Países rivais unidos no socorro às vítimas do sismo na Turquia
O salvamento de uma menina, na proíncia de Hatay, por uma equipa de socorristas gregos e turcos causou comoção.
Contactos entre países que há muito trocavam acusações, salvamentos por equipas mistas, ajuda de países com profundas discórdias recentes: o violento sismo na Turquia e na Síria desta segunda-feira levou a aproximações inesperadas na ajuda – embora também a desmentidos.
Esta terça-feira, imagens de uma operação de salvamento nos escombros de um prédio na província de Hatay foram transmitidas pela televisão estatal grega ERT, e começaram com más notícias: a equipa encontrou o corpo de uma menina de sete anos, conta o diário grego Kathimerini. Mas logo a seguir, um socorrista turco ouviu a irmã, de seis anos, e a equipa conseguiu retirá-la, com vida, dos escombros. Os socorristas, turcos e gregos, bateram palmas, uns estavam em lágrimas, outros abraçaram-se.
A cena é digna de nota porque os desentendimentos entre Turquia e Grécia, que já são antigos, têm-se agudizado nos últimos tempos. Em Maio, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, declarou em relação ao primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis: “Para mim, já não existe”. Erdogan tem ameaçado a Grécia, dizendo, em Setembro do ano passado na cimeira do G20, que poderia invadir o país, “de repente, numa noite”. E num encontro em Praga pouco depois, Erdogan e o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, terão tido um desentendimento durante o jantar dos líderes, segundo relataram na altura os media gregos.
Mas na segunda-feira, Mitsotakis telefonou a Erdogan para oferecer ajuda da Grécia, no primeiro contacto directo entre os dois (com excepção de encontros multilaterais) desde Março de 2020, segundo o site Greek Reporter.
A Grécia e a Turquia têm, apesar da animosidade antiga, uma tradição de se ajudar mutuamente quando há sismos num dos países.
Menos comum é a imagem de um avião israelita ao lado de um iraniano, o que deu origem a um texto do diário Times of Israel: “Ajuda à Turquia leva os inimigos Israel e Irão a aterrarem aviões lado a lado”.
O avião, de uma companhia subsidiária da El Al, levava sobretudo voluntários da organização de resposta de emergência United Hatzalah e, depois de aterrar em Gaziantep, ficou estacionado próximo de um avião militar iraniano que levava também ajuda. O Irão não reconhece a existência do Estado de Israel, a quem chama “regime sionista”, e Israel vê o Irão como a “ameaça número um”.
No grupo estava também um avião do Qatar – que não tem relações diplomáticas com Israel, mas que permitiu voos directos na altura do Mundial de futebol – que transportou 120 socorristas, diz ainda o Times of Israel.
Entre os países que enviaram ajuda à Turquia está ainda a Suécia, que Erdogan tem vindo a pressionar para que extradite activistas curdos, ameaçando não aprovar a sua entrada na NATO enquanto isso não acontecer.
Se mais de 45 países estão a enviar ajuda à Turquia, a Síria está a receber muito menos promessas de apoio. Uma excepção foi um anúncio de Israel, ainda na segunda-feira, de que iria responder a um pedido de auxílio do regime de Bashar al-Assad, que teria sido feito através da Rússia – no que resultaria numa cooperação sem precedentes entre os dois países, sublinha o diário Haaretz.
De Damasco, no entanto, vários media do regime negaram que tivesse sido feito qualquer pedido de ajuda. Não se espera que o regime faça chegar ajuda às zonas mais afectadas, que estão sob controlo rebelde, e o sismo destruiu as estradas de acesso a partir da Turquia, segundo o Gabinete para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU.