Moradores das Fontainhas continuam à espera de levantamento dos prejuízos das inundações
Além da chuva forte, as cheias nesta ilha do Porto foram agravadas por problema com encanamento de uma ribeira. Inquilinos dizem não ter sido informados de que câmara quer comprar o Bairro dos Moinhos
Alguns dos moradores do Bairro dos Moinhos, que já está na zona das Fontainhas que faz parte da freguesia do Bonfim, de há um mês para cá, deixaram de poder usar algumas das suas peças de roupa e de mobiliário ou de poder contar com os seus electrodomésticos. A enxurrada de início do ano, que inundou as casas da ilha edificada junto à Rua de São Victor na sequência das chuvas fortes que afectaram o Porto e do rebentamento de uma tubagem que encana a Ribeira do Poço da Pata, destruiu muitos dos pertences das 23 famílias que ali residem.
Quem ali mora ficou à espera que a câmara pudesse ajudar a encontrar uma forma de minimizar o prejuízo. Dias depois do sucedido, Rui Moreira avançou que os moradores deveriam elaborar um relatório para que os estragos pudessem ser apurados. A factura seria paga pelo Estado, “através da Comissão de Coordenação”, dizia na altura o presidente da Câmara do Porto. No mesmo dia, deu a conhecer a vontade da autarquia em adquirir o conjunto habitacional para o reabilitar. Um mês depois, os moradores dizem ainda aguardar que o levantamento dos danos seja realizado. Sobre o interesse da câmara em comprar o bairro adiantam que nem o município, nem os senhorios comunicaram a quem ali mora sobre essa possibilidade.
“A situação está igual. Ainda ninguém falou connosco e ninguém resolveu nada. Estou como estava na altura”, diz ao PÚBLICO Jorge Teixeira, de 36 anos, que no dia da inundação teve de remover para o pátio algum mobiliário, electrodomésticos e roupa “apanhados” pela água. Grande parte do material escolar dos filhos também ficou danificado. Pergunta-se se alguém esteve na ilha a falar com os moradores para apurar o prejuízo decorrente da enxurrada. “Ninguém”, atira.
Na semana das inundações a autarquia, através da Segurança Social, ofereceu alojamento temporário numa pensão do Bonfim a quatro famílias mais afectadas. Porém, só uma é que aceitou, mas apenas por uma noite, por considerarem não existir condições de habitabilidade na alternativa encontrada. A maioria dos moradores permanece no bairro. “Para já só saíram três”, diz. Duas estão em casa de familiares e outra “terá encontrado outra solução”.
Intenção de compra não foi comunicada
Sobre o interesse da câmara em comprar as 23 casas diz não ter existido qualquer comunicação feita aos inquilinos, quer pelo município, quer pelo senhorio. “Para já não se sabe de nada. Ninguém nos disse nada. O senhorio esteve aqui há uns tempos, para lá e para cá, e não disse nada. Mas não conto com isso tão cedo. Já andam a prometer há tantos anos”, desabafa.
Morador do Bairro dos Moinhos há 18 anos, Herculano Sandiares, de 59 anos, subscreve o que foi dito pelo seu vizinho. Não foi tão afectado pela enxurrada como outros moradores. “Mas há vizinhos com muitos danos”, assegura. Nas últimas semanas, só viu entrar na ilha elementos da Protecção Civil para “verem se há risco de derrocada”. E, no dia seguinte às inundações, o presidente da junta, João Aguiar.
Conhece a intenção de a Câmara do Porto querer comprar o bairro. Mas preferia ter recebido a informação por outra via. “Ouvi o Dr. Rui Moreira dizer na televisão que [a câmara] queria comprar as 23 casas”, recorda. Também não foi informado pelo senhorio.
Um dos senhorios – são vários e da mesma família -, que preferiu manter o anonimato, confirma ao PÚBLICO já ter sido feita uma primeira abordagem pela câmara no sentido de avançar com o negócio, mas, sublinha, o processo ainda está numa fase muito embrionário. Esse é motivo por se ter considerado ser “prematuro” avançar com a informação aos moradores, justifica.
Já a câmara entende ter sido suficiente fazer chegar essa informação através de declarações públicas de Rui Moreira e, por e-mail, adianta que “o processo de negociação para a aquisição do bairro está em curso”. “A intenção do município, numa primeira fase após aquisição, será rever todo o sistema hidráulico do bairro”, lê-se. Sobre o futuro dos moradores quando o bairro for adquirido e sobre as queixas dos moradores relativamente à ausência de um levantamento de danos causados pelas inundações, que foram agravadas por problemas com origem no encanamento da Ribeira do Poço das Patas, a autarquia optou por não responder.