Países rivais unidos no socorro às vítimas do sismo na Turquia

O salvamento de uma menina, na proíncia de Hatay, por uma equipa de socorristas gregos e turcos causou comoção.

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Avião com equipa de socorristas gregos aterra na base de Incirlik GEORGE VITSARAS/EPA

Contactos entre países que há muito trocavam acusações, salvamentos por equipas mistas, ajuda de países com profundas discórdias recentes: o violento sismo na Turquia e na Síria desta segunda-feira levou a aproximações inesperadas na ajuda – embora também a desmentidos.

Esta terça-feira, imagens de uma operação de salvamento nos escombros de um prédio na província de Hatay foram transmitidas pela televisão estatal grega ERT, e começaram com más notícias: a equipa encontrou o corpo de uma menina de sete anos, conta o diário grego Kathimerini. Mas logo a seguir, um socorrista turco ouviu a irmã, de seis anos, e a equipa conseguiu retirá-la, com vida, dos escombros. Os socorristas, turcos e gregos, bateram palmas, uns estavam em lágrimas, outros abraçaram-se.

A cena é digna de nota porque os desentendimentos entre Turquia e Grécia, que já são antigos, têm-se agudizado nos últimos tempos. Em Maio, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou em relação ao primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis: “Para mim, já não existe”. Erdogan tem ameaçado a Grécia, dizendo, em Setembro do ano passado na cimeira do G20, que poderia invadir o país, “de repente, numa noite”. E num encontro em Praga pouco depois, Erdogan e o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, terão tido um desentendimento durante o jantar dos líderes, segundo relataram na altura os media gregos.

Mas na segunda-feira, Mitsotakis telefonou a Erdogan para oferecer ajuda da Grécia, no primeiro contacto directo entre os dois (com excepção de encontros multilaterais) desde Março de 2020, segundo o site Greek Reporter.

A Grécia e a Turquia têm, apesar da animosidade antiga, uma tradição de se ajudar mutuamente quando há sismos num dos países.

Menos comum é a imagem de um avião israelita ao lado de um iraniano, o que deu origem a um texto do diário Times of Israel: “Ajuda à Turquia leva os inimigos Israel e Irão a aterrarem aviões lado a lado”.

O avião, de uma companhia subsidiária da El Al, levava sobretudo voluntários da organização de resposta de emergência United Hatzalah e, depois de aterrar em Gaziantep,​ ficou estacionado próximo de um avião militar iraniano que levava também ajuda. O Irão não reconhece a existência do Estado de Israel, a quem chama “regime sionista”, e Israel vê o Irão como a ameaça número um”.

No grupo estava também um avião do Qatar – que não tem relações diplomáticas com Israel, mas que permitiu voos directos na altura do Mundial de futebol – que transportou 120 socorristas, diz ainda o Times of Israel.

Entre os países que enviaram ajuda à Turquia está ainda a Suécia, que Erdogan tem vindo a pressionar para que extradite activistas curdos, ameaçando não aprovar a sua entrada na NATO enquanto isso não acontecer.

Se mais de 45 países estão a enviar ajuda à Turquia, a Síria está a receber muito menos promessas de apoio. Uma excepção foi um anúncio de Israel, ainda na segunda-feira, de que iria responder a um pedido de auxílio do regime de Bashar al-Assad, que teria sido feito através da Rússia – no que resultaria numa cooperação sem precedentes entre os dois países, sublinha o diário Haaretz.

De Damasco, no entanto, vários media do regime negaram que tivesse sido feito qualquer pedido de ajuda. Não se espera que o regime faça chegar ajuda às zonas mais afectadas, que estão sob controlo rebelde, e o sismo destruiu as estradas de acesso a partir da Turquia, segundo o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.​

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