Fim da partilha de contas Netflix em Portugal concretiza-se a 22 de Fevereiro

Subscritores do serviço terão de definir o domicílio a que ficará vinculada a sua conta, adianta a empresa ao PÚBLICO.

Foto
Ted Sarandos, um dos presidentes da empresa, quando da entrada da Netflix em Portugal, em 2015 Daniel Rocha

À luz da nova política da Netflix, que incluiu Portugal na lista dos primeiros países onde a partilha de contas fora do domicílio do titular vai passar a ser cobrada, os utilizadores da plataforma têm agora até dia 21 para definir a localização a que a sua assinatura ficará vinculada, adiantou fonte da empresa ao PÚBLICO. Ao início desta noite, alguns assinantes depararam-se já com uma mensagem alertando para a obrigação de prestar essa informação.

Daí em diante, será preciso pagar mais 3,99 euros por mês para adicionar utilizadores que não residam no mesmo domicílio do titular da subscrição no caso da assinatura standard, esse montante extra permite acrescentar um utilizador; no caso da assinatura premium, poderão ser dois.

Desde o anúncio do novo preçário, divulgado na noite de quarta-feira, os utilizadores questionavam-se como iria processar-se a mudança. "Os subscritores têm até 21 de Fevereiro para estabelecer a sua localização principal", indicou entretanto a empresa ao final da tarde desta quinta-feira. "Os dispositivos que não fazem parte de uma residência ou localização principal, eventualmente, acabarão por ver uma mensagem no produto após essa data."

Até lá, cabe aos clientes do serviço a decisão de antecipar a indicação da sua localização principal, à qual poderão associar contas secundárias. No perfil dos utilizadores com conta standard ou premium surge já a opção de “partilhar a sua Netflix com alguém que não vive [na mesma casa], por um custo extra. A empresa sublinha que implementa as suas mudanças "lentamente e por fases" para garantir "que tudo está a funcionar correctamente".

Por enquanto, a bola fica do lado do utilizador. “Os subscritores poderão agora definir a localização da sua conta — ou seja, a localização habitual onde estes e as pessoas com quem vivem assistem à Netflix através de múltiplos dispositivos”, lê-se na resposta enviada ao PÚBLICO por email. A empresa recorrerá aos dados informáticos de que dispõe para verificar se há partilha com outros domicílios? “Utilizamos informações tais como endereços IP, identificadores de dispositivos, e actividade da conta a partir de dispositivos ligados à conta Netflix (essencialmente as mesmas informações que utilizamos para fornecer o nosso serviço).”

Da página do serviço consta já, de resto, esta indicação: “Se não for definida [pelo utilizador] localização principal, definiremos uma automaticamente com base na morada IP, identificação de dispositivos e actividade da conta.”

Sobre se existirá algum tipo de barreira à entrada na plataforma, a mesma fonte acrescentou apenas que “não existem códigos” para resolver potenciais situações de bloqueio de contas — como circulou numa informação tornada pública pela própria empresa na semana passada, que foi entretanto corrigida e não dizia respeito a Portugal.

A empresa insiste na garantia, expressa no comunicado de quarta-feira, de que as novidades não terão impacto na utilização do serviço em viagem. “Os subscritores que têm uma segunda casa ou viajam frequentemente para o mesmo local devem abrir a aplicação Netflix num dispositivo pessoal enquanto estão ligados à rede Wi-Fi na sua localização principal uma vez por mês, e depois quando chegam à segunda localização, para tornar as viagens mais fáceis e sem problemas”, indica a empresa, que fornece um link no perfil de cada utilizador para que este defina a sua localização principal. Segundo a informação preliminar avançada na quarta-feira, os clientes do serviço poderão continuar a usar a plataforma ou iniciar sessão num televisor num hotel, por exemplo.

Quanto à eventual entrada em Portugal da modalidade de assinatura mais barata mas com publicidade, a Netflix diz nada ter a acrescentar sobre o tema.

O serviço de streaming dominante no mercado está actualmente presente em 190 países e territórios e tem 230 milhões de assinantes, mas a empresa não revela números de subscritores por país.

