Morreu Burt Bacharach, o compositor que “não estava, conscientemente, a tentar mudar as regras”
O premiado músico norte-americano, vencedor de três Óscares e oito Grammys, morreu na sua casa, em Los Angeles. Tinha 94 anos.
O compositor Burt Bacharach, conhecido por canções tão icónicas (e trauteáveis) como Walk on by, I say a little prayer ou Do you know the way to San Jose, morreu na quarta-feira, na sua casa em Los Angeles. A sua morte, aos 94 anos, ficou a dever-se a causas naturais, disse a agente Tina Brausam ao The Washington Post.
Nascido em 1928 em Kansas City, no Missouri, mas criado em Nova Iorque, Burt Bacharach compôs sucessivos êxitos incontornáveis da história da música pop, e também várias bandas sonoras que se tornaram lendárias, como as dos filmes O Que Há de Novo, Gatinha? (What’s New, Pussycat?, no original), Alfie e Casino Royale.
Ao longo de uma carreira de mais de 70 anos, as canções do compositor foram interpretadas por vozes ímpares da música pop do século XX como Roberta Flack, Natalie Cole, Barbra Streisand, Dionne Warwick, Dusty Springfield e Tom Jones. O êxito I say a little prayer, originalmente interpretado por Dionne Warwick, tornou-se ainda mais célebre na voz de Aretha Franklin
O nome de Burt Bacharach tornou-se uma presença assídua nas tabelas de vendas, tanto nos Estados Unidos como no Reino Unido. Na América, foram 73 as suas canções que chegaram ao top 40. No Reino Unido, foram 52.
Com o letrista Hal David (com quem manteve uma prolífica parceria de composição), o músico assinou ainda a banda sonora do clássico Dois Homens e um Destino (Butch Cassidy and the Sundance Kid, no título original) que lhe rendeu dois Óscares: o de Melhor Canção Original, por Raindrops keep fallin’ on my head, e o de Melhor Banda-Sonora.
Em 1982 voltou a vencer um Óscar de Melhor Canção Original pelo tema Arthur’s theme (Best that you can do), que compôs com Carole Bayer Sager (sua mulher na altura) para o filme Arthur.
Além dos filmes de Hollywood, o seu talento também bafejou os palcos da Broadway: foi ele a compor o musical Promises, Promises, adaptação de O Apartamento (1960), um dos mais amados filmes de Billy Wilder.
Burt Bacharach venceu um total de oito Grammys, entre os quais o de Canção do Ano por That’s what friends are for, outro monumento da sua parceria com Dionne Warwick (de resto também composto a quatro mãos com Carole Bayer Sager). Em 2008, chegou-lhe finalmente o Grammy de carreira, numa cerimónia em que foi considerado “o maior compositor vivo”. A estes prémios somaram-se ainda dois Globos de Ouro, um Emmy e um BAFTA.
Da formação em jazz ao mundo pop
Apesar de se ter convertido num nome central na história da música pop, foi no jazz que Burt Bacharach deu os primeiros passos na música. Depois de estudar violoncelo, piano e bateria, começou a integrar bandas de jazz na década de 40.
Chegou a estudar teoria musical e composição, mas viu-se obrigado a interromper o seu percurso académico para cumprir o serviço militar. Segundo a BBC, no entanto, acabou por fazer concertos de piano em várias bases militares durante o tempo de serviço.
Em 1957, chegava pela primeira vez ao número um das tabelas de vendas britânicas com a canção The story of my life, interpretada por Michael Holliday.
Na década seguinte, a parceria com Hal Davis e Dionne Warwick rendeu-lhe 39 êxitos nos Estados Unidos. Teve a sua outra grande parceira de criação em Carole Bayer Sager, com quem esteve casado durante nove anos, entre 1982 e 1991. Não foi a sua única mulher: também se casou com Paula Stewart (1953-1958), Angie Dickinson (1965-1981) e Jane Hansen (de 1993 em diante).
Talvez surpreendentemente, a última colaboração de maior sucesso de Burt Bacharach foi com o ícone do rock Elvis Costello, com quem compôs Painted from Memory, em 1998. A canção I still have that other girl, do mesmo disco, rendeu à dupla o Grammy de Melhor Colaboração Pop com Voz.
Em 2013, saía a autobiografia Anyone Who Had a Heart: My Life and Music. Oito anos dois, em 2021, seria lançado o EP Blue Umbrella (The Complete Recordings), feito em colaboração com Daniel Tashian. Acabaria por ser o último capítulo na longa carreira do compositor americano.
Com naturalidade, em 1993 Burt Bacharach explicava ao The Times que a formação clássica o tinha ajudado a “esticar e expandir”. Sobre o papel central que teve na construção do panorama pop mundial, afirmou: “Eu não estava, conscientemente, a tentar quebrar as regras, nessa altura. Tu és o que ouves.”