Marcelo pede desculpa a imigrante agredido em Olhão
O chefe de Estado insistiu que “não há nada que justifique esse tipo de tratamento desumano, antidemocrático e criminoso, que não pode ser aceite na sociedade portuguesa”.
O Presidente da República pediu desculpa esta segunda-feira ao imigrante nepalês que foi agredido em 25 de Janeiro último em Olhão, considerando que “não há justificação” para aquele acto.
“Não há justificação para a agressão de que foi vítima e eu pedi-lhe desculpa por isso”, disse o Presidente aos jornalistas, em Olhão, depois de um breve encontro com dois imigrantes agredidos nos últimos dias, sendo um deles o que foi atacado a 25 de Janeiro.
O chefe de Estado insistiu que “não há nada que justifique esse tipo de tratamento desumano, antidemocrático e criminoso, que não pode ser aceite na sociedade portuguesa”.
Marcelo Rebelo de Sousa congratulou-se porque a pessoa em causa “já tem número de contribuinte” e “já pode trabalhar a título precário”, mas alertou que “ainda tem problemas de saúde” e tem de recuperar.
“Neste momento a Câmara [de Olhão] vai tratar do enquadramento em termos de acção social e, por outro lado, ele está disponível para trabalhar quer na restauração quer para a construção civil”, afirmou o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa deu na manhã de segunda-feira uma aula aos alunos da Escola Secundária Dr. Francisco Fernandes Lopes, em Olhão, antes do encontro com o imigrante agredido.
O Presidente da República defendeu que os portugueses têm “a obrigação de perceber melhor” o que sentem os imigrantes quando chegam ao país, uma vez que Portugal é tradicionalmente um país de emigrantes.
“Nós temos a obrigação de perceber melhor, porque outros países europeus não têm tradição de emigração. Como é que nós não compreendemos o que outros sentem cá?”, indagou Marcelo Rebelo de Sousa numa aula a alunos do ensino secundário, dias depois de terem sido tornadas públicas as agressões ao imigrante nepalês, por um grupo de jovens, naquela cidade.
A acompanhar Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Câmara de Olhão, António Miguel Pina, confirmou que a edilidade vai “acompanhar” este imigrante, nomeadamente na busca de um emprego, depois de recuperar fisicamente da agressão de que foi vítima.
Por outro lado, António Miguel Pina, mostrou-se convencido que este foi “um caso isolado de um grupo de jovens”, não havendo “nenhuma percepção de insegurança no concelho” nem preocupações sobre a existência “de uma atitude generalizada de repulsa perante os imigrantes”.
O presidente da autarquia também gostava ainda de saber o que se passa do ponto de vista da saúde mental dos jovens.
“Tanto quanto sabemos não são muito carentes do ponto de vista económico, são de famílias mais ou menos estruturadas, o que nos leva a crer que isto é um misto de diversão e de exaltação das suas raivas”, disse António Miguel Pina, acrescentando ser “preciso saber o que é que se passa do ponto de vista de saúde mental” dos jovens agressores e se haverá “mais problemas escondidos”.
Um grupo de jovens agrediu o imigrante nepalês em 25 de Janeiro, tendo o caso sido conhecido após a partilha de um vídeo nas redes sociais, onde o imigrante surge caído no chão, em posição defensiva, a tentar proteger-se de pontapés, murros e pauladas desferidos pelos agressores, cujos rostos não são bem visíveis, por estarem com capuzes.
As agressões ao imigrante estão a ser investigadas pela PSP e o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, disse no sábado que foi identificado “um núcleo de pessoas que estavam nesse grupo que agrediu de forma bárbara” o cidadão, adiantando que a PSP está a realizar diligências em conjunto com o Ministério Público para reunir informação que permita responsabilizar os autores da agressão.
O ministro da Administração Interna adiantou, ainda, que a PSP detectou “outras circunstâncias equivalentes àquelas que se verificaram com este jovem”, notando que as investigações estão em “fase avançada”.
Além das reiteradas agressões, o grupo também roubou a mochila da vítima, que não apresentou queixa, enquanto esta suplicava para que parassem de o agredir e lhe devolvessem, pelo menos, os documentos que guardava na mochila.
A investigação está também a tentar determinar quantos elementos compunham o grupo e qual o envolvimento de cada um deles nos crimes cometidos.