Altar-palco é caro? Governo abriu “concurso para casas de banho, ecrãs e iluminação por oito milhões”

Para Moedas, os gastos com altares-palcos são “uma pequena parte” do custo de um evento como a Jornada Mundial da Juventude, mas projectos estão a ser revistos. “Poupanças” apresentadas em breve.

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Carlos Moedas em entrevista ao PÚBLICO e Rádio Renascença Daniel Rocha

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, considera que há uma “politização” à volta da realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorrerá em Agosto, em Lisboa. Em entrevista ao programa Hora da Verdade do PÚBLICO/Renascença​, considera que este é um evento que deve ser um “orgulho” para o país, já que porá “Portugal e Lisboa no centro do mundo”.

Sobre os trabalhos a cargo do município, como os polémicos altares-palcos dos parque Tejo e Eduardo VII, diz estarem a ser revistos para serem mais baratos. Essas “poupanças”, garante, deverão ser apresentadas nos próximos dias. E sublinha que, do investimento previsto de 35 milhões de euros, “mais de 70% vão ficar para a cidade”.

O altar-palco do Parque Tejo vai custar menos do que os quatro milhões de euros?
Fui o primeiro a dizer que este evento não deveria custar à câmara mais de 35 milhões de euros, o que na altura criou alguma celeuma porque muitos disseram que o presidente da câmara não queria pagar. Houve e há uma preocupação de investimento e de custo. Eu estou cada vez mais perplexo com a política em Portugal. Foi a politização de algo que nunca deveria ter sido politizado. Foi a politização de um evento desta natureza, um evento em que todos os protagonistas lá estiveram em 2019. Eu não estava lá.

O que é que eu quero dizer com isto? Quando olhamos para o custo dos quatro ou cinco milhões que veio a tornar-se o problema, ao mesmo tempo, o Governo abre um concurso para casas de banho, ecrãs e iluminação por oito milhões de euros. Então o ponto eram os quatro ou cinco milhões do altar? Desta infra-estrutura que vai ficar? Destes 35 milhões de investimento da Câmara de Lisboa, mais de 70% vão ficar para a cidade. Estamos a falar em transformar toda uma zona da nossa cidade para melhor.

Mas é possível baixar aquele custo? E a Mota-Engil, que tem um contrato assinado com a SRU [Sociedade de Reabilitação Urbana], entende que isso é possível?
Nós fizemos algo que foi além do que a lei nos obrigava. Não fizemos uma adjudicação directa normal. Fizemos uma consulta a várias empresas do mercado, negociámos os preços dentro daquilo que era o caderno de encargos. Estamos a receber o Papa. Estamos a falar numa figura que tem mais segurança do que o Presidente dos Estados Unidos da América.

Não estamos a falar num palco, estamos a falar numa infra-estrutura. Como é que o Papa vai subir a essa infra-estrutura? Como é que desce em caso de emergência? Estamos em reuniões técnicas a ver o que é que podemos reduzir. Não posso dizer ainda neste momento, porque isso tem que ser feito com todo o cuidado técnico. Mas nos próximos dias iremos anunciar que poupanças é que podemos ter tanto no palco como também no Parque Eduardo VII.

Adaptar e redimensionar estas estruturas será na ordem dos milhares ou dos milhões de euros?
Não vou aqui abrir qualquer expectativa. O que estou a fazer é um trabalho de engenharia sério. Os portugueses quiseram este evento, que tem que ter condições dignas e de segurança. Vai ser um parque que tem 100 hectares. Para as pessoas poderem ver o Papa temos de ter um palco digno. Dentro disso vamos retirar tudo o que pode não ser necessário.

O projecto já foi revisto?
Os engenheiros estão a rever todos os detalhes para minorar o custo [do projecto], mas [garantindo] que tenha estas condições de segurança. Agora, repito, estamos a falar de um custo que é uma pequena parte do custo de um evento como este. Estamos no maior evento de juventude do mundo, que envolve um milhão e meio de pessoas. Portugal e Lisboa serão o centro do mundo. Vão ver-me sempre na linha da frente a defender este evento, porque traz um retorno enorme para a cidade. Vamos fazê-lo muito bem e deve ser um orgulho para o país termos este evento.

