Investigadores portugueses criam sistema para apoiar resposta a catástrofes naturais

Projecto usa inteligência artificial e drones para apoiar equipas que estão no terreno a responder a catástrofes naturais, como incêndios ou inundações, mas também pode ser útil em caso de sismos.

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O sistema foi pensado para responder a situações de emergência de uma forma genérica. "Vai apenas ser validado em cenários de incêndio florestal (em Portugal) e de cheias (na Polónia)" Reuters/DADO RUVIC

Uma equipa de investigadores do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc Tec) integra um projecto que, com recurso a inteligência artificial, visa desenvolver um sistema para apoiar os operacionais na gestão do combate a catástrofes naturais.

Em comunicado, o instituto do Porto esclarece que o projecto, intitulado Overwatch, pretende responder à necessidade de "abordar com o máximo de eficácia as catástrofes naturais que se têm registado na Europa com cada vez maior frequência".

Liderado pela empresa italiana Ithaca, o projecto conta com 10 parceiros de cinco países europeus (Portugal, Itália, Polónia, Dinamarca e Alemanha). Em Portugal, além do Inesc Tec, participa o ISQ - Centro de Interface e Tecnologia e o Centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação da Academia Militar (Cinamil).

Fruto de um investimento de três milhões de euros, o projecto vai, até 2026, desenvolver um "sistema holográfico integrado" para apoiar os operacionais na gestão dos meios de combate a incêndios e inundações, recorrendo a inteligência artificial.

Citado no comunicado, o presidente do ISQ, Pedro Matias, destaca que este novo sistema "irá permitir analisar e consolidar dados recebidos através da observação da Terra e por veículos aéreos não tripulados ("drones")", identificando "zonas alvo de catástrofe naturais" e "auxiliar na busca e salvamento".

"Os algoritmos de inteligência artificial serão, no fundo, utilizados no processamento de dados, permitindo delimitar frentes de incêndio ou água, identificar pontos de água e contribuir para a disponibilização, ao utilizador, de ferramentas de ajuda à decisão", esclarece Pedro Matias, acrescentando que o intuito é fornecer "informação relevante e mais detalhada" a quem está no terreno para que a decisão seja "mais rápida" e a gestão dos meios disponíveis "mais eficiente".

Incêndios, inundações e também sismos

De acordo com o instituto do Porto, Portugal será "palco" de duas demonstrações do sistema Overwatch, nas quais está prevista a simulação de um incêndio florestal e a resposta das equipas de combate.

O sistema foi pensado para responder a situações de emergência de uma forma genérica. "Vai apenas ser validado em cenários de incêndio florestal (em Portugal) e de cheias (na Polónia)", refere ao PÚBLICO uma fonte do gabinete de comunicação Inesc Tec, questionado sobre a possibilidade de usar esta ferramenta num cenário de sismo.

"As tecnologias desenvolvidas no âmbito do projecto, como o sistema de realidade aumentada, mapeamento da zona afectada através de informação de satélite, os algoritmos de inteligência artificial, os drones e mesmo o sistema de comunicações backhaul [uma rede hierárquica de telecomunicações] podem, em teoria, ser usadas em qualquer situação de emergência, incluindo sismos", acrescentam os responsáveis pelo projecto.

Porém, acrescentam: "O grau de aplicabilidade e a eficácia do sistema ou de alguns dos seus componentes individuais é que pode variar. Porque depende também da infra-estrutura local, da área que é atingida e da localização da mesma." No caso de um sismo, por exemplo, esta ferramenta poderá ser útil se os drones forem usados para "ter um mapa da área afectada com reconstrução 3D de uma forma quase imediata". Tudo depende dos requisitos operacionais das equipas de emergência, afirmam os investigadores.

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Hugo Silva, investigador no Inesc Tec DR

Complementar rede de emergência

Também citado no comunicado, o gestor de projectos do ISQ, Nelson Matos, acrescenta que o objectivo do sistema é "fornecer informação actualizada, detalhada e interactiva" de forma atempada aos responsáveis pela decisão no combate e mitigação das catástrofes naturais.

Já o investigador Hugo Silva esclarece que, no âmbito do projecto, o Inesc Tec será responsável por desenvolver "um sistema de comunicações móvel que utiliza um "drone tethered" e uma ligação de banda larga via satélite, como forma de fornecer serviços de comunicações (wi-fi e 5G) às equipas de emergência e ao sistema Overwatch em caso de falha das comunicações".

Este sistema, acrescenta Hugo Silva, "pretende complementar a rede de emergência", ao introduzir "a utilização de plataformas robóticas para recolha massiva e automatizada de informação, e o suporte à operação de sistemas holográficos para melhor reconhecimento situacional".

Financiado pelo programa Horizonte Europa, o projecto está directamente sob alçada da Agência da União Europeia para o Programa Espacial (EUSPA).