Netflix aperta partilha de contas em Portugal. O que fará a concorrência e quanto custa?
Os preços, as intenções e o potencial preço a pagar pela Netflix se parte dos seus utilizadores não voltarem - ou o que tem a ganhar com a medida que entrou em vigor quarta-feira no país.
A Netflix anunciou quarta-feira que a partilha de contas em Portugal e três outros países passa a ser paga. A medida tem “razões económicas” perante a concorrência e o crescimento cada vez mais lento de novas assinaturas, e também é um convite a quem faça “partilha casual” — ou seja converter em assinantes novos ou em “contas secundárias” a render mais 3,99 euros “pessoas que poderiam pagar mas não precisam quando ‘pedem emprestada’ a conta de outrem”, como explicava em Janeiro um dos CEO da empresa, Greg Peters. Os seus concorrentes, para já, não assumem a mesma intenção.
O PÚBLICO questionou quarta-feira à noite a os principais concorrentes da Netflix presentes no mercado português, sobre se pretendem estabelecer limites à partilha de contas fora do domicílio do titular da conta principal, e aguarda resposta. A HBO Max diz ao PÚBLICO: "Não temos informações nesse sentido". A Walt Disney Company respondeu apenas dizendo que "não tem comentários a fazer".
Internacionalmente alguns destes operadores já foram esclarecendo que, em suma, não planeiam seguir por este caminho. Pelo menos para já.
Saber quais são as plataformas de streaming mais utilizadas em Portugal é um dado que, actualmente, depende de ferramentas como o BStream, o barómetro de streaming da Marktest que a empresa de estudos de mercado e audiência criou há um ano. Segundo os seus números de Outubro de 2022, e que medem a notoriedade de um serviço, a Netflix continuava a ser a mais reconhecida (77,6%), seguida pela Disney+ (56,5%), HBO Max (50,6%), Prime Video (50,4%) e Nos Play (47,1%). Na altura, 32,9% dos portugueses com mais de 15 anos residentes em Portugal Continental subscreviam um serviço de streaming, mas a intenção de assinar um novo serviço — em vésperas da chegada de novas plataformas como a SkyShowtime, por exemplo —, sofria já uma ligeira quebra (menos 1,2%).
Internacionalmente, o que já se sabe é que a HBO Max informou que já tem um mecanismo mensal de controlo sobre a utilização do seu serviço e que as suas regras de utilização já contêm formas de evitar que necessite de uma medida como a anunciada pela Netflix. Mas não fecha a porta a novas medidas, apesar de a representação portuguesa ter dito ao PÚBLICO que não há informação sobre qualquer iniciativa no futuro próximo.
O CEO da AT&T, a proprietária da HBO Max, disse em Abril do ano passado que o serviço já teve isso em conta “na forma como construiu o produto”. Numa chamada com os investidores, contrapôs: “Demos flexibilidade suficiente aos utilizadores mas não queremos ver um abuso descontrolado”. Ainda assim, diz que o acordo de utilização tem termos e condições claros sobre como usar o serviço. “Temo-lo feito cumprir.” E detalha: “Num qualquer mês observamos activamente como é que um qualquer utilizador usa o produto… Penso que é a forma correcta para a indústria ser gerida e penso que talvez ajustemos algumas práticas com o tempo”.
O preço por uma assinatura HBO Max em Portugal é de 5,99 euros por mês ou 46,99 euros por ano e permite adicionar até cinco utilizadores autorizados, “limitados a membros da sua família ou agregado familiar”. Nos EUA, o serviço aumentou recentemente os preços mas a comunicação em Portugal disse ao PÚBLICO que tal não estava previsto para o mercado nacional.
No caso da Amazon Prime Video, que é um subserviço de uma modalidade premium do site de compras que permite entregas mais rápidas, por exemplo, os seus termos e condições e as suas páginas de ajuda ao utilizador definem um “Amazon Household”, ou seja um lar e uma conta que permite partilhar os benefícios de uma conta com “outro adulto, com adolescentes e crianças” — até quatro adolescentes e até quatro crianças. Este uso tem de ser agregado no Amazon Household. Fora dessa fórmula, há a possibilidade de fundir contas e adicionar utilizadores de forma gratuita.
A Prime Video está disponível em Portugal por 4,99 euros mensais ou 49,90 euros anuais.
A Disney+ tem sido menos faladora sobre a questão da partilha de contas, constando nos seus termos de utilização em Portugal que se podem criar vários perfis na mesma conta — sete no total. A plataforma define cada um desses utilizadores como “membro da sua família”. Por mês, o custo do serviço é de 8,99 euros e 89,90 euros no caso de uma assinatura anual.
Em Espanha e em Abril de 2022, alguns assinantes da Disney+ terão recebido um inquérito por email em que se pergunta “porque partilhas a tua conta Disney+ com pessoas fora do teu domicílio”, tentando apurar as motivações. O tema foi noticiado pela imprensa espanhola especializada, mas não gerou comentários da Disney.
Uma assinatura Netflix custa 7,99 euros por mês na modalidade básica (um só dispositivo), 11,99 euros do tipo standard por uso em dois dispositivos em simultâneo e opção de adicionar 3,99 euros por uma conta secundária e 15,99 euros por mês para a modalidade premium que permite uso simultâneo em quatro dispositivos e dois membros extra por mais 3,99 euros.
O preço a pagar pelas novas alíneas de preço e partilha é admitido pela empresa, que conta com algumas desistências iniciais mas depois espera ver regressar utilizadores que valorizem o serviço. Para a Netflix estão em causa 100 milhões de lares ou assinaturas em todo o mundo que partilham contas abusivamente, o que entre a cobrança de um extra por partilha ou a criação de novas contas de raiz poderá representar um encaixe de 1,6 mil milhões de dólares por ano, segundo números dos analistas da Cowen & Co..
Olhando para o país vizinho que também é afectado por esta medida anunciada quarta-feira, um estudo da consultora espanhola Barlovento Comunicación citado pelo diário El País indica que 61,3% dos utilizadores espanhóis partilham contas. Num estudo sobre o impacto da medida pelo analista Andrew Uerkwitz, citado pelo Yahoo Finance, 62% dos inquiridos que usam passwords alheias ou partilhadas dizem que não voltarão a ter conta Netflix; só 10% criarão uma nova conta e 35% podem substituir a Netflix, líder incontestada no mercado com 230 milhões de assinantes em 190 países e territórios, por outra plataforma.