Da terra alemã “onde nada acontecia” para o mundo. Quem é Kim Petras, a artista trans que marcou os Grammys?

Na 65.ª edição dos Grammys, Kim Petras tornou-se a primeira artista abertamente trans a vencer o Grammy de Melhor Colaboração Pop com o tema Unholy que protagonizou com Sam Smith.

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Kim Petras venceu o Grammy pela participação no tema "Unholy" de Sam Smith Recording Academy/GRAMMYs / Facebook

"Muitas pessoas não acreditavam que eu podia ser uma grande compositora ou supertalentosa e ser trans. E eu só quero provar que essas pessoas estão erradas", afirmava Kim Petras à Paper, em 2017. Cinco anos depois, de Grammy na mão, cumpriu-se o sonho.

Na madrugada de 6 de Fevereiro, Kim Petras tornou-se na primeira artista abertamente trans a receber o Grammy de Melhor Colaboração Pop pelo tema Unholy que protagonizou com Sam Smith.

Ao aceitar o prémio, Sam Smith passou o microfone para a mão de Petras e deu uns passos atrás. "Sam queria que eu recebesse este prémio porque sou a primeira mulher [abertamente] trans a vencê-lo", afirmou. Durante o discurso, Petras agradeceu aos activistas trans e aos pioneiros da comunidade como Wendy Carlos primeira mulher trans a ser premiada nos Grammys, em 1970, pelo disco Switched-on-Bach e SOPHIE, artista falecida há dois anos, amiga de Petras.

Agradeceu ainda a Madonna, por "lutar pelos direitos LGBTQ", e à mãe, pelo apoio: "Nasci perto de uma auto-estrada no meio de nenhures na Alemanha e a minha mãe acreditava que eu era uma rapariga e eu não estaria aqui sem ela e o seu apoio."

Nos bastidores, segundo a BBC, Kim Petras desabafou ainda sobre toda a gente que, por ser uma artista trans, lhe disse que "seria uma artista de nicho" e que a música que fizesse "só iria passar em discotecas gay". "Agora tenho um Grammy por fazer música de discoteca gay com o meu amigo", celebrou.

Sonhava desenhar montanhas-russas

Kim Petras nasceu em 1992 em Colónia, na região alemã da Renânia, onde segundo afirmou Petras em entrevista ao site Nasty Galaxy não havia "nada a acontecer".

Em criança sonhava fazer carreira a criar montanhas-russas e diversões para parques temáticos. No entanto, chegada a adolescência, começou a escrever canções no quarto. Quando se cruzou com um documentário sobre o compositor sueco Max Martin, o objectivo de se tornar uma estrela pop tornou-se real.

Para Petras, a música sempre foi importante como escape. Ao portal Nasty Galaxy contou que, na adolescência, via videoclipes para "esquecer" que não era popular e que não tinha muitos amigos. Esta experiência transbordou para o trabalho que viria a fazer: "É essa a minha inspiração. Quero fazer música que te deixa esquecer os teus problemas e escapar por uns minutos."

Em 2013, mudou-se para Los Angeles para começar a carreira e quatro anos depois já gozava de sucesso comercial. O single de estreia I Don't Want It At All, produzido por Dr. Luke, chegou ao topo do Spotify Global Viral 50 Chart e o vídeo ficou famoso por contar com a participação de Paris Hilton.

Ainda em 2017, acabaria por colaborar com Charli XCX no tema Unlock It, da mixtape Pop 2 (que viria a ser considerado o 40.º melhor disco da década pelo site de música Pitchfork).

Em 2022, com a canção que lhe deu o Grammy, Unholy, Kim Petras tornou-se também a primeira artista trans a chegar ao topo da tabela Billboard.

A mais jovem a realizar cirurgia

Antes da fama no universo pop, em 2009 o nome de Kim Petras surgia em vários jornais. Com 16 anos, a artista era noticiada como a pessoa mais jovem de sempre a realizar cirurgia de reatribuição sexual.

"Perguntaram-me se agora me sinto uma mulher, mas a verdade é que sempre me senti uma mulher. Simplesmente acabei no corpo errado", afirmava ao Telegraph em Fevereiro de 2009.

Apesar de realizar a cirurgia aos 16 anos, tinha começado a fazer terapia hormonal quatro anos antes, aos 12. Durante o processo, os pais tiveram um papel importante, pelo apoio que deram à jovem adolescente. Ao jornal inglês, o pai Lutz afirmou: "Estou muito orgulhoso do que ela conquistou. Como ela conseguiu e como ela se mantém fiel aos seus sonhos, apesar do quão difíceis ou dolorosos seja segui-los."

E, então com 16 anos, completava Kim Petras: "Sei que por causa do meu passado, as pessoas vão sempre puxar o assunto [facto de ser pessoa trans]. Mas eu espero que um dia eu possa ser melhor conhecida por outra coisa, como a minha música."

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