Número de mortos do sismo na Turquia e na Síria supera os 20 mil

População turca queixa-se de atrasos nos trabalhos das equipas de resgate, que têm sido dificultados pelas baixas temperaturas. Ajuda começou a chegar à Síria.

sismo-turquia-siria,mundo,siria,turquia,
Fotogaleria
Um homem chora num cemitério em Kahramanmaras, na Turquia Reuters/SUHAIB SALEM
Só na Turquia há 13 mil mortos
Fotogaleria
As autoridades turcas avisam que o balanço final será ainda mais dramático Reuters/SUHAIB SALEM

O número de mortos no sismo que abalou a Turquia e a Síria na madrugada de segunda-feira ultrapassou os 20 mil, e as autoridades avisam que o balanço final será ainda mais dramático, à medida que as equipas de busca e salvamento prosseguem os seus trabalhos.

As hipóteses da descoberta de sobreviventes vão sendo cada vez menores e o trabalho continua dificultado pelas baixas temperaturas que se fazem sentir nos dois países. É na Turquia que se regista, para já, o balanço de vítimas mais elevado, com 17134 mortos confirmados, a que se somam os 3317 da Síria - país onde é mais difícil obter informação correcta, uma vez que os sismos afectaram zonas controladas pelo Governo de Bashar al-Assad e outras controladas por grupos rebeldes.

Na Turquia, muitos sobreviventes acusam os serviços de emergência de terem respondido de forma lenta e são conhecidos casos de pessoas que esperaram vários dias para serem resgatadas. “Onde está o Estado? Por onde andaram durante dois dias? Imploramos que nos deixem retirar as pessoas, nós conseguimos”, disse Sabiha Alinak, na quarta-feira, em frente aos destroços de um edifício em Malatya, na Turquia, onde os seus familiares estão encurralados.

Na quarta-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, admitiu que foram registados problemas, mas garantiu que a situação está “sob controlo”.

Segundo especialistas ouvidos pela BBC, um dos problemas mais graves é uma série de “amnistias” que foram sendo concedidas aos construtores ao longo dos anos na Turquia — a troco do pagamento de uma taxa —, para a isenção dos requisitos de construção mais apertados exigidos nas últimas duas décadas, na sequência de um sismo com mais de 17 mil mortos em Izmit, em 1999.

A presidente de uma federação de sindicatos de engenheiros e arquitectos de Istambul, Pelin Pinar Giritlioglu, citada pela BBC Turquia, disse que 75 mil edifícios na zona afectada pelo terramoto foram alvo de amnistias.

“Infelizmente, após cada terramoto, damos connosco a falar sempre dos mesmos problemas”, disse a jornalista turca Ozge Ozdemir na rede social Twitter. “Estes terramotos recentes ocorreram após o despertar de uma falha que esteve adormecida durante anos, e a Turquia foi vítima da natureza e da sua geografia. Mas os especialistas dizem sempre a mesma coisa: é preciso adoptar medidas para se evitar o colapso de edifícios.”

Ajuda a caminho da Síria

E se na Turquia os trabalhos de resgate são dificultados pelas baixas temperaturas, na vizinha Síria o maior problema é a destruição das infra-estruturas e dos serviços provocada por anos de guerra, e também os obstáculos políticos entre o regime de Bashar al-Assad e os rebeldes.

Só nesta quinta-feira — mais de 72 horas depois do principal abalo na região — chegou a território da Síria uma caravana de seis camiões com ajuda humanitária. Segundo a agência Reuters, o objectivo é que a ajuda comece a ser distribuída em alguns locais ocupados pelos rebeldes anti-Assad ainda nesta quinta-feira.

A ajuda humanitária começa assim a chegar a uma região do Nordeste da Síria onde vivem quatro milhões de pessoas, que já dependiam desse tipo de assistência excepcional antes do terramoto.

O embaixador sírio nas Nações Unidas admitiu que o Governo tem “falta de capacidades e de equipamento”, o que atribuiu a mais de uma década de guerra e às sanções impostas ao regime de Bashar al-Assad.

“Estamos numa fase crítica. O tempo está a esgotar-se, centenas de famílias estão ainda soterradas nos escombros”, disse no Twitter a organização não-governamental Defesa Civil da Síria, mais conhecida como Capacetes Brancos.

“Cada segundo importa no salvamento de uma vida. Mais de 75 horas após o terramoto, as nossas equipas continuam a enfrentar grandes dificuldades nas operações de busca e salvamento, e precisam urgentemente de maquinaria pesada para remover os destroços.”

Segundo a correspondente da BBC no Médio Oriente, Anna Foster, a entrada na Síria é dificultada pelas consequências da guerra, mas também por razões políticas.

“Os corredores humanitários que existiam no país têm sido gradualmente encerrados ao longo dos anos. Actualmente existe apenas um desses corredores, através de Bab al-Hawa, em direcção a território ocupado pelos rebeldes. E só está aberto por causa de um mandado do Conselho de Segurança da ONU”, disse a jornalista no site da BBC. “Esse mandado foi renovado mais uma vez em Janeiro, por mais seis meses. Mas os danos provocados pelo terramoto obrigaram ao encerramento do corredor durante dias.”

E, mesmo quando o caminho é transitável, o obstáculo é a situação política no país, diz Foster. “As caravanas humanitárias não conseguem chegar à região ocupada pelos rebeldes, no Noroeste da Síria, sem autorização [do Governo sírio]. É por isso que estamos a ver muita ajuda a caminho da Turquia e não da Síria.”

Sugerir correcção
Ler 5 comentários