"Um empurrãozinho"

Foi em Maio do ano passado que a Netflix fez o primeiro aviso de que pretendia combater a partilha abusiva de contas. Após um período de testes em vários países da América Latina, nas últimas semanas o Peru, o Chile e a Costa Rica foram abrangidos pelas alterações, tendo esta quarta-feira chegado a vez de dois pequenos mercados – Portugal e Nova Zelândia – e de outros dois de maior dimensão – Espanha e Canadá.

A medida tem “razões económicas”, perante a concorrência de novos serviços de streaming nos últimos anos, que afectou o crescimento da Netflix, explicava em Janeiro um dos presidentes da empresa, Greg Peters numa conversa com os investidores. “Mas parte [da motivação] é aquilo a que chamamos partilha casual, [situações em] que as pessoas poderiam pagar mas não precisam porque ‘pedem emprestada’ a conta de outrem”, acrescentou na altura, descrevendo que a empresa daria “um empurrãozinho” aos assinantes que usam a plataforma à boleia de terceiros criando “modalidades que tornem a transição para as suas próprias contas fácil e simples”.

A empresa antecipa que as novas regras, a que chama "funcionalidades", gerem algumas desistências no primeiro trimestre deste ano, mas espera, com base na experiência da América Latina, conseguir recuperar espectadores numa segunda fase. "À medida que os lares que pedem contas emprestadas comecem a activar as suas próprias contas individuais e que as contas secundárias forem adicionadas, esperamos ver melhorias gerais nas receitas”, dizia a Netflix na sua carta aos investidores em Janeiro último.

Segundo a empresa, estão em causa 100 milhões de lares que partilham contas abusivamente mundo fora. Entre a cobrança de um extra pela partilha e a criação de novas contas de raiz, a medida poderá representar um encaixe de 1,6 mil milhões de dólares por ano para a Netflix, segundo os analistas da Cowen & Co citados há um ano pela revista Variety.

Em Espanha, o diário El País cita um estudo da consultora local Barlovento Comunicación que indica que 61,3% dos utilizadores daquele país partilham contas. Num outro estudo sobre o impacto do combate à partilha de contas feito pelo analista Andrew Uerkwitz, e citado pelo Yahoo Finance, 62% dos inquiridos que usam passwords alheias ou partilhadas dizem que não voltarão a ter conta Netflix caso a partilha deixe de ser possível; só 10% criarão uma nova conta e 35% podem substituir a Netflix por outra plataforma.

O PÚBLICO questionou os principais concorrentes da Netflix em Portugal sobre se pretendem introduzir medidas similares. A HBO Max respondeu que não tem "informações nesse sentido"; a Walt Disney Company, dona da Disney+, e a Amazon Prime Video escusaram-se a comentar.

PÚBLICO -
Aumentar

Em Portugal, uma assinatura mensal da HBO Max custa 5,99 euros e a versão anual 46,99 euros, permitindo adicionar até cinco utilizadores autorizados, “limitados a membros da família ou do agregado familiar”. A Amazon Prime Video custa 4,99 euros mensais ou 49,90 euros anuais e o titular da conta pode partilhá-la com outro adulto e até quatro adolescentes e quatro crianças dentro do mesmo “Amazon Household”; fora dele, é possível fundir contas e adicionar utilizadores de forma gratuita. A Disney+ prevê a criação de sete perfis na mesma conta, todos “membros da família”, por 8,99 mensais ou 89,90 euros anuais.

A Netflix disponibiliza, por sua vez, três modalidades de subscrição: uma assinatura básica que custa 7,99 euros por mês, uma assinatura standard que sobe aos 11,99 euros, e uma assinatura premium no valor de 15,99 euros.

Segundo o BStream, o barómetro especializado da Marktest, em Outubro de 2022 32,9% dos portugueses com mais de 15 anos residentes em Portugal Continental subscreviam um serviço de streaming. A Netflix era o mais reconhecido (77,6%), seguida pela Disney+ (56,5%), pela HBO Max (50,6%), pela Amazon Prime Video (50,4%) e pela Nos Play (47,1%).

Notícia actualizada às 21h30 com indicação de novos alertas do serviço aos seus assinantes

Sugerir correcção
Ler 5 comentários