medieval, foi agora parcialmente destruída. Os sírios que ali vivem, como nas regiões em redor, pessoas que a guerra tornou deslocadas, uma e outra vez, voltaram a perder familiares e a ficarem desalojados.

“Ouvi o som de vários projécteis a cair na área mais ou menos às 2h”, afirmou um habitante na zona ao site de notícias Middle East Eye (MEE). De acordo com um responsável militar ouvido pelo mesmo jornal, “não houve vítimas”, numa altura em que “toda a gente estava ocupada com o desastre do terramoto”. Os bombardeamentos, diz a oposição síria, complicaram ainda mais os esforços de resgate.

“Infelizmente, isso confirma um padrão de comportamento adoptado há muito pelo regime de Assad, um regime que condenamos, sancionamos e vamos sancionar mais, em colaboração com os nossos amigos e parceiros internacionais, para tentar impedir que este tipo de comportamentos se repita”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, citado pela estação de televisão Sky News. “É totalmente inaceitável.”

O regime está a usar o terramoto, que já fez mais de 3000 mortos na Síria – a maioria em zonas controladas por diferentes grupos de rebeldes, muitos em regiões curdas –, precisamente para pedir o fim das sanções. Damasco considera que isso faria a diferença na resposta à catástrofe, sublinhando a falta de combustível “para enviar viaturas de ajuda e resgate, e isso por causa do bloqueio e das sanções”. A oposição síria, Londres ou Washington discordam e lembram que as operações humanitárias estão excluídas das sanções.

Os curdos da Síria, que enfrentam em simultâneo Assad, o Daesh e a Turquia, foram ainda alvo de bombardeamentos ordenados pelo Presidente turco, Reccep Tayyip Erdogan. Segundo o Ministério da Defesa de Ancara, foram os combatentes das YPG (Unidades de Defesa do Povo), o braço armado do PYG (Partido da União Democrática), que começaram por lançar rockets na direcção de um posto fronteiriço, “aproveitando” o sismo. Em resposta, os militares turcos atacaram supostas posições das YPG na terça-feira.

Apoiadas pelos Estados Unidos depois de o Daesh ter chegado ao Nordeste da Síria, em 2013, as YPG continuam a ser o principal aliado de Washington na região. A Turquia considera que estas milícias são o braço sírio do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), o movimento rebelde que a União Europeia considera um grupo terrorista. Na Turquia o número de mortos provocados pelo sismo ultrapassou já os 14 mil.

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