O palco do Parque Eduardo VII será para manter ou será redimensionado?
Estamos também a redimensionar o do Parque Eduardo VII. É uma opinião pessoal, mas é uma imagem absolutamente incrível de Lisboa. Se conseguirmos reduzir os preços para que esse palco tenha as condições necessárias, penso que seria de manter, mas com um custo muito inferior ao que estávamos a trabalhar. Com D. Américo [Aguiar] temos feito um grande trabalho de equipa. Ainda esta semana espero poder anunciar essas reduções.

Está fora de hipótese prescindir desse palco?
O que temos falado é conseguir reduzir ao máximo os custos desse palco. É uma opinião conjunta que deveríamos manter esse palco, até para que as pessoas se possam movimentar. Tudo isto tem uma parte de mobilidade e de segurança na cidade que é importante e, portanto, não pode ser visto apenas como querer ou não querer um palco.

Tem havido alguma tensão com o coordenador do grupo de projecto do Governo, José Sá Fernandes. Já disse que passaria a “coordenar directamente tudo aquilo que será feito a partir de agora”. Isso quer dizer exactamente o quê?
No papel da câmara municipal, mando eu com o meu vice-presidente. É essa a nossa responsabilidade.

Mas há responsabilidades que são transversais e que se cruzam com as do coordenador do grupo de projecto...
Eu trabalho directamente com a senhora ministra Ana Catarina Mendes e com o senhor ministro José Luís Carneiro, com quem temos uma excelente relação. Eu tenho uma equipa e eles têm outra. A equipa deles é quem eles quiserem. Não sou eu que me meto na escolha das equipas deles.

Não vai reunir-se mais com Sá Fernandes?
Eu nunca me reuni com o senhor José Sá Fernandes. Eu sempre me reuni com a senhora ministra Ana Catarina Mendes. Não aceitamos interferências de emissários ou comissários ou coordenadores do Governo.

O plano de segurança e o de mobilidade estão a cargo do Governo. Isso está a ser articulado com a Câmara de Lisboa? Está preocupado com o andamento desses planos?
No que está na minha responsabilidade, estamos mais avançados do que todos os outros. O plano de mobilidade preocupa-me, está a ser tratado entre os técnicos, o Regimento de Sapadores Bombeiros, a Polícia Municipal. Estamos a trabalhar a 300%.

Em relação à segurança, confirma-se que nesses dias da JMJ vai ser necessário fechar as fronteiras? Isso já está fechado?
É uma pergunta que tem que fazer ao ministro da Administração Interna. Temos de ter aqui uma segurança máxima das pessoas que entram e saem do país nessas alturas. A minha opinião é que vamos ter que ter um controlo apertado.

A sua opinião é que deve haver um controlo?
Sem dúvida. Mas esse controlo deve existir pela dimensão do evento. Estamos a falar de um evento como nunca houve em Portugal e, portanto, há que ter todos os cuidados em relação à entrada no país de pessoas que possam ser perigosas para o evento.

O palco do Parque Tejo vai servir para eventos como a Web Summit ou o Rock in Rio?
Esta infra-estrutura a que chamamos palco, a que chamamos altar, deve ser reutilizada para o futuro. É uma infra-estrutura da câmara, que depois irá negociar com várias empresas para ver qual é aquela que permite uma utilização melhor desse futuro palco. Não seria o momento de revelar que conversações é que tenho com determinadas empresas ou com determinados produtores que estão hoje também a aconselhar-nos sobre o que será o futuro daquele palco.

Aquele espaço pode vir a ser concessionado?
Obviamente que a câmara municipal não é especialista em eventos, portanto, vai ter que haver especialistas de eventos que os façam no palco. Temos a nossa empresa de cultura em Lisboa, a EGEAC, que vai trabalhar e que nos está a ajudar a pensar o futuro do palco. Podemos ter ali eventos extraordinários, porque aquele sítio vai marcar. Daqui a dez ou 20 anos, as pessoas vão querer vir a Lisboa ver onde é que o Papa esteve.

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