Governo quer lançar site único para comprar qualquer bilhete de transporte no país
Ministro do Ambiente e da Acção Climática foi chamado ao parlamento para falar sobre os problemas na travessia do Tejo e admitiu: “Não temos alternativa, temos de pedir desculpa às pessoas”.
Umbilhete.pt é o nome ainda provisório da plataforma online através da qual o Governo espera que seja possível adquirir títulos de transporte para todo o país. Vai começar com um protocolo que as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto vão assinar esta semana o Instituto da Mobilidade e Transportes, anunciou o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro.
O anúncio foi feito nesta quarta-feira, numa audição na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação da Assembleia da República. “Há muito trabalho feito sobre a bilhética nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto, e há muitas Comunidades Intermunicipais que querem trabalhar em conjunto, mas não há um fio condutor”, explicou o secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, também presente no Parlamento.
“O que queremos é que possa haver sinergias, uniformizar critérios, para que outras entidades possam aderir”, concluiu. O acordo que será assinado sexta-feira vai estabelecer princípios de colaboração entre empresas e outras entidades que estão a desenvolver tecnologias e suportes técnicos para a venda dos títulos de transporte, especificou Jorge Delgado.
A expectativa é que esta plataforma permita também ser um ponto de consulta para perceber os passos a dar para quem quer viajar de um ponto ao outro do país, ou passando por vários locais, especificou o secretário de Estado.
Esta é uma das iniciativas para tentar tornar os transportes públicos mais atractivos que o Governo tem em preparação. Outra é a criação de um cartão que funcionaria no modelo de um “cartão de refeição”, mas para soluções de mobilidade sustentável, que podem vir a ser viagens ferroviárias, ou partilha de bicicletas, explicou o ministro Duarte Cordeiro. Teria benefícios para empresas que desincentivem os trabalhadores do uso de transporte individual para utilizarem antes modos de transporte sustentável.
"Problemas de frota, operação e recursos humanos"
Prestar esclarecimentos sobre “as limitações e disrupções na travessia do Tejo por parte da Transtejo/Soflusa” foi o motivo avançado no pedido de audição do ministro do Ambiente e da Acção Climática nesta Comissão parlamentar, apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE) e pelo Partido Comunista Português (PCP).
A ligação fluvial entre Barreiro e Lisboa está sujeita a limitações até 10 de Fevereiro, devido ao abalroamento sofrido pelo catamarã Gil Vicente a 4 de Janeiro, com a consequente limitação da frota. Mas os problemas não se ficam por aqui.
O ministro do Ambiente reconheceu a existência de problemas na ligação fluvial entre a Margem Sul e Lisboa. “Temos de reconhecer que existe um problema na operação da Transtejo e da Soflusa, empresas que asseguram as ligações fluviais entre Lisboa e o Montijo, Barreiro, Seixal e Almada. Ao dizer isto, o Governo está a reconhecer a existência de um problema que tem trabalhado para ultrapassar em três dimensões: de frota, de operação e de recursos humanos”, disse Duarte Cordeiro, que tutela os transportes urbanos.
As supressões de carreiras nas várias ligações tornaram-se constantes – chegam a 9% do serviço, disse o ministro. “Estas supressões já passaram a fronteira daquilo que é um problema de operação, para passarem a ser uma questão de desrespeito das pessoas que dependem destes serviços”, afirmou a deputada do BE Joana Mortágua.
O deputado do PSD Nuno Carvalho disse mesmo que os habitantes da Margem Sul começam a sofrer de “um estigma”, a incapacidade de chegar a horas ao trabalho, por causa destas supressões, que acontecem de forma imprevista.
"Temos de pedir desculpa às pessoas", diz ministro
“Não temos alternativa, temos de pedir desculpa às pessoas. Tenho pessoas na minha equipa que sofrem com isso”, reconheceu o ministro. “É um problema criado por termos bastante tempo de desinvestimento nestas empresas e aí o PSD tem de assumir a sua quota de responsabilidade”, frisou.
Até ao final do ano, devem chegar quatro dos dez novos barcos eléctricos encomendados para fazer a travessia do Tejo, e o primeiro chegará ainda no fim do primeiro trimestre e deverá fazer a carreira para Cacilhas. Mas durante os primeiros meses será apenas usado para fazer formação dos maquinistas, portanto não deve dar nenhum alívio ao que é uma frota envelhecida, com avarias constantes.
Quatro outras embarcações eléctricas devem chegar em 2024, e outra em 2025, precisou o ministro. “O primeiro posto de carregamento para os navios deve estar pronto em Junho/Julho e os restantes até ao final do ano”, acrescentou Duarte Cordeiro.
O ministro disse esperar que o serviço comece a melhorar a partir de Fevereiro, mas até chegarem os novos navios eléctricos para fazer a travessia do Tejo, a única hipótese é fazer os possíveis com a frota existente, que está abaixo das necessidades mínimas para assegurar o serviço.
Embarcações insuficientes
“Para Cacilhas, precisamos de ter cacilheiros em operação, e um de reserva, mas só temos dois. Teremos três em Maio e quatro em Junho”, previu o ministro. “Para o Montijo e Seixal, necessitamos de ter dois navios mais um de reserva. Temos só dois, nenhum de reserva. Até ao fim do ano contamos ter os três que são estritamente necessários”, adiantou Duarte Cordeiro.
“Para a Trafaria é preciso ter um navio a operar e outro de reserva, e neste momento só temos um. Para o Barreiro são necessários 6 navios mais um, temos cinco em Fevereiro. O catamarã Gil Vicente poderá ficar operacional em Abril. É uma operação muito apertada”, frisou.
“É difícil que a manutenção chegue a nível pior do que o actual. Se não conseguimos ter alguma folga, para fazer manutenções programadas, isso tem consequências. Estamos a lidar com as consequências de ter uma frota envelhecida”, sublinhou Duarte Cordeiro.
Em resposta a uma pergunta do deputado do PCP Bruno Dias, o ministro salientou que a Transtejo/Soflusa está a sofrer os efeitos de grandes cortes feitos desde 2011 e até 2016. “Em 2011, as duas empresas juntas tinham 500 trabalhadores. Agora têm 430, e a expectativa é que possamos chegar a 462, ainda assim abaixo do que existia em 2011”, disse Duarte Cordeiro.
Conquistar para os transportes colectivos
Os transportes públicos ainda enfrentam os efeitos da pandemia – “quando o país parou, mas os transportes continuaram a andar”, afirmou Duarte Cordeiro. Deu um exemplo: “A Soflusa transportou em 2022 16 milhões de passageiros, o que representa um aumento de 48% em relação ao ano anterior. Ainda assim, isto é 18% inferior ao número de passageiros transportados em 2019”.
O desafio é fazer as pessoas acreditar nos transportes públicos, disse o ministro do Ambiente e da Acção Climática, salientando que há 4500 milhões para investir na mobilidade [desde 2015 e até ao final da década], “Isto é inédito”, afirmou.
“Temos de seguir por um caminho de maior oferta, maior previsibilidade do serviço. É por aqui que se reconquistam as pessoas para os transportes colectivos”. Isto será importante para Portugal alcançar o objectivo de acelerar para 2045 o objectivo de atingir a neutralidade carbónica, o sector dos transportes deverá reduzir as suas emissões em 40% até 2030, tendo ponto de referência 2005. Os transportes representam cerca de 28% das emissões de gases com efeito de estufa portuguesas.