Portugal recebeu mais sete navios de gás dos EUA em 2022
Em dois anos, o número de cargas recebidas em Sines a partir de terminais exportadores norte-americanos duplicou, para um total de 24 navios.
O peso dos Estados Unidos no abastecimento de gás natural a Portugal aumentou em 2022, ano em que chegaram ao terminal de Sines 24 navios de origem norte-americana.
Segundo o boletim de utilização das infra-estruturas de gás natural da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), o país recebeu 70 navios com gás natural liquefeito (GNL) no ano passado, dos quais 34 vieram da Nigéria (quantidade idêntica à proveniente daquele país em 2021). O segundo maior fornecedor foram os Estados Unidos da América (EUA), de onde chegaram 24 navios metaneiros, mais sete do que os 17 de 2021 e o dobro dos 12 de 2020.
Outras cargas GNL que chegaram a Sines (que foi a porta de entrada de 93% do gás no país) no ano passado vieram de Trinidad e Tobago (oito), Rússia (três, comparativamente com as nove de 2021) e Guiné Equatorial (um).
Segundo a REN, cada navio deixa em Sines cerca de 145.000 metros cúbicos de GNL, o suficiente para abastecer Portugal durante uma semana.
A EDP e a Galp são duas empresas responsáveis por trazer gás dos Estados Unidos para Portugal. Em 2014, a EDP a assinou um acordo com a empresa Corpus Christi Liquefaction, LLC, subsidiária da Cheniere Energy para o aprovisionamento de mil milhões de metros cúbicos de GNL por ano (um bcm, de billion cubic meters, em inglês), por um período de 20 anos (que poderão alongar-se por mais dez anos, se a EDP quiser). Este gás provém de um projecto da Cheniere no Texas.
Já a Galp terá começado a receber este ano o gás que contratou em 2018 com a Venture Global a partir do terminal de exportação de Calcasieu Pass, em Cameron Parish, no estado norte-americano da Louisiana. São um milhão de toneladas por ano de GNL.
Além disso, a petrolífera também anunciou em 2022 um acordo com a norte-americana NextDecade Corporation para começar a receber cargas a partir de 2027, por um período de 20 anos. O acordo prevê a entrega de “um milhão de toneladas anuais de GNL proveniente do projecto Rio Grande LNG, no Texas, durante um período de 20 anos”, revelou a Galp, em Dezembro passado.
Quanto à Nigéria, que é a maior abastecedora da Galp (e do mercado regulado português), apesar dos alertas feitos pela Galp sobre a regularidade dos abastecimentos a Portugal, manteve o mesmo volume de navios face a 2021.
Em 2022, a energia descarregada no terminal gerido pela REN Atlântico totalizou 63,33 terawatt hora (TWh), comparativamente com os 62,6 TWh de 2021, e representam um novo máximo histórico. Quanto ao volume de importação de gás a partir do VIP Ibérico (gasoduto), totalizou 4,7 TWh, representando um aumento na importação de gás de 14% relativamente ao período homólogo. As exportações também aumentaram no ano passado.
Portugal exportou mais e consumiu menos
Segundo o boletim da ERSE, o volume exportado de gás a partir de Portugal totalizou 3,5 TWh, o que se traduziu um aumento de 30% face ao período homólogo. O gás destinado à exportação entrou em Portugal através Sines, “onde foi regaseificado e injectado na rede de transporte de gás”.
No terminal de Sines, a REN Atlântico recebe o GNL e armazena-o nos tanques da instalação para depois regaseificar e injectar este gás na rede nacional. Mas, além disso, no terminal também se realiza o enchimento de cisternas, como aquelas que são usadas para abastecer unidades autónomas de distribuição ou consumo de gás (UAG). Em 2022, foram abastecidas 6592 cisternas de GNL, correspondentes a 1,9 TWh.
Segundo a ERSE, o número de enchimentos diminuiu 12,4% face a 2021, num ano que ficou marcado pela redução do consumo de gás, em linha com a estratégia europeia de combate à dependência russa, mas motivada essencialmente pelo factor preço.
“O consumo de gás em Portugal, em 2022, foi de 61,8 TWh (59,9 TWh, excluindo as redes abastecidas por UAG), menos 3,3% do que no mesmo período do ano anterior”, refere a entidade reguladora. A queda de consumo “é especialmente visível no segmento industrial (-32,7% no consumo industrial em alta pressão), mas também nos consumidores mais pequenos (-11,5% no consumo das redes de distribuição)”.
O consumo final de gás das empresas e famílias (dito “consumo convencional”) caiu 23%, para 33,7 TWh (31,8 TWh sem as redes de UAG), o que está fortemente associado à volatilidade de preços agravada pela agressão russa contra a Ucrânia.
No caso do consumo para produção de electricidade, o volume usado aumentou 26%, para 28,1 TWh, em 2022 devido “ao prolongado período de seca e à desactivação das centrais a carvão